José Mayer: ator foi acusado de assédio por uma figurinista (TV Globo/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 4 de abril de 2017 às 12h48.
Assim expôs um dos maiores jornais deste país:
"Após manifestações contra assédio, ator é afastado da próxima novela"
Refleti: teria o ator sido afastado por se manifestar contra uma das mais repugnantes formas? Não. Ocorreu justamente o oposto: o ator em questão praticou o assédio.
É aquela famosa "pegadinha da manchete", em que a revisão textual certamente não fora feita.
Mais objetiva é a seguinte redação:
POR ASSEDIAR, ATOR É AFASTADO DA PRÓXIMA NOVELA
O vocábulo "assédio" tem origem controversa, mas os principais etimólogos creem vir do latim "absedius", radicado em "sedes", assento, lugar. Creem também vir do latim "obsidium", cerco, cilada, consolidado no latim vulgar "adsedium", usado em vez de "obsidium", do verbo "obsidere" - pôr-se à frente, cercar, não se afastar da pessoa, inclusive para conquistá-la amorosamente.
Retomando o início deste texto, alguém que se "manifesta contra" é contrário, e não alguém que pratica o ato.
É outrossim interessante a origem do termo "manisfestar". Do latim "manifestare", cujos étimos indicam trazer alguma coisa na mão, mostrar, declarar.
Admira-me muito a mensagem frase do estudioso Deonísio da Silva: "Os manifestantes vêm se transformando em revolucionários sem armas em todo o mundo. Carregam flores, celulares, câmeras, cartazes e depois declaram ao mundo o que houve nas manifestações."
Em suma: declaram ao mundo o pensamento que trazem "nas mãos". Cientes da origem da palavra, a Língua tem outro sabor: manifestar, trazer nas mãos, mostrar o que é da ideologia de um determinado grupo.
Ah! Eu também digo "não!" ao assédio; digo "não!" à insistência importuna. Não é não - e a língua mostra isso.
Um grande abraço, até a próxima e siga-me pelo Twitter!
Diogo Arrais
@diogoarrais
Professor de Língua Portuguesa - CPJUR
Autor Gramatical pela Editora Saraiva