Cena de "365 Dias": barulho nas redes sociais (Divulgação/Divulgação)
Guilherme Dearo
Publicado em 18 de junho de 2020 às 15h03.
Última atualização em 5 de abril de 2021 às 15h42.
Volta e meia algum filme sem pé nem cabeça é alçado à lista dos mais vistos da Netflix, como prova o sonolento Milagre da Cela 7. O mais recente a figurar entre os dez mais assistidos da plataforma de streaming é 365 Dias, drama erótico polonês que remete a 50 Tons de Cinza e a Christian Grey. O sucesso da novidade não se deve ao roteiro, sofrível, ou às atuações, questionáveis, mas a uma velha receita: tórridas cenas de sexo.
O longa 365 dias é inspirado no primeiro volume de uma trilogia da escritora Blanka Lipinska. Gira em torno de Massimo, um mafioso italiano que, depois de presenciar o assassinato de seu pai, assume o comando dos negócios da família. Lá pelas tantas, ele decide sequestrar Laura, que viajou com o namorado da Polônia até a paradisíaca Sicília. A razão do crime, já que Massimo nem a conhece pessoalmente? É que ele a avistou depois do atentado que vitimou seu pai e que também quase lhe custou a vida. Ah, tá. Obcecado pela moça, decide raptá-la e fazer com que ela se apaixone por ele em 365 dias.
Seguem-se cenas de cárcere privado, atitudes violentas e a natural repulsa da vítima. Até o surgimento de uma previsível tensão sexual entre os dois, que remete à síndrome de Estocolmo, aquela que leva alguém a desenvolver simpatia ou até algo a mais pelo agressor. Para encurtar: Laura cede em poucos dias. Sinal verde, portanto, para cenas e mais cenas de sexo, rodadas em cenários deslumbrantes.
Condenável pelo que prega — e ainda mais em tempos de #MeToo —, o filme se beneficiou das redes sociais. Assistir televisão com o smartphone na mão virou um hábito cada vez mais praticado e muitos dos espectadores do longa compartilharam cenas dele com a hashtag #365Days. Mas as críticas nao demoraram a vir. Sites especalizados destacaram a pobreza e a violência do enredo.
Aos interessados em aumentar a audiência do filme: ele remete, é verdade, a duas obras elogiadas de Pedro Almodóvar, Ata-me! e A Pele Que Habito, que giram em torno da relação entre sequestrador e sequestrado. Mas não chega aos pés nem de um Instinto Selvagem. Até 50 Tons de Cinza, pensando bem, acaba parecendo melhor do que é.