Pão: seus amigos e familiares vão criticá-lo por eliminar o glúten (Reprodução)
Da Redação
Publicado em 10 de março de 2014 às 15h07.
Última atualização em 13 de março de 2017 às 17h41.
Mais pessoas que nunca estão comprando, preparando e consumindo comida sem glúten -- mas nem todas precisam seguir essa dieta.
Sobram hipóteses para explicar o aumento repentino do interesse pelo modo de vida sem glúten, além do número crescente de pacientes que falam com seus médicos sobre suas preocupações com o glúten.
Quem diz isso é a Dra. Sheila Crowe, porta-voz da Associação Americana de Gastroenterologia e professora da divisão de gastroenterologia da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia em San Diego. “Não dispomos de provas para dizer se alguns têm razão e outros estão equivocados.”
Não obstante a falta de clareza científica, a alimentação sem glúten parece ter chegado para ficar, quer seja modismo para alguns ou necessidade para outros. Enquanto isso, parte da confusão pode ser esclarecida.
A seguir, nove coisas que você deve saber antes de tirar o glúten de sua alimentação.
1. Algumas pessoas precisam deixar de consumir glúten, enquanto outras apenas querem fazê-lo. Mas, para a maioria das pessoas, isso não é necessário.
Mais ou menos uma em cada 133 pessoas -- 0,75% das pessoas -- sofre da doença celíaca, uma patologia autoimune congênita que causa danos ao intestino delgado quando o doente ingere glúten.
Cerca de 0,4% das pessoas apresentam alergia ao trigo diagnosticada por médico, segundo estudo de 2006. Nessas pessoas, a resposta alérgica verdadeira ao trigo (que contém glúten) pode incluir sintomas dermatológicos, respiratórios e gastrointestinais.
Estima-se que um grupo maior de pessoas apresente a chamada “sensibilidade não celíaca ao glúten”, que pode produzir sintomas semelhantes, mas não é bem compreendida pelos especialistas. “Não conhecemos realmente o mecanismo que provoca essa sensibilidade”, diz Crowe.
De acordo com Crowe, pessoas que não apresentam sintomas também podem evitar a ingestão de glúten por razões de saúde. “Existe uma preocupação moderna de que o glúten possa não nos fazer bem”, diz a médica, algo possivelmente ligado à transição dos humanos de caçadores e coletores para agricultores, acompanhada pelo aumento dos grãos na dieta humana.
Mas, diz ela, há poucas provas de que tirar o glúten da alimentação implique em saúde melhor.
2. Se você pensa que tem a doença celíaca, deve consultar seu médico primeiro.
Antes de tomar a iniciativa de iniciar o tratamento -- ou seja, tirar o glúten de sua dieta -- “é preciso obter um diagnóstico certo”, diz Crowe. Se você estiver perdendo peso, apresentar deficiência de ferro, tiver anemia ou histórico familiar de doença celíaca, fale com o médico antes de simplesmente eliminar o glúten para ver como se sente.
3. Seus amigos e familiares vão criticá-lo por eliminar o glúten.
Possivelmente devido à repercussão provocada por celebridades que tiraram o glúten de suas dietas, amigos ou familiares bem intencionados talvez não entendam se você precisa realmente eliminar o glúten.
Seus comentários e perguntas podem ser irritantes, especialmente se focarem os prazeres dos quais você vai se privar ou se forem perguntas dando a entender que não há nada que você possa comer.
4. Você não precisará evitar todos os grãos.
O simples fato de ser um grão não significa que contenha glúten. Há muitas opções possíveis, incluindo o amaranto, milhete, trigo-sarraceno e quinua.
5. Você não vai necessariamente perder peso.
Tudo depende de como você vai tirar o glúten de sua alimentação, diz Crow. Eliminar os carboidratos refinados, como bagels, macarrão e bolachas, em favor de grãos integrais e possivelmente ainda menos alimentos processados e embalados “reduz automaticamente os carboidratos em excesso, eleva as fibras e os nutrientes e resulta em alto nível de energia”, escreveu a nutricionista Cynthia Sass na Health.com.
Mas, diz Crowe, se você substituir os produtos que contêm glúten por seus equivalentes sem glúten, é provável que consuma mais açúcar e gordura (logo, mais calorias). Só porque existem cada vez mais produtos sem glúten, isso não quer dizer que você deva consumi-los.
Ainda segundo Crowe, os doentes celíacos que tiram o glúten da alimentação com frequência ganham peso. Enquanto comiam glúten, a absorção deficiente dos nutrientes podia permitir que uma pessoa consumisse 3.000 calorias diárias sem se dar conta disso. A partir do momento em que o doente deixa de comer glúten, seu intestino delgado se normaliza, e começam a aparecer as consequências das 3.000 calorias diárias.
6. O glúten muitas vezes se oculta em lugares inesperados.
E alguns deles parecem realmente insuspeitos, como hambúrgueres vegetais ou molhos de salada. O glúten também pode estar oculto em alguns suplementos ou medicamentos. Você terá que começar a prestar atenção nos rótulos.
7. Consulte um nutricionista.
“No caso das pessoas que precisam realmente retirar o glúten da alimentação, a recomendação é procurar um nutricionista especializado em doença celíaca”, diz Crowe.
“Não existe doença celíaca light. O médico mediano não tem a) o tempo, e b) os conhecimentos necessários para orientar os pacientes quanto aos nutrientes que vão precisar, a adição de fibra e quais grãos são naturalmente isentos de glúten.”
Ainda segundo Crowe, muitas vezes obtemos nutrientes e fibras diárias de produtos fortificados e que contêm glúten, como cereais e pães, de modo que, sem uma substituição cuidadosa, as pessoas que tiram o glúten de suas dietas podem sofrer com a falta de nutrientes de vez em quando.
Um nutricionista familiarizado com as singularidades da dieta sem glúten pode propor substituições para garantir sua ingestão dos nutrientes essenciais.
8. É provável que você ainda possa frequentar seus restaurantes favoritos.
Mais restaurantes que nunca estão se dispondo a atender a necessidades dietéticas especiais, sem falar no número cada vez maior de restaurantes voltados especificamente a pessoas que evitam o glúten. De acordo com a pesquisa anual da Associação Nacional de Restaurantes, a comida sem glúten é uma das cinco maiores tendências alimentares de 2014.
9. Seus problemas de pele podem melhorar.
Muitas pessoas que têm doença celíaca constatam que sua pele melhora quando elas deixam de consumir glúten. Outras condições de pele comuns, como eczema e psoríase, também podem apresentar alguma melhora com uma dieta sem glúten, diz Crowe.
Mas ainda não foram feitas pesquisas para mostrar se as melhoras se devem especificamente à redução do glúten, à redução do trigo de modo mais geral ou à redução do consumo de alimentos processados.