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Vagas que vêm da cana

Produção alta de carros flex e investimentos estrangeiros nas usinas geram empregos para engenheiros e bioquímicos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 7 de junho de 2013 às 12h24.

São Paulo - Há dois meses, numa visita à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Carl XVI Gustaf, rei da Suécia, declarou que seu país é o principal importador europeu do etanol brasileiro. Ele mesmo tem um carro movido a álcool. Apesar da declaração a favor do combustível de cana produzido no Brasil, os usineiros estão de olho no mercado nacional.

Estima-se que sairão das usinas este ano 20,1 bilhões de litros de etanol hidratado — 2,64 bilhões a mais que o registrado na safra anterior. Esse volume vai abastecer os veículos flex, cuja produção é crescente.

Um estudo da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores mostra que no primeiro trimestre de 2011 a frota de carros bicombustível deve chegar a 50% do total de veículos em circulação no país, ante os 41% atuais. Com relação ao mercado internacional, a expectativa para as exportações para o biênio 2010-2011 é de 1,8 bilhão de litros. Pouco, diante dos 2,75 bilhões de litros da última safra.

Diante das previsões para o mercado interno, os empresários que atuam no setor voltaram a contratar. Em se tratando de mão de obra qualificada, os profissionais mais procurados são os de biotecnologia, engenharia e bioquímica. Mas há oportunidades para técnicos e executivos — no caso deles, as vagas estão nas empresas estrangeiras.

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostra que a cana é a matéria-prima que mais gera empregos na agricultura brasileira: cerca de 1,2 milhão de vagas.

A economista Márcia Azanha de Moraes, pesquisadora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, realizou um estudo sobre biocombustíveis e observou que, além do trabalho rural, toda a cadeia produtiva do etanol emprega cerca de 465 000 pessoas — seis vezes mais que a indústria do petróleo, com 73 000 cargos formais.

“Se substituíssemos apenas 15% do consumo de gasolina em favor do álcool, criaríamos cerca de 117 000 novos postos no setor de etanol”, diz Márcia.


Na opinião de Antonio Cesar Salibe, presidente executivo da União dos Produtores de Bioenergia, o aumento nas contratações de executivos nas empresas associadas tem priorizado cargos estratégicos, como os responsáveis pela logística, distribuição do produto e contratos com fornecedores.

Contudo, ele esclarece que hoje a maior tendência nas contratações envolve o processo de mecanização da colheita de cana. “Isso exige profissionais técnicos que vão desde a sistematização do solo para o plantio, operadores de colheitadeira até mecânicos operacionais”, diz.

O aumento de vagas também se reflete nas indústrias correlatas à cana, como máquinas e insumos agrícolas, caso da Bayer CropScience, divisão de agricultura e biotecnologia do grupo Bayer. O diretor de Operações de Negócios Brasil, Gerhard Bohne, diz que há vagas na área de proteção de cultivos, como no controle de pragas, plantas daninhas e de manejo varietal com produtos fisiológicos.

Segundo Gerhard, para atender a esse setor, o profissional precisa ter ampla visão do mercado. “É imprescindível entender a cadeia produtiva da cana, conhecer os gargalos do negócio e ter credibilidade e respaldo para falar sobre a área”, afirma. 

Gerhard esclarece que agora, na entressafra, é o momento em que os gestores das usinas tomarão decisões sobre as tecnologias que serão aplicadas na próxima colheita. Nesse aspecto, o executivo ressalta que o profissional de desenvolvimento de mercado tem sido essencial para fazer a interface com os usineiros sobre a adoção da tecnologia adequada e a importância do uso de cada produto

. “Ele faz o meio de campo antes do representante técnico efetuar a venda. Essa atuação tem sido cada vez mais importante”, diz. É o caso do engenheiro agrônomo Juliano Barela, de 31 anos, responsável pelo desenvolvimento de mercado da divisão de biotecnologia da Bayer CropScience, em Ribeirão Preto, São Paulo.

“O etanol produzido de cana é conhecido como de primeira geração, com rendimentos superiores e custos relativamente mais baixos se comparados ao de outras culturas. Esse fator contribui para que a produção tenha perspectiva de longo prazo. Logo, o mercado necessitará cada vez mais de pessoal capacitado e inserido numa cadeia de negócios”, diz Juliano.


Oportunidades em Minas Gerais e Goiás

Outro fator que tem movimento esse mercado são as fusões e aquisições. Uma pesquisa da União das Indústrias de Cana de Açúcar de 2009 mostrou que 44 das mais de 430 usinas brasileiras eram controladas por capital estrangeiro. Segundo a KPMG, consultoria com braço especializado em mercados de energia, neste ano devem ser realizadas 15 operações de fusão.

Geralmente, as transações têm na ponta compradora uma empresa de fora. Quando chegam ao Brasil, essas companhias dão início a um processo de profissionalização e estruturação da empresa adquirida — o que cria oportunidades para quem quer trabalhar no segmento.

Um exemplo é a BP Biofuels, subsidiária da British Petroleum no mercado de biocombustíveis, que em 2009 anunciou um investimento de 1 bilhão de dólares para ampliar a capacidade de produção de etanol da usina Tropical Bioenergia, na cidade de Edeia, em Goiás, uma joint venture com o Grupo Maeda e a Santelisa Vale.

Nessa unidade, a BP está contratando profissionais de gestão nas áreas industrial, agrícola e comercial. Segundo Silvia Zwi, diretora de RH, a BP Biofuels procura profissionais de nível pleno e sênior, dispostos a se mudar para Minas Gerais ou Goiás. 

Quando precisa contratar gente para o segmento industrial, Silvia busca alguém com experiência em indústrias de processos, como química, óleo e gás e papel e celulose. “Procuro identificar pessoas com competências que podem se encaixar bem no negócio”, diz.  

A BP também pretende desenvolver no Brasil biocombustíveis de segunda geração, alternativos ao etanol. “Nessa área, precisaremos atrair jovens profissionais e formar um novo quadro”, diz Silvia. A ideia é fazer parcerias com universidades para recrutar cientistas, bioquímicos, agrônomos e engenheiros. 

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