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Um termo em coreano para 'cabeça vazia' virou uma lição de saúde mental

"Atingir o Mung" é para os coreanos um estado mental equivalente a limpar a cabeça de preocupações, uma ambição de cada vez mais gente

 (Getty Images/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2022 às 06h00.

Última atualização em 14 de fevereiro de 2022 às 08h26.

Nos últimos meses, os sul-coreanos estão assistindo um inusitado filme nos cinemas: Flight, um vídeo de 40 minutos de nada mais do que nuvens, vistas da janela de um avião.

Essas exibições giram em torno de um único objetivo: atingir o Mung. Mung é um termo genérico para uma ideia secular, diz Sung-Ae Lee, professor da Universidade Macquarie, de Sydney, e um expatriado que acompanha a cultura pop sul-coreana.

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Os coreanos estão reivindicando o termo um tanto depreciativo, no passado traduzido como “cabeça vazia”, para sugerir um vazio proativo que é um antídoto para uma mente presa a perpétua sobrecarga. É semelhante à meditação, mas com a influência adicional da natureza.

No Atinja o Mung, um café na ilha de Ganghwa, na costa noroeste da Coreia do Sul, as cadeiras ficam de frente para um espelho para que os convidados possam se sentar em autocontemplação.

No café Goyose, em Jeju, uma ilha no sul, clientes reservam horários para passar algum tempo sozinhos sem fazer nada em uma área no andar de cima, após o que recebem papel de carta para escrever uma carta durante o café.

Há também a Space-out Competition, fundada pelo artista visual Woopsyang e realizada em várias cidades, na qual os participantes competem para ver quem consegue atingir a menor frequência cardíaca.

Lee acredita que Mung é uma nova expressão do ideal confucionista da Coreia do vazio como forma de plenitude. Ela observa as tradições de observação da natureza do leste asiático como precursoras da tendência – admirar flores de cerejeira, por exemplo, ou banhos na floresta.

Até mesmo olhar para pinturas sobre natureza se tornou uma tradição moderna. O artista coreano Kim Tschang-yeul, que morreu no ano passado, enfatizava que suas imagens de gotas de água deveriam ser vistas como desprovidas de significado.

“Em comparação com as pinturas ocidentais, as pinturas orientais são muitas vezes cheias de vazio”, diz Lee. “A contemplação de espaços vazios em pinturas é uma forma de Mung.”

A necessidade humana inata de uma reprogramação centrada na natureza foi apelidada de teoria da restauração da atenção, ou TRA.

As constantes demandas do mundo moderno minam nossa força mental e acuidade, postula a TRA. Mudar a mente da atenção ativa para um estado neutro é essencial para ajudá-la a se recuperar.

Marc Berman, pesquisador do Instituto de Pesquisa Rotman do Hospital Baycrest, em Toronto, procurou confirmar isso enviando participantes do estudo em caminhadas de 50 minutos em uma floresta ou área urbana.

Depois, os caminhantes da natureza apresentaram memória de curto prazo 20% melhor; os caminhantes da cidade não apresentaram nenhuma melhora.

“Evoluímos em um ambiente com menos informação e mais tempo livre, e o fato de que esse tipo de coisa está se popularizando fala de uma real necessidade que cresce a partir do descompasso ambiental em que nos encontramos”, diz Avik Basu, professor da Universidade de Michigan.

Ele estudou com Stephen e Rachel Kaplan, casal de acadêmicos ​​que desenvolveram a teoria da TRA na universidade na década de 1980.

O cérebro tem diferentes maneiras de se concentrar, diz Basu. A atenção “ativa” ou “dirigida” esgota sua bateria e é finita: pense em fazer um trabalho ou lutar para resolver o jogo de palavras Wordle todos os dias.

A chamada suave fascinação, por outro lado, permite que o cérebro se recarregue. “Isso se relaciona com as coisas pelas quais somos atraídos evolutivamente, como o vento soprando na grama ou as ondas na praia”, diz Basu.

Use a mente dessa maneira, ele sugere, e ela também pode podar o que ele chama de tópicos não resolvidos – aquelas dúvidas incômodas sobre desligar o fogão antes de sair de casa ou ansiedade sobre uma entrevista de emprego.

O estresse de fundo induzido pela pandemia, é claro, talvez seja o mais recente tópico não resolvido no momento. E a maneira mais eficiente de mudar para o neutro é obter uma dose de natureza.

Um estudo no Journal of Environmental Psychology mostrou que apenas 40 segundos olhando para uma foto de um prado verde ajudaram a levar o cérebro dos voluntários a um estado mais relaxado do que passar a mesma quantidade de tempo olhando para um telhado de concreto.

Exatamente o quanto cada humano precisa para uma reprogramação mental completa pode variar, mas os especialistas estimam que seja entre duas e cinco horas por semana. “Pense nisso como exercício”, diz Thomas Doherty, psicólogo em Portland, no Oregon, que sugere que três sessões de 30 minutos podem ser suficientes.

A partir do Dia dos Namorados, por US$ 99, no spa Floating Lotus de Nova York, os hóspedes podem se sentar no chão em uma sala forrada com sal (considerado benéfico para a respiração profunda) usando fones de ouvido com cancelamento de ruído para descomprimir por até 90 minutos.

O programa é conduzido em parceria com Grace Yoon, fundadora coreana-americana da marca de bem-estar Qi Alchemy. “O conceito de esvaziar a mente através da natureza não é novo”, diz ela. “É apenas um fenômeno relativamente novo para as pessoas metropolitanas”.

Tradução de Anna Maria Dalle Luche

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