(Disney/Divulgação)
Luísa Granato
Publicado em 28 de abril de 2018 às 06h00.
Última atualização em 28 de abril de 2018 às 06h01.
São Paulo - Como capitão dos Guardiões da Galáxia, Peter Quill, ou Senhor das Estrelas, leva uma vida tranquila. Sua equipe de alienígenas foras da lei não exatamente o respeita, mas eles dificilmente respeitam alguém.
Tudo o que ele não precisava era que Thor aparecesse no seu caminho. Após ser resgatado pelos Guardiões, o deus ganha o respeito imediato da tripulação ao chegar com seus poderes surpreendentes, um plano elaborado e notícias devastadoras: o exército do titã Thanos está pronto para a guerra.
Com um elenco impressionante de super-heróis, “Vingadores: Guerra Infinita” é o apogeu da trama desenvolvida ao longo de 10 anos em 18 filmes da Marvel. Thor e os Guardiões das Galáxias são apenas alguns dos personagens que vão se cruzar na batalha para impedir que Thanos obtenha o poder de dizimar metade do universo.
O perigo não poderia ser maior para os super-heróis - assim como para o coração dos fãs, que temem que esse seja o momento de despedida de personagens queridos.
Embora garanta momentos de comédia no filme mais sério da Marvel, a interação entre os diferentes personagens revela uma valiosa lição para todo líder: quando uma crise ameaça a empresa, é impossível vencer sozinho.
O risco é que os melhores profissionais se tornem parte do problema. “Remédio em certa dose vira veneno”, diz o professor Roberto Aylmer, especialista em gestão estratégica de pessoas. Segundo ele, somos treinados para trabalhar pontos fracos, mas os pontos fortes também merecem atenção, pois podem se tornar fraquezas.
Para chegar à liderança, os profissionais vencem obstáculos individuais que os tornam mais fortes e experientes, porém no momento de juntar forças para vencer um desafio em comum, muitos não conseguem enxergar além de seus objetivos próprios.
“Todo herói tem uma história de vencer sozinho e seus poderes o tornam independente. Ele se sente invencível e não consegue ver que abrir mão dessa independência pode trazer melhores resultados”, comenta o professor.
Essa é uma falha persistente desde o primeiro filme dos “Vingadores”, presente na rivalidade entre o Capitão América e o Homem de Ferro, uma discórdia que eles não superam e que culmina na batalha interna dos heróis em “Capitão América: Guerra Civil”. As dificuldades em descartar suas agendas individuais para trabalhar em conjunto geram mais disputas internas que soluções.
Espera-se que em “Guerra Infinita” muitas dessas lideranças já tenham atingido o que o professor chama de maturidade no raciocínio ético. É um processo que ele trabalha junto às empresas para desenvolver entre seus líderes a capacidade de trabalhar lateralmente, para que os profissionais operem como um time e busquem soluções em rede para problemas que ameaçam a organização.
Um líder imaturo, como Peter Quill, é o elo mais perigoso de um time. Ele sente que sua posição está constantemente ameaçada - primeiro pelo deus Thor, depois pelo bilionário Tony Stark - e, por causa de sua insegurança, ele pode tomar atitudes intempestivas e que atrapalham o plano da organização. “Esse ‘fogo amigo’ é a ameaça mais perigosa. O alvo dessa pessoa é demonstrar um heroísmo maior que o dos outros e superar uma imagem ruim que tem de si mesma”, diz Aylmer.
Thor chega como um líder transparente, que compartilha os desafios que enfrentam e deixa claro seu plano. Para Guilherme Malfi, gerente da divisão de Recursos Humanos da Talenses, isso é fundamental para o líder ser respeitado. “Atualmente, os profissionais não concordam com todas as regras. Por isso, a principal característica que esse líder deve ter é saber ouvir e conversar com sua equipe”, explica.
O desafio da cooperação entre lideranças fortes exige um tipo diferente de empatia: a cognitiva. Ela não tem relação com as relações pessoais, e sim uma compreensão intelectual entre indivíduos.
É o que acontece quando duas das mentes mais brilhantes da Marvel precisam trabalhar juntas: de um lado, o gênio e bilionário Tony Stark, do outro, o ex-cirurgião e mago supremo Stephen Estranho.
De primeira, os dois concordam apenas em discordar um do outro. O humor característico do Homem de Ferro bate de frente com a praticidade blasé do Doutor Estranho. A combinação seria explosiva na Terra, no entanto, tudo muda quando eles estão no espaço.
Como Aylmer gosta de brincar: “Como você faz um brasileiro gostar de um argentino? Coloque os dois para trabalhar juntos em Nova York”.
Apesar de personalidades conflitantes, a ameaça comum e o terreno adverso faz com que os dois deixem de lado sua batalha intelectual e negociem um compromisso. Eles compreendem ali que precisam um do outro para sobreviver.
“Eles alcançam uma confiança em curto prazo e a negociação toma um grau de empatia que não teria em outro contexto”, diz Aylmer.
Para o professor, quando se reconhecem como iguais, os líderes ficam abertos para compartilhar suas fraquezas e objetivos pessoais com honestidade. “Eles estão no mesmo patamar, sem vantagem sobre o outro, e com o mesmo problema, o que os leva a pensar em soluções mais ousadas que só podem ser tomadas em conjunto”.
Não é à toa que a sala de cinema vibra quando Steve Rogers, o Capitão América, surge das sombras na tela. Quando recebe a notícia sobre Thanos, o herói tem uma resposta rápida para formar um plano de defesa.
Não apenas isso: na busca por soluções, ele não hesita em pedir a ajuda de outros que tenham recursos ou habilidades úteis. Todas são características que fazem o melhor profissional para lidar com uma crise.
Para Aylmer, o melhor líder consegue fazer um bom diagnóstico das ameaças e sensibiliza as pessoas a sua volta para ter a mesma visão que a dele, assim formando alianças. Além de tudo, ele sabe reconhecer o potencial dos outros.
Mas Rogers não está sozinho. Ele forma sua aliança mais forte ao pedir ajuda para o rei de Wakanda, T’Challa, o herói Pantera Negra, que possui seu próprio exército e tecnologia superior. Os dois conseguem trabalhar facilmente lado a lado, sem conflito ao dividir seu poder.
Segundo Guilherme Malfi, além de resilientes, os profissionais que lidam melhor em situações de crise são aqueles com senso de coletividade. Para o professor Aylmer, os dois heróis tiveram origens focadas no interesse coletivo, o capitão e o rei aprenderam o dever de servir suas respectivas nações.
Juntos, eles inspiram todos a seguirem um plano em prol de um bem maior, colocando a batalha contra o vilão acima de suas prioridades individuais.
Agora, basta assistir ao filme para saber se todo o esforço desse super time é o bastante para impedir Thanos.