Erica Carrara, gerente de mídias sociais da VML: “Acho que meu diferencial é que sempre fui focada em web, além de falar inglês e espanhol.” (Fabiano Accorsi/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.
São Paulo - Até pouco tempo atrás, cargos como analista de métricas, programador de mobile e arquiteto de informação simplesmente não existiam. Hoje, esses nomes estão entre as funções mais valorizadas no mercado de marketing digital, área presente nas agências de publicidade tradicionais, nas dedicadas ao meio digital e também nas grandes empresas.
A área cresce rápido, na velocidade da expansão da internet no país — segundo o Ibope Nielsen, já são mais de 83 milhões de brasileiros que acessam a web.
Os investimentos em publicidade online acompanham o crescimento da internet, com um índice anual na casa de 30% nos últimos anos. Entretanto, as empresas sofrem com a falta de mão de obra qualificada.
Para atrair ou manter os profissionais mais competentes, algumas chegam a despender acima de 40% de seu faturamento com salários, o que não é pouco numa área que também requer constante atualização tecnológica e investimento em inovação. De acordo com a Associação Brasileira das Agências Digitais, a média salarial desse mercado teve uma variação positiva de 35,3% nos últimos dois anos.
Como o mercado cresce mais rápido do que a formação de profissionais, criou-se um inusitado quadro hierárquico, formado por gerentes com menos de 25 anos, diretores antes dos 30 e, em muitos casos, vice-presidentes e presidente de empresas ainda longe de completar 40. É comum encontrar salários entre 10 000 e 15 000 reais para gente que saiu há pouco da faculdade.
Os regimes variam entre a contratação com registro em carteira e a prestação de serviços como pessoa jurídica. “É um consenso que os salários estão altos demais”, diz Ari Meneghini, diretor executivo do Interactive Advertising Bureau Brasil, entidade que reúne empresas de publicidade digital. Ainda assim, sobram vagas. “Não conheço uma só agência que não esteja com cargos em aberto”, diz Ari.
Parte do problema se deve ao fato de que o perfil é de difícil formação por exigir conhecimentos de propaganda e marketing, de um lado, e de tecnologia da informação, de outro. Por ser raro, o profissional que reúne esses atributos pode pedir muito, inflacionando o mercado. “Se você precisa de um determinado perfil, vai pagar”, diz Ari, lembrando que os talentos são um dos atrativos das agências para conquistar clientes.
Outra consequência desse cenário é a promoção de profissionais com pouca experiência a cargos de gestão, tendo de lidar com a alta rotatividade da equipe, imposta pelo excesso de ofertas. “Além disso, o gestor tem de saber lidar com a pressão dos clientes”, diz Fábio Rowinski, diretor-geral da iProspect, empresa do Aegis, um dos principais grupos mundiais de marketing digital.
Em muitas agências especializadas, fora dos grupos multinacionais há o predomínio de prestadores de serviço em regime de pessoa jurídica.
“Os jovens preferem esse regime, tanto pela chance de ter um salário maior no fim do mês quanto pela pouca preocupação com questões de estabilidade, já que moram com os pais e podem trocar de emprego a qualquer momento”, diz Claudio Coelho, diretor da agência Nocaute e presidente da Associação Paulista das Agências Digitais. As grandes agências atuam majoritariamente pelo regime de CLT.
Além do salário, há outros atrativos para convencer o profissional a ficar. Na VML@Y&R, do Grupo Newcomm, de São Paulo, a estratégia é criar uma política que valorize a meritocracia. Outra medida é seguir o padrão Google de qualidade em gestão de pessoas. “Temos de ter área de convívio social, para estimular o intercâmbio e aliviar a pressão”, diz Fernando Taralli, presidente da VML@Y&R.
Já a aposta da Latitud, de São Paulo, é manter parcerias com faculdades, promover cursos internos e também intercâmbio com as demais unidades do grupo, que tem escritórios internacionais.
Entre os executivos da área, a avaliação é de que esse aquecimento nas agências ainda deve continuar. Em parte porque aplicativos e redes sociais novos aparecem a cada momento, em parte porque a mão de obra não consegue se qualificar na mesma velocidade do mercado.
A gerente de mídias sociais da VML, Erica Carrara, começou a trabalhar com publicidade online no boom do Second Life, rede virtual que explodiu em 2007, quando entrou no primeiro núcleo online da agência Y&R, de São Paulo. Na época, pediu para fazer experimentações com redes sociais com alguns clientes. Demitiu-se para abrir uma empresa em sociedade com dois amigos.
Foi chamada de volta pelo antigo diretor para atuar como gerente da área, cargo que ocupa hoje, aos 26 anos de idade. Ela dá suporte ao time criativo na atuação em mídia social. “Acho que meu diferencial é que sempre fui focada em web, além de falar inglês e espanhol.” Os idiomas, diz ela, são essenciais para apresentações aos clientes, em sua maioria multinacionais.