Homem pensando: veja seis hábitos comuns das pessoas tímidas e como você pode aprender a fazer com que eles lhe beneficiem (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 22 de abril de 2014 às 17h12.
É provável que todos nós já tenhamos passado por um momento de timidez na vida, seja quando entramos numa festa cheia de desconhecidos ou tentamos brilhar numa entrevista de emprego.
É verdade que a timidez já foi associada a resultados negativos – características como dificuldade em manter contato olho a olho, sentimentos de humilhação e às vezes até desapego são sabidamente parte do modus operandi da pessoa tímida.
São essas características que afetam a capacidade de alguns tímidos de fazer conexões com outras pessoas, diz o professor de psicologia C. Barr Taylor, da Universidade Stanford.
“A timidez pode mantê-lo longe de muitas coisas na vida que fazem bem”, ele disse ao Huffington Post.
“As pessoas tímidas sentem uma relutância geral (em encarar situações sociais que as intimidam), de modo que há um instinto natural de olhar para longe das pessoas. Por exemplo, quando você conhece uma pessoa, talvez aperte a mão dela, mas olhe na outra direção.”
Contudo, embora a timidez muitas vezes possa ser vista como algo negativo, diz Taylor, existem maneiras de usar esse traço de personalidade para sua vantagem.
“Temos a tendência a ‘medicalizar’ tudo”, ele explica. “A timidez não deve ser vista como problema médico – é um padrão no qual você se sente desconfortável, mas é muito comum.”
Para poder atrelar o poder da timidez – e começar a enxergar alguns dos aspectos dela sob ótica positiva --, há certos comportamentos que estão ao alcance de todos nós.
A seguir, veja seis hábitos comuns das pessoas tímidas e como você pode aprender a fazer com que eles lhe beneficiem.
Os tímidos são pensadores.
As pessoas tímidas tendem a refletir internamente – muito. E, às vezes, a mente delas simplesmente não quer desligar. Mas, segundo Taylor, tanto pensar nem sempre é negativo.
“A timidez não deve ser vista como algo com o qual você não pode lidar ou que é insuperável”, ele explica.
“Acho que é bom para as pessoas não enxergá-la como impedimento, mas como uma maneira de pensar ativamente quando você entra numa situação.”
Com o avanço da tecnologia, a arte do pensamento profundo pode ter sido perdida, dando lugar à troca rápida de tarefas.
Mas deixar-se mergulhar fundo no pensamento tem vantagens. Para começar, nosso processo criativo – algo que é altamente valorizado na força de trabalho de hoje – se beneficia quando a mente corre solta.
As pessoas que são pensadoras melhores também têm mais capacidade de tomar decisões bem pensadas.
Entretanto, Taylor observa, existe uma diferença crucial entre reflexão profunda e refletir em excesso (e afligir-se demais), especialmente no caso de pensamentos sobre uma situação específica.
Às pessoas tímidas que se preocupam quando precisam enfrentar um desafio ou acontecimento específico, o psicólogo aconselha abordar a situação temível devagar, se você começar a sentir ansiedade.
Ao enfrentar aquilo que o deixa inseguro, diz Taylor, você se sentirá menos apreensivo.
“Nosso cérebro é incrível – ele se adapta bem”, diz ele. “Encarando as situações que normalmente o deixam tímido como provas e depois como sucessos, você conseguirá superar a dificuldade.”
São observadores.
As pessoas tímidas muitas vezes prestam atenção a elementos nas conversas ou no ambiente em torno que podem passar despercebidas dos outros – e depois podem fazer uso disso para criar laços sociais, diz Taylor.
“O fato de você ser tímido não quer dizer que se mantenha alheio de situações sociais. Na realidade, pode tornar-se uma fonte de força, já que você será o observador na sala.”
Os indivíduos mais reservados também possuem uma capacidade superior de entender as expressões faciais das outras pessoas.
Num estudo feito na Southern Illinois University em Carbondale, pesquisadores encontraram uma ligação entre adultos de idade universitária que eram tímidos e a capacidade de identificar expressões de tristeza e medo, melhor que as pessoas não tímidas.
“Tendemos a ter uma visão negativa dos tímidos”, escreveu a pesquisadora Laura Graves O’Haver na LiveScience, aludindo ao estudo. “Seria bom focar sobre esses lados positivos da timidez.”
São ouvintes.
Na realidade, os tímidos podem acabar sendo as melhores pessoas com quem conversar, devido ao fato de ficarem tão sintonizados com o que cada pessoa no grupo está dizendo. Enquanto a maioria das pessoas associa a timidez com o distanciamento de conversas, nem sempre é esse o caso.
Num ensaio em profundidade sobre o custo da timidez, os psicólogos Bernardo Carducci e Philip Zimbardo explicam que, embora a timidez possa “frear” uma pessoa, o ímpeto natural do tímido de absorver uma conversa pode ser seu maior ponto forte.
“Se conseguirem superar a pressão que eles mesmos se impõem para dar respostas espirituosas, os tímidos podem ser ótimos interlocutores, porque prestam atenção de fato (o difícil para eles é quando se espera que deem uma resposta). De acordo com Doreen Arcus, de Harvard, as crianças tímidas possuem empatia especial. Os pais das crianças que ela estuda lhe dizem que “mesmo quando era muito pequena a criança tímida parecia ser sensível, empática e boa ouvinte. Essas crianças parecem ser amigas ótimas, e seus amigos são muito leais a elas e as valorizam muito.”
Mesmo entre crianças, a amizade requer alguém para falar e alguém que se disponha a ouvir.
Eles se importam com o que os outros pensam a seu respeito.
Parte da razão pela qual as pessoas tímidas se sentem tão desconfortáveis em situações sociais é a preocupação avassaladora com a impressão que estão passando para as outras pessoas.
Os tímidos se importam profundamente com o que os outros pensam deles, e, se isso for tratado de modo sadio, eles podem beneficiar-se disso para formar vínculos sociais.
“É difícil ser observador, e na nossa sociedade é melhor ser ator – mas ter consciência do que pensam as pessoas à sua volta pode ser visto como um ponto forte”, diz Taylor.
“Algumas pessoas até acham a timidez atraente. Elas gostam de alguém que tenha consciência de si.”
Mas há um ponto, contudo, em que preocupar-se com as opiniões dos outros pode se tornar prejudicial, especialmente se o tímido já é envergonhado.
Mas a razão por que nos preocupamos com o que os outros pensam talvez não seja apenas um traço de personalidade – também é inerente à experiência humana.
Afinal, preocupar-se com as opiniões dos outros ilumina centros cerebrais “de recompensa”, segundo pesquisa do University College London e da universidade Aarhus, na Dinamarca.
Eles podem ficar agitados ou nervosos (mas isso é apenas um sinal de sua inteligência).
“Existe também algo chamado hipótese da carga cognitiva, que sugere que quando precisamos lidar com pensamentos ou problemas complexos descarregamos parte da carga cognitiva no movimento, desse modo liberando recursos para serem dedicados ao processo mental. Não posso afirmar que essa seja uma explicação conclusiva dos hábitos nervosos, mas essas descobertas sugerem que a movimentação nervosa pode estar ligada ao modo em que o indivíduo processa seus pensamentos e sua fala.”
Karen Pine, pesquisadora de gestos e professora de psicologia na Universidade de Hertfordshire, disse ao HuffPost que esses movimentos constantes de mãos e pernas podem ser sinal de funcionamento cognitivo aumentado.
Embora as teorias neurológicas que explicam esse tipo de movimento nervoso ainda sejam em grande medida um mistério, estudos revelam que o “hábito nervoso” conhecido pode ser ligado ao processamento mental.
Se você alguma vez já observou uma pessoa tímida torcendo as mãos, estalando os dedos ou mexendo a perna nervosamente, pode ser porque estão pensando profundamente.
Os movimentos nervosos podem não apenas ajudá-lo a pensar: estudos sugerem que podem beneficiar nossa saúde física.
Pesquisas publicadas pelo periódico Medicine & Science in Sports & Exercise constataram que movimentos – como tamborilar com os dedos sobre a mesa – podem de maneiras pequenas, nos ajudar a manter nossa boa forma física.
Um estudo de 2008 concluiu que as mulheres em forma física melhor frequentemente fazem movimentos nervosos, além de ficar em pé e caminhar ao longo do dia.
Eles nem sempre são introvertidos, mas são tão subvalorizados quanto os introvertidos.
Timidez e introversão muitas vezes são usados como sinônimos, mas não são a mesma coisa. A sociedade tende a desvalorizar tanto a introversão quanto a timidez básica, mas as duas coisas podem apresentar benefícios leves.
A timidez geral, ela argumenta, não é uma doença, mas um fenômeno biológico – e uma característica à qual não é dado o devido valor. Num artigo de opinião publicado no New York Times, a autora Susan Cain questiona a aversão que nossa cultura sente por essas características básicas de personalidade, citando o fato de muitos enxergarem a timidez leve como transtorno social e doença.
“Isso presta um grave desserviço a todos nós, porque a timidez e a introversão – ou, mais precisamente, o temperamento cuidadoso e sensível do qual ambos muitas vezes nascem – não apenas são normais, como valiosos. E podem ser essenciais para a sobrevivência de nossa espécie. [...] Mas a timidez e a introversão compartilham um status subvalorizado em um mundo que preza a extroversão. Hoje as carteiras das crianças nas salas de aula muitas vezes são dispostas em grupinhos, porque a participação no grupo supostamente conduz a melhoras no aprendizado. Em uma escola que visitei, um cartaz anunciando as 'Regras para o Trabalho em Grupo' incluía a frase: 'Não é permitido pedir ajuda à professora a não ser que todos em seu grupo tenham a mesma dúvida'. Muitos adultos trabalham para organizações que hoje dão tarefas para ser feitas por equipes, em escritórios sem paredes, para supervisores que valorizam as ‘habilidades para trabalhar com outros’ acima de qualquer outra coisa. Como sociedade, preferimos a ação e não a contemplação, assumir riscos em vez de tomar cuidado, a certeza e não as dúvidas. Estudos mostram que qualificamos pessoas que falam rapidamente e com frequência como sendo mais competentes, amáveis e até mais inteligentes que as pessoas que falam mais devagar.”