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Daniela Barbosa
Publicado em 18 de abril de 2017 às 11h02.
Última atualização em 18 de abril de 2017 às 12h06.
São Paulo - São muitas as polêmicas que existem sobre restringir ou não o glúten da dieta. Há quem defenda sua importância, já outros acreditam que a proteína encontrada em grãos como trigo, aveia, e cevada pode facilmente ser cortada da alimentação sem nenhum dano severo à saúde.
Recentemente, uma pesquisa divulgada por cientistas da Universidade de Harvard associou o baixo consumo de glúten ao aparecimento de diabetes. De acordo com o estudo, pessoas que consomem mais a proteína estão menos propensas a desenvolver a doença em comparação às que ingerem menos glúten.
Para entender melhor se cortar o glúten da alimentação é uma medida positiva ou não - mesmo quando não há nenhum tipo de intolerância à proteína, EXAME.com conversou com duas especialistas em nutrição sobre os mitos e as verdades que envolvem essa e outras polêmicas sobre o glúten. Confira a seguir:
De acordo com Bárbara Rita Cardoso, membro da Câmara Técnica do Conselho Regional de Nutrição - 3 e doutora em ciência dos alimentos, as pessoas têm tido acesso a informações erradas, o que as leva, de maneira equivocada, a acreditar que o glúten faz mal para todos.
"O glúten não é maléfico para as pessoas que não apresentam intolerância ou alergia. Desse modo, ele pode fazer parte de uma alimentação saudável e variada", explica.
Para Natasha Terra, especialista em nutrição esportiva, a dieta sem glúten pode ajudar na perda de peso, mas não devido ao glúten em si, e sim devido às mudanças alimentares.
"Quando as pessoas retiram o glúten da dieta, elas acabam retirando alimentos industrializados e com alto índice glicêmico como pães, massas, bolos, torradas, pizzas e bolachas, e isso faz com que haja uma redução calórica e consequentemente perda de peso. Ou seja, qualquer dieta mesmo com glúten a qual há redução de calorias fará com que a pessoa emagreça", afirma.
Sim. Segundo Natasha, as formas mais saudáveis seriam os alimentos que possuem menor índice glicêmico, como os produtos integrais (macarrão, pão e bolos), com um tipo de açúcar mais saudável também como o mascavo, por exemplo.
Não necessariamente. Há, por exemplo, alimentos sem glúten que são ricos em açúcar e têm algo índice glicêmico, o que não é considerado saudável, explica Bárbara.
Se a pessoa apresentar algum distúrbio autoimune da tireoide, o tratamento dietético, através de uma dieta sem ou com baixo consumo do glúten, pode melhorar os sintomas e retardar a progressão da doença.
"A doença celíaca e os distúrbios autoimunes da tireoide possuem a mesma predisposição genética. Essa predisposição pode explicar a maior incidência de doenças autoimunes da tireoide entre os celíacos. As pessoas portadoras da tireoide de Hashimoto, por exemplo, podem desencadear a doença celíaca e vice-versa", afirma a especialista.
Na doença celíaca, existe uma resposta autoimune ao glúten quando a proteína entra em contato com o intestino. Os sintomas desencadeados são relacionados à morfologia e digestão, sendo eles: diarreia, danos à parede do intestino, má absorção e, consequentemente, desnutrição.
Já a intolerância ao glúten, também chamada de sensibilidade ao glúten, gera uma intolerância às proteínas (gliadina e glutenina), a qual sua absorção é prejudicada. Os sintomas também são intestinais e melhoram ou desaparecem após a retirada de alimentos com glúten, explica Natasha.
O glúten é uma proteína de origem vegetal que, assim como outras proteínas, fornece substrato para funções celulares.
"É importante mencionar, porém, que essa proteína não é essencial para o organismo, e uma alimentação sem glúten, quando bem orientada, pode também ter todos os nutrientes necessários para o organismo", afirma.
O consumo exagerado de qualquer alimento faz mal à saúde.
"O glúten por ser encontrado em alimentos fontes de carboidrato, se o consumo for exagerado, irá trazer malefícios para a saúde como o ganho de peso, que pode vir acompanhado de doenças crônicas não transmissíveis, como por exemplo, a resistência à insulina. E por conter substâncias que aumentam a absorção de água no intestino, o excesso pode causar desconfortos abdominais e intestinais", afirma Natasha.
De acordo com Bárbara, não há qualquer estudo que comprove a eficácia da retirada do glúten como estratégia isolada para emagrecimento. Ela ainda explica que é importante deixar claro que os alimentos glúten free não necessariamente têm menos calorias.
A zeína, uma proteína presente no milho, pode substituir o glúten da dieta. É possível, inclusive, fazer preparações como massas e bolos com a mesma consistência do glúten.
"Hoje em dia, há diversas opções de produtos sem glúten para serem usados em preparações e produtos já prontos. Há algumas farinhas que podem substituir preparações que possuem glúten, como a farinha de arroz, milho, amêndoas, macadâmia, coco, amaranto", afirma Natasha.