Cena do filme "Excelentíssimos": um retrato do impeachment da ex-presidente Dilma na Câmara (Festival de Cinema de Brasília/Divulgação)
Marília Almeida
Publicado em 15 de setembro de 2018 às 07h00.
Última atualização em 17 de setembro de 2018 às 09h54.
São Paulo - A quase três semanas do primeiro turno das eleições 2018, a 51ª edição do Festival de Cinema de Brasília é aberta ao público neste sábado (15). Considerado o evento cinematográfico mais político do país, sua programação permite refletir sobre a situação do país e as pautas dos candidatos antes de votar nas urnas.
O diretor artístico da mostra, Eduardo Valente, conversou com EXAME sobre destaques da programação, que têm uma relação direta ou indireta com o panorama político atual. São seis filmes: "Bloqueio", "Excelentíssimos", "Nós", "A torre das donzelas", "América Armada" e "Domingo".
Enquanto quatro deles fazem parte de mostras principais, dois ("Nós" e "Excelentíssimos") fazem parte de uma mostra paralela, nomeada "Onde Estamos e Para Onde Vamos?", que será realizada neste sábado, às 14h. O intuito é mostrar diferentes aspectos da trajetória que levou o Brasil à encruzilhada político-social em que se encontra.
"Domingo" será exibido neste domingo (17). Já o filme mais diretamente ligado ao cenário político atual, "Bloqueio", retrata a greve dos caminhoneiros e participa da mostra na terça-feira (18). "América Armada" será transmitido no dia 23. "Torre das Donzelas" poderá ser visto neste sábado e domingo.
Conheça abaixo um pouco mais sobre a história dos seis filmes que serão exibidos no festival e ainda não foram lançados no circuito comercial:
Um filme geralmente demanda anos para ser produzido, desde a busca por captação de recursos até a distribuição do longa. Mas, graças à tecnologia, "Bloqueio" pôde ser produzido e editado em apenas cinco meses. Não por acaso, é o que trata do tema mais atual na programação do festival: a greve dos caminhoneiros, deflagrada em maio. "Os diretores Victória Álvares e Quentin Delaroche viram que era uma questão importante para ser debatida esse ano, então pegaram uma câmera e microfone e foram para as rodovias, mostrar o movimento por dentro", conta Valente.
Douglas Duarte, diretor do filme, decidiu ir à Câmara dos Deputados retratar o funcionamento da casa por alguns meses. Não esperava filmar também, nesse período, o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. "O documentário mostra a atuação do presidenciável Jair Bolsonaro em diversas sessões. Dessa forma, estabelece relações próximas com essa eleição", diz o diretor do festival.
O documentário de Pedro Arantes retrata a estória de cinco desaparecidos, entre eles um ativista político, que sumiu durante a ditadura militar, um índio que se perdeu em um conflito agrário e um morador de uma comunidade desaparecido após um conflito urbano. "O filme propõe enxergar o mesmo fenômeno social de diferentes ângulos. É um bom filme para se ver em um momento que alguns candidatos pregam a volta de práticas totalitárias", diz Valente.
Filmado por Susanna Lira, conta a estória do prédio em São Paulo que abrigava presas políticas durante a Ditadura Militar, 40 anos depois. Essa narrativa é feita a partir de relatos das próprias mulheres que passaram pela penitenciária feminina, que se reúnem. Uma das personagens de destaque é a ex-presidente Dilma Rousseff, retirada do poder por um processo de impeachment.
O documentário de Alice Lanari e Pedro Asbeg traça um panorama sobre a realidade contemporânea do Brasil ante a escalada da violência. Para isso, traça paralelos entre condenados à morte no Brasil, na Colômbia e no México, que resistem usando informação, conscientização e afeto. O objetivo é investigar de que maneira a presença da cultura e do acesso às armas atinge e modifica as vidas das pessoas. O acesso da população a armas para conter a violência é outro assunto em pauta nessa eleição.
Apesar de não ter uma relação direta com política, o longa, ficção de Clara Linhart e Fellipe Barbosa acontece no interior do Rio Grande do Sul, no dia 1º de janeiro de 2003, dia de posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi impedido de participar das eleições desse ano. Na história, duas famílias de classe média alta se reúnem em uma mansão rural para um churrasco, enquanto seus filhos adolescentes transformam a data em um dia especial. O filme estreou mundialmente no Festival de Veneza.
O Festival de Cinema de Brasília irá exibir 150 títulos até o dia 23 de setembro. O evento se divide entre mostras competitivas, paralelas, especiais, entre outras.
Neste ano, o evento terá atividades em 13 regiões administrativas do Distrito Federal. Além de ocupar o Cine Brasília, a programação conta com apresentações simultâneas das mostras competitivas em São Sebastião, Riacho Fundo, Sobradinho e Taguatinga. As atividades formativas ganham as cidades de Planaltina, Guará, Recanto das Emas, Ceilândia e São Sebastião, além do Plano Piloto. O festival também conta com a parceria do Cinema Voador, com programação paralela apresentada nas cidades do Paranoá, Estrutural, Brazlândia, Samambaia e Gama.
Nessa edição, o público irá eleger o Melhor Filme na categoria Júri Popular. Esta votação é feita através do aplicativo do festival, disponível para download em celulares. O usuário digita o código impresso no ingresso que dá acesso ao cinema e pode qualificar o filme exibido com uma a cinco estrelas. Para participar, o espectador deve estar em um raio de 400 metros da sala de exibição e a votação só pode ser feita em até quatro horas após o início da sessão.
Festival de Brasília do Cinema Brasileiro – 51ª edição
Quando: 14 a 23 de setembro
Confira a programação completa