Médicos estrangeiros assistem à palestra do Mais Médicos: trabalhar fora é uma decisão de carreira complexa (REUTERS/Ueslei Marcelino)
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2013 às 18h40.
São Paulo - Os primeiros participantes do programa Mais Médicos desembarcaram no Brasil no último mês. A chegada dos estrangeiros despertou discussões acaloradas, reações corporativistas e críticas à forma como o governo brasileiro se associou ao cubano para viabilizar a transferência de médicos de um país para o outro.
Esse assunto tem ainda outro aspecto, menos polêmico do ponto de vista político, mas relevante para profissionais que estão diante de
uma possibilidade de expatriação — um movimento de carreira semelhante ao dos médicos estrangeiros. Para fazer essa análise, é preciso se colocar na pele desses profissionais.
Supondo que ninguém tenha sido obrigado a vir, trata-se de uma opção de carreira. Cada médico viu na mudança para o Brasil alguma oportunidade profissional. Seja pela remuneração, seja pela experiência de vida, ele pesou prós e contras, como faz quem analisa uma proposta de emprego. E aceitou ingressar no Mais Médicos.
O que acontecerá com esses profissionais e qual será o sucesso do programa do governo ainda não é possível saber. Mas expatriados
e especialistas de carreira podem contar as agruras de uma experiência dessas. E apontar uma segunda opinião para quem vai deixar o país natal rumo a novas terras.
1 Haverá decepção
De acordo com um estudo da escola de idiomas Berlitz, no momento que antecede a viagem e durante os primeiros meses após chegar ao novo país, o profissional vive um "estado de turista". Nessa fase, ele está encantado com a cultura local, o clima e o novo desafio profissional.
Isso signifca que as decisões de carreira tomadas nesse início de projeto contêm um componente de euforia. Depois do otimismo inicial, começa um período de comparação entre o país de origem e o local. E aí as desvantagens aparecem. Em alguns casos, pode acontecer uma depressão.
"É o que chamamos de expatriação fracassada", diz Silvia Freitas, diretora do Berlitz. A pior crise, segundo Silvia, é quando o expatriado fica indo e vindo, lá e cá, o que causa um desgaste na relação com a família.
2 O que fazer com a família
Em geral, as pessoas não se mudam sozinhas, mas com a família. E, se a família não estiver feliz, o profissional não conseguirá ficar bem. "As principais crises que podem surgir são mesmo as familiares", diz Claudia Pohlmann, diretora de Recursos Humanos da DuPont, companhia química, de São Paulo.
É preciso pensar na ocupação do cônjuge e na educação dos filhos, caso essas pessoas acompanhem o expatriado. Ou na saudade e no desgaste da família na hipótese de apenas o profssional migrar. Na DuPont, por exemplo, a expatriação é comum. A empresa adota uma série de práticas para assegurar que o funcionário mantenha no exterior o mesmo desempenho do local de origem, como auxílio-moradia, ajuda na mudança e assistência de saúde especial.
3 É preciso pensar na experiência
A expatriação precisa ser compreendida como um projeto temporal. Quando se mudaram para o México, há um ano e meio, Érica Coelho, auditora interna da DuPont, e seu marido decidiram não viver de maneira saudosista, mas concentrados no presente. "Isso proporcionou uma grande integração com a cultura local e fez com que aproveitássemos a experiência", diz Érica.
O profissional também deve procurar analisar como é o cotidiano no destino com um olhar de trabalhador, e não de turista. "Recomendamos que o expatriado conheça antes o lugar para o qual irá", diz Monica Longo, diretora de recursos humanos da Nivea.
"É importante circular em ambientes que fazem parte da vida de quem mora naquele local."
4 A solidão vai bater
A consultora Larissa Waccholz, de São Paulo, voltou em agosto da China após cinco anos. Durante a estada, conheceu seu marido, que é brasileiro. A companhia do cônjuge amenizou a solidão que sentiu nos primeiros meses e facilitou a experiência de viver num país
tão distante e diferente. "Ficar longe de todo mundo, totalmente sozinha, não teria sido nada fácil."
5 Sensação de afastamento
Outra crise que pode bater é a falta de contato com as oportunidades de carreira no Brasil. Quem fica muito tempo fora tem seu networking local prejudicado. A consultora Larissa Waccholz, que ficou cinco anos na China, tinha receio de perder contato com o mercado de trabalho. "Mas havia um questionamento de cunho profissional sobre ficar fora de nosso mercado de trabalho de origem por tanto tempo."
6 O que compensa
A expatriação é uma oportunidade de desenvolver a habilidade de negociação, de ver os cenários por diferentes pontos de vista e de lidar melhor com a diversidade e com culturas diferentes. É a experiência que conta. "Brinco que a novela mexicana valeu muito a pena!", diz Érica, da DuPont, expatriada para o México. O importante é não perder de vista que se trata de uma decisão de carreira que pode afetar outros aspectos da vida.