Carreira

Varejo volta às aulas

O setor, que é um dos maiores empregadores do país, se moderniza e exige profissionais cada vez mais qualificados

Rafael Pereira, 35 anos, gerente da marca Lucy in The Sky: construindo a carreira no varejo (Raul Junior/EXAME.com)

Rafael Pereira, 35 anos, gerente da marca Lucy in The Sky: construindo a carreira no varejo (Raul Junior/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.

São Paulo - Economia estável, moeda sólida e aumento da renda do trabalhador estão contribuindo para o aquecimento do setor de varejo, que promete ser um dos maiores empregadores do país em 2010. “Estamos vivendo um momento muito especial no que tange ao desenvolvimento da economia e à ascensão das classes menos favorecidas ao consumo”, diz Pedro Ferreira, diretor de recursos humanos da Máquina de Vendas, holding criada da fusão da mineira Ricardo Eletro e da baiana Insinuante.

Muitas redes têm planos de expansão para este ano, o que deve aumentar a demanda por mão de obra. O setor vem se profissionalizando e tornando-se cada vez mais sofisticado, exigindo formação e qualificação. Por isso, até quem tem cargo de gestor está voltando para a escola, como é o caso de Rafael Pereira, de 35 anos, gerente da marca Lucy in the Sky. 

A pesquisa Retratos do Varejo, realizada pela Associação Paulista de Supermercados (Apas) em parceria com a Nielsen, a Kantar WorldPanel e a Gfk, apontou que 74% dos varejistas estão otimistas com o setor. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o varejo será responsável pela abertura de 850 000 novos postos de trabalho neste ano, dos quais 700 000 só em São Paulo.

Ao todo, o setor emprega hoje cerca de 6 milhões de funcionários, conforme divulgou o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), órgão do Ministério do Trabalho e Emprego. As lojas de shoppings respondem por 15,6% deste total e vão continuar contribuindo para um grande volume de contratações.

Serão 44 novos empreendimentos por todo território nacional até o fim do ano, o que criará, aproximadamente, 57 200 oportunidades nos shopping centers. A área supermercadista também será uma das que mais crescerá, com expectativa de gerar 27 000 novos empregos. 

Seguindo as estimativas de crescimento para o setor, grandes redes também buscam profissionais. A Máquina de Vendas quer dobrar, até 2014, o número de lojas que ambas as marcas têm hoje. Serão cem novas lojas que deverão recrutar 30 000 pessoas. O Grupo Pão de Açúcar anunciou que deve investir no Nordeste e prevê criar 10 000 vagas ainda neste ano. A Lojas Renner terá 900 vagas com a abertura de 14 novos magazines. O Walmart abrirá mais cem novas unidades e vai precisar de 10 000 funcionários.  

Crescente profissionalização

A maioria das vagas é operacional, mas também há oportunidades gerenciais. Para ambas as carreiras é cada vez mais necessária a qualificação do profissional. “Tem sido frequente a busca por candidatos com melhor formação em razão da evolução e da tecnologia utilizada no varejo, bem como da necessidade de atendimento cada vez mais especializado, exigido pelo consumidor atual”, diz Nabil Sahyoun, presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop).


De acordo com Eugênio Foganholo,  professor do MBA em varejo do Instituto Nacional de Pós-Graduação (INPG), essa necessidade ocorre porque o varejo tornou-se mais competitivo. “O setor é cada vez mais completo, utiliza ferramentas de gestão cada vez mais sofisticadas, além de as empresas estarem crescendo aceleradamente”, diz.

Na avaliação de Maurício Morgado, professor do Centro de Excelência em Varejo da FGV-Eaesp, o setor está vivendo dois fenômenos: a profissionalização e a internacionalização.

“A chegada de empresas multinacionais e o investimento de capital estrangeiro nesse mercado têm exigido uma administração mais organizada. Além disso, muitas companhias têm passado por um processo de profissionalização de sua gestão, deixando de ter administração familiar e contratando executivos para administrar o negócio, o que amplia a necessidade de mão de obra qualificada”, explicou Maurício. “A concorrência é muito grande. Se não nos estruturarmos, não nos manteremos”, completa Rafael Pereira, da Lucy in the Sky.

Para trabalhar no setor, o profissional, independentemente da área, tem de ter um perfil bastante específico: habilidade para atendimento ao público, boa comunicação, capacidade de trabalhar em equipe e identificação com um ambiente dinâmico, rápido e, além disso, não pode se importar em trabalhar nos fins de semana. A maior parte das vagas operacionais é para caixas, vendedores, consultores e estoquistas e, normalmente, o público-alvo são jovens universitários ou recém-formados.

“Em redes mais sofisticadas e em shoppings mais elitistas muitas lojas têm atendentes bilíngues, com domínio do inglês ou de outro idioma”, conta Nabil, do Alshop. Para quem tem formação superior, os cursos mais valorizados no varejo são administração, economia, engenharia e tecnologia da informação. Profissionais dessas áreas podem atuar no setor comercial, de logística, de recursos humanos e na gerência de lojas, com chances de alcançar cargos ainda mais altos de liderança. 

Formado em comunicação social, Rafael Pereira passou por esse processo de crescimento no varejo. Ele trabalhou como gerente de lojas de shoppings durante dez anos, até adquirir a experiência necessária para ser gerente de marca da Lucy in The Sky, na qual é responsável pela compra de material e pelo desenvolvimento de campanhas, funções que antes eram exercidas pelos proprietários da marca.

“Aprendemos a dinâmica do varejo no dia a dia. Mas não se pode ficar num círculo vicioso, temos que nos reciclar sempre. Senti necessidade de me aprimorar e fazer um MBA para dar um salto na carreira. E este é um setor no qual você pode crescer, sim”, conta. A jornalista Cristiane Freitas, de 27 anos, sempre se interessou por comércio, mais especificamente por compras. Começou a trabalhar na C&A, foi trainee da empresa e depois se tornou gerente da loja em João Pessoa, capital da Paraíba.


Até que surgiu a oportunidade de ir para a Dufry e focar no que sempre quis: planejamento de compras e escolha de produtos. “Quis me aprimorar nos estudos voltados ao varejo para fazer a diferença na companhia em que trabalho.” Um ponto em comum no discurso dos dois é a experiência. “Você chega a cargos de liderança por sua vivência no mercado”, completou Cristiane.

O diretor de capital humano do Walmart, Giovane Costa, que o diga. Ele começou há mais de 20 anos como empacotador e hoje, formado em Direito, alcançou o cargo mais alto em gestão de pessoas na empresa. “Eu sou exemplo disso. Levamos em consideração os resultados e que a pessoa seja um líder que sirva à sua equipe”, diz.

Cerca de 80% dos líderes do Walmart foram formados dentro da empresa. Na Máquina de Vendas esse número chega a 70%. Em outras áreas isso se repete. Célio Guedes, de 42 anos, formado em tecnologia da informação e agora cursando o MBA na área do varejo, começou no Grupo Pão de Açúcar há 16 anos como analista de sistemas e hoje ocupa o penúltimo cargo de liderança em TI, o de gestor de sistema de business intelligence.

“A empresa está me ajudando com o subsídio de 50% do curso.” Ainda segundo a pesquisa Retratos do Varejo, 78,1% dos varejistas pretendem investir na capacitação dos funcionários e acreditam que esta iniciativa é importante para enfrentar desafios juntos. Para isso, várias redes têm criado cursos internos e subsidiado o estudo dos empregados. 

É uma prática muito comum também trazer as instituições de ensino para dentro das empresas, oferecendo o que se chama de MBA in company. E muitas escolas têm criado cursos específicos para a área. A Fundação Instituto de Administração (FIA), o INPG e a FGV são algumas delas. O Walmart mantém parcerias com instituições como a Fundação Dom Cabral para a formação de executivos e mantém um convênio com a FGV, que  oferece o curso dentro da companhia para a capacitação dos funcionários.

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