Escrita: por que preciso escrever? (seb_ra/Getty Images)
Luísa Granato
Publicado em 30 de outubro de 2018 às 12h00.
Última atualização em 31 de outubro de 2018 às 09h46.
Sensação entediante é estar frente a uma página em branco - no escritório ou na sala de aula - e perceber faltar a ideia. São aqueles vários começos e recomeços alimentadores da insatisfação. Todos os escritores já passaram por isso.
Há uma analogia da qual gosto muito: escrever é como tocar Piano. Existem os que se esforçam para o estudo da Música; os que - mesmo sem tamanho talento - praticam a ponto de profissionalizarem-se; os que têm professores; os que conseguem brotar amor pelo que fazem.
Por que preciso escrever? Porque o meu ofício exige isso; com a fina escrita, posso ser visto; meu sonho pode transformar-se em realidade; as palavras bem-educadas garantirão uma comunicação admirada; com admiração, um profissional estará sempre (ou durante muito tempo) na memória das pessoas.
Desconheço quem não dobra os joelhos à elegância da caneta, às sutilezas da inversão oracional, ao tempero de determinada ironia, à educação de vocativos racionais, ao fechamento chique. Um ser consciente do poder vocabular passa a ganhar asas, a ver sentimento, a saber a força do sinestésico, a pensar mais antes de quaisquer registros, a pesquisar para conferir autenticidade, a agradar sem bajular hipérboles malfeitas.
E quando faltar a ideia? É abrir um poema de Drummond e observar atento o radical do termo "restaurante": restaure-se. Quando o tanque criativo estiver quase vazio, é embebedar-se da Literatura. Sugiro Crônicas, Poemas, Romances Clássicos, Contos. O mais importante - neste parágrafo de orações tão curtas - é: seja curioso e detalhista. Abrace uma nova palavra, como se conhecesse uma nova pessoa; é essa aparente loucura, nada literal, que engravidará sua percepção de Escrita: o processo demorará meses, mas enfim chegará o dia...o dia em que o aplauso encontrará sua habilidade comunicativa; o dia em que muitos perguntarão a você: "Onde diabos você consegue achar tantos novos termos, lágrimas e ideias?"
Será hora das respostas clichês: valorize o dicionário; faça como o Buarque e tenha um Analógico; leia Manoel de Barros; estude a Gramática de sua Língua, como se estudasse a estratégia de uma batalha; treine, treine e treine, a recompensa vocabular virá.
Sem a consciência do plural, a mensagem pode (e até deve) chegar; sem a devida pontuação, um texto também seguirá o seu destino; até mesmo sem quaisquer processos normativos, quaisquer ideias hão de levar o pensamento a algum lugar. No entanto, a pergunta do escritor (também locutor) pode ser: "Como minha palavra chegará àquele tímpano? Como causarei determinada reflexão? Como atingirei meu objetivo (pessoal ou profissional) usando tais sílabas, tons e construções?"
Um homem ciente da palavra polida não apenas convence: adentra respeitosamente o coração alheio, ansioso (deixo uma proposital ambiguidade com esse termo no masculino) para mudar, aprender e ajudar.
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DIOGO ARRAIS
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Autor Gramatical pela Editora Saraiva
Professor de Língua Portuguesa
Fundador do ARRAIS CURSOS