Carreira

Você trabalharia durante a sua festa de casamento?

Responder às urgências corporativas faz parte do pacote de cargos de confiança, mas o seu excesso pode dizer ao contrário

Talvez você tenha visto essa imagem no LinkedIn ou em alguma outra rede social recentemente. A foto foi postada pelo co-fundador de uma startup, que explicava que seu sócio era conhecido por ser "o cara que trabalha no laptop em bares" e que, até no próprio casamento, ele abriu o notebook para ajudar no lançamento de um projeto de um novo cliente (Redes sociais/Reprodução)

Talvez você tenha visto essa imagem no LinkedIn ou em alguma outra rede social recentemente. A foto foi postada pelo co-fundador de uma startup, que explicava que seu sócio era conhecido por ser "o cara que trabalha no laptop em bares" e que, até no próprio casamento, ele abriu o notebook para ajudar no lançamento de um projeto de um novo cliente (Redes sociais/Reprodução)

Sofia Esteves
Sofia Esteves

Fundadora e Presidente do Conselho Cia de Talentos/Bettha.com

Publicado em 4 de dezembro de 2024 às 15h04.

Última atualização em 4 de dezembro de 2024 às 15h06.

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Este é um noivo que, supostamente, estava trabalhando no dia do seu casamento — para ser mais precisa, bem no momento da festa. Digo “supostamente” porque a foto foi comentada nas redes sociais — muitas vezes, em tom de crítica —, mas, depois, descobriu-se que tudo não passava de uma ação de marketing.

Foi assim: o co-fundador de uma startup postou a imagem, explicando que seu sócio era conhecido por ser "o cara que trabalha no laptop em bares" e que, até no próprio casamento, ele abriu o notebook para ajudar no lançamento de um projeto de um novo cliente.

O noivo, depois, desmentiu a história — aparentemente, a postagem era parte de uma estratégia da startup para chamar a atenção. Contudo, os comentários negativos sobre aquela primeira publicação continuam lá e é sobre isso que gostaria de conversar com vocês.

Mais especificamente sobre a imagem que nós, líderes, passamos com os nossos hábitos e comportamentos relacionados ao trabalho.

Pode ser que você não tenha chegado ao extremo de, em plena festa de casamento, abrir o notebook e começar a lidar com demandas corporativas, porém, convenhamos, quantos de nós já não interrompemos uma viagem de férias para resolver uma questão da empresa? Aposto também que você já trabalhou durante as festas de fim de ano, certo?

Veja, isso não é uma crítica, mas uma constatação. Como fundadora de uma organização, sei o quão desafiador é conseguir desligar-se 100%. Às vezes, parece que desconectar-se é quase um luxo!

Contudo, apesar de estar ciente dessa verdade, também sei que é um sinal vermelho quando não conseguimos ficar longe do trabalho nem por um segundo. É um alerta não só para nossa saúde mental, mas para a mensagem indireta que passamos para nossa equipe.

Dentre os vários comentários críticos à postagem do noivo trabalhando na festa de casamento, um me chamou a atenção por questionar a habilidade de gestão de tempo daquela pessoa. Afinal, alguém que trabalha em uma circunstância dessa é extremamente dedicado ou mal planejado?

Isso me fez pensar nas razões pelas quais levamos trabalho para casa, para bares, para festas, para viagens de lazer...

Sei que responder às urgências corporativas faz parte do pacote de cargos de confiança, mas o ponto é: será que todas as vezes que acessamos o celular ou abrimos o notebook é para lidar com algo urgente? Ou será que falta planejamento, melhor gestão do tempo e até confiança? Confesso que, se eu fosse apostar em algo, seria nesse último item.

Não que você, enquanto líder, suspeite dos membros da sua equipe e precise vigiar cada um. Me refiro àquela desconfiança que nos impede de delegar com tranquilidade, passar uma tarefa importante com a segurança de que o time saberá executar com excelência.

E, quando isso acontece, é provável que a quebra desse vínculo ocorra no sentido inverso. Ou seja, líderes que não confiam também costumam não inspirar confiança — e este é um elemento fundamental para o bom funcionamento de uma empresa.

Paul J. Zak é um neuroeconomista que estudou esse tema por anos e chegou a uma lista de oito práticas de liderança que criam e sustentam culturas de confiança. Irei comentar cada uma delas no próximo artigo, mas, por hora, o que eu gostaria que você lembrasse é:

  • A forma como nós trabalhamos passa uma mensagem;
  • Atender a urgências faz parte do escopo da liderança, mas nem todo trabalho extra é urgente;
  • Não somos as únicas pessoas talentosas e detentoras do conhecimento na empresa. Saber delegar é um ato de confiança e de humildade.

Meu convite é que você reflita sobre esses pontos e entenda o que está por trás de alguns comportamentos. Às vezes, precisamos olhar melhor para dentro para conseguir mudar alguns hábitos e criar relações mais saudáveis.

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