Infantino: "há injustiças no mundo, de forma geral" (Sergei Karpukhin/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de julho de 2018 às 08h46.
Última atualização em 13 de julho de 2018 às 09h03.
Moscou - O presidente da Fifa, Gianni Infantino, classificou a Copa do Mundo de 2018 na Rússia como "a melhor jamais organizada". Com cofres repletos e sem contratempos, o evento marcou dentro da Fifa uma esperança de virada de página, depois do caos do Mundial de 2014 no Brasil e das prisões de cartolas.
Em sua coletiva de imprensa final em Moscou nesta sexta-feira, o suíço teceu amplos elogios aos organizadores russos e evitou dar respostas sobre repressão do governo local contra ativistas de direitos humanos e falta de liberdades.
"A paixão que sentimos nesse país desde o começo da Copa foi especial", disse. "Há alguns anos eu já dizia que seria a melhor Copa. Agora, posso dizer ainda com mais convicção de que essa é a melhor Copa do Mundo realizada", disse.
Agradecendo ao governo de Vladimir Putin, ele destacou a forma pela qual o país recebeu mais de um milhão de estrangeiros. "A operação foi um enorme sucesso", disse. Para ele, parte desse êxito foi o fato de que não houve um debate político durante o torneio.
O que ele não falou, porém, é que protestos estavam proibidos por lei. "Tem sido também um êxito por respirarmos de novo futebol e viver futebol", disse. "Deixamos o futebol falar. Não é sobre presidentes e dirigentes. São aqueles no campo que falam", destacou.
O suíço manteve a Fifa distante de coletivas de imprensa ao longo das semanas. "Nosso trabalho é fazer com que tudo funcione nos bastidores", se limitou a dizer, lembrando que trouxe "o futebol de volta para a Fifa".
Na avaliação do presidente da Fifa, a Copa "mudou a Rússia, que se transformou num país do futebol". "Não é mais apenas um país onde a Copa ocorre. Mas onde o futebol passou a fazer parte da cultura e isso graças ao time russo. A infraestrutura e tudo mais é eficiente e o legado vai colocar a Rússia no topo do futebol mundial. O que foi construído é para o futuro e existem planos", disse.
O governo russo, diante do risco de elefantes brancos e estádios sem clubes, vai bancar as arenas por pelo menos mais dois anos. Mas Infantino também insiste que a percepção do mundo sobre a Rússia mudou.
"Todos os que estão aqui descobriram um país lindo e que os quer receber e que quer dizer ao mundo que o que é dito não é exatamente o que ocorre aqui", disse. "Os preconceitos mudaram", constatou.
Mas ao ser questionado sobre as violações de direitos humanos no país, ele apenas indicou que esse não era o papel do futebol. A oposição está silenciada, a liberdade de imprensa é violada diariamente, protestos são proibidos e a pobreza, em alta, não é divulgada.
"Há injustiças no mundo, de forma geral", minimizou. "Muitas coisas não funcionam no mundo como os cidadãos gostariam de mudar. Gostaríamos de mudar. Não apenas em um país. Não apenas numa região. Mas o mundo inteiro. Mas temos de debater e fazer mudar para o melhor. Mas, aqui na Copa, estamos focados no futebol, celebrar o futebol", justificou.
Para Infantino, o futebol ajuda a estabelecer o diálogo entre países e a desenvolver a ideia do respeito. "O futebol pode contribuir a abrir discussões e começar a falar", defendeu."O futebol não pode solucionar os problemas e nem mudar o passado. Mas pode mudar o futuro. Os lideres poderiam se inspirar no que estamos fazendo. Temos que olhar para frente, sem rejeitar o que ocorreu", disse.
Para completar, o presidente da Fifa apresentou os números do êxito: 98% das arquibancadas lotadas, um milhão de turistas, uma audiência de 3 bilhões na televisão e 11 bilhões nos meios digitais, seis vezes maior que o Superbowl.
"Estou no futebol há mais de 20 anos. Mas o nível de excelência na infraestrutura, hotéis, transporte e segurança, nível de operação que vejo é sem precedentes", completou.