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Daniela Barbosa
Publicado em 14 de maio de 2018 às 15h04.
São Paulo – É fato que os hábitos de vida que você tem podem ou não contribuir para o surgimento de algumas doenças, entre elas, o câncer. Um estudo recente divulgado pelo Observatório de Oncologia apontou que a doença é a principal causa de morte em mais de 500 cidades brasileiras e – coincidentemente ou não – a maioria delas está localizada em regiões desenvolvidas, onde a expectativa de vida é maior, mas o estilo de vida costuma ser mais frenético.
No país, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima a ocorrência de 600.000 casos novos a cada ano para o biênio 2018-2019. Entre os mais jovens, de acordo com o Inca, o câncer já é a segunda maior causa de morte de pessoas entre 15 a 29 anos, perdendo apenas para “causas externas”, que envolvem óbitos por acidentes e violência.
Segundo Cristiano Guedes Duque, oncologista da Oncoclínica, um dos aspectos mais importantes para a prevenção do câncer diz respeito ao nível de evidências científicas que atribuem hábitos de vida ou exposição a substâncias ao desenvolvimento da doença.
“A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), órgão da Organização Mundial da Saúde, estabelece uma série de critérios antes de classificar uma substância como carcinogênica, ou seja, capaz de provocar ou estimular o aparecimento do câncer em um organismo. Ao adotar hábitos de vidas saudáveis e evitar a exposição às substâncias relacionadas pela agência, evita-se não somente o câncer, mas também uma série de doenças potencialmente graves”, explica o especialista.
Ainda de acordo com Duque, uma dieta rica em açúcar, a obesidade, a exposição à fumaça do cigarro e o sedentarismo estão diretamente ligados ao risco de adoecimento e mortes relacionadas ao sistema cardiovascular, como o infarto agudo do miocárdio. “Em uma sociedade que passa por grandes mudanças relacionadas à alimentação e hábitos de vida, ficar atento aos itens relacionados ao câncer não somente ajuda a evitar essa doença, como também contribui para uma vida mais saudável”, afirma o oncologista.
Predisposição X estilo de vida
Também da Oncoclínica, a oncologista Adriana Scheliga lembra que o câncer é resultado de danos ou mutações genéticas que podem ocorrer no DNA das pessoas. Por isso, alguns tipos estão fora de nosso controle, determinados por defeitos genéticos e predisposições transmitidas de geração para geração, ou estimulados por mudanças genéticas pelas quais passamos ao longo da vida.
“Também sabemos, no entanto, que respirar certas substâncias, comer determinados alimentos e até mesmo usar alguns tipos de plásticos elevam o risco de desenvolver alguns tipos de câncer”, afirma Adriana.
Juntos, os especialistas listaram alguns mitos e verdades sobre hábitos de vida relacionados ao câncer. Confira a seguir:
Trata-se da principal causa no mundo inteiro de doenças e mortes evitáveis. Estima-se que o cigarro esteja relacionado à morte de quase a metade de seus usuários no longo prazo. Por isso, a recomendação é não fumar e não utilizar nenhuma forma de tabaco. A renúncia do tabaco é a forma mais eficazes na prevenção do câncer, já que ele está relacionado não só ao câncer de pulmão, como também aos de cabeça e pescoço, bexiga, mama, entre tipos.
Também pode causar câncer e outras doenças crônicas, inclusive em crianças. Não se deve fumar dentro de casa. Devem ser estimuladas, por exemplo, medidas para que todos os ambientes de convívio social fiquem livres da fumaça do cigarro. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças Americano (CDC) afirma que os chamados fumantes-passivos, ou seja, aqueles expostos ao fumo passivo em casa ou no trabalho aumentam o risco de desenvolver câncer de pulmão em até 20% a 30%.
Manter o peso sempre controlado, o que inclui ter uma dieta saudável e praticar atividade física, pode reduzir em até 18% o risco do surgimento de câncer.
O recomendável é que as pessoas se mantenham moderadamente ativas por pelo menos 30 minutos por dia. O tempo gasto na posição assentada deve ser reduzido.
De acordo com os especialistas, devem ser evitados alimentos com excesso de calorias (tanto por açúcar como por gorduras). O açúcar refinado branco, presente em doces, biscoitos e muitos produtos industrializados, quando consumido em excesso pode levar à obesidade, a alterações metabólicas e até ao desenvolvimento do diabetes mellitus. A obesidade pode aumentar o risco de desenvolvimento de câncer de mama, cólon e reto, esôfago, rim e pâncreas.
É importante lembrar, no entanto, que o açúcar está presente em diversos alimentos como componente natural essencial.
Alguns exemplos são a frutose nas frutas e a lactose nos derivados de leite. A utilização de açúcar isoladamente não pode ser considerada um fator de causa e efeito de câncer.
Além do açúcar, qualquer alimento que venha em um invólucro de plástico e esteja industrialmente selado foi projetado para durar meses sem estragar. Cientistas na França recentemente demonstraram uma relação entre pessoas que comem mais alimentos processados e aqueles que desenvolvem câncer. Porém, ainda não há certeza se o problema são os ingredientes estabilizadores do produto, a embalagem plástica ou a combinação dos dois. Por isso, mais estudos são necessários para de fato comprovar a correlação de causa e efeito. Já alimentos como os embutidos (linguiças, salsichas, presuntos e apresuntados, entre outros) são apontados como grandes vilões.
Se a pessoa já possui esse hábito, deve procurar limitar a quantidade. O melhor para a prevenção do câncer é evitar o consumo de bebidas alcoólicas. O consumo de álcool regular pode aumentar o risco de câncer de cabeça e pescoço, fígado, mama e cólon. E esse risco aumenta conforme a quantidade ingerida, quanto maior o consumo, maior a chance, principalmente quando associado ao habito de fumar.
A luz solar natural é um agente causador de câncer de pele. No Brasil, segundo dados do o Inca, o câncer de pele não melanoma é o tumor mais frequente em ambos os sexos. A exposição excessiva e sem proteção, como aqueles que trabalham ao ar livre ou mesmo a exposição recreativa excessiva em praias e piscinas, deve ser evitada por meio do uso de protetores solares, roupas, chapéus e óculos protetores.
Não deve ser realizado também o bronzeamento artificial, pois existe de fato um aumento considerável do risco de desenvolver tumores malignos de pele em pessoas que utilizam a técnica, principalmente se hábito começou antes dos 35 anos.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) sugere que a carne vermelha possa estar ligada ao aumento do risco de câncer colorretal. Além disso, há algumas evidências que indicam que sua contribuição para o câncer pancreático e de próstata, embora essa evidência não seja tão forte.
As carnes defumadas e churrascos provavelmente também aumentam o risco de câncer, porque quando são assadas em fogo muito quente ou são fritas em altas temperaturas eliminam substâncias, como as aminas heterocíclicas e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, que em contato com as chamas aumentam os produtos químicos cozidos na carne consumida.
Os pesquisadores não estão certos de que esses produtos químicos causem câncer. Contudo, em testes de laboratório, o DNA celular sofre mudanças que podem aumentar o risco de câncer.
A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer classificou o trabalho noturno como um provável fator desencadeador de câncer. Os pesquisadores acreditam que trabalhar à noite e ficar durante longas horas na escuridão podem atrapalhar os ciclos naturais de sono e vigília circadianos do corpo e, de alguma forma, estar ligados a um aumento do risco de câncer.
Alguns tipos de vacina, como as contra a hepatite B e HPV, também podem evitar o câncer por isso, quando possível, vale a pena tomá-las.