Lorice Scalise, CEO da Roche Farma Brasil: “Eu nunca almejei ser CEO, mas sempre quis estar em posições onde pudesse transformar contextos” (Vivian Koblinsky/Divulgação)
Repórter
Publicado em 27 de dezembro de 2024 às 08h08.
Acreditar que tudo é possível virou um lema para Lorice Scalise, atual CEO da Roche Farma Brasil. Nascida em Borborema, uma pequena cidade do interior de São Paulo, ela trilhou um caminho que buscava não apenas a ascensão profissional, mas um impacto que transformasse uma comunidade, principalmente no setor da saúde.
“Crescer em uma cidade pequena me ensinou que a saúde e o cuidado com as pessoas são fundamentais. Sem saúde, sonhos e propósitos ficam comprometidos”, afirma a executiva que cresceu em uma família simples e pequena, formada pela irmã mais nova, o pai e mãe.
Com formação em Farmácia pela Unesp, onde também se envolveu em movimentos estudantis, Scalise começou sua carreira na Danone e, em 2000, entrou na Roche como representante de vendas. Desde então, ocupou posições globais e regionais até se tornar a primeira mulher a liderar a Roche Farma Brasil em 90 anos de história.
“Eu nunca almejei ser CEO, mas sempre quis estar em posições onde pudesse transformar contextos. Desde levar ovos para um asilo na minha cidade natal até criar estratégias para melhorar o acesso à saúde, meu propósito sempre foi o mesmo: fazer a diferença onde eu estiver.”
Com educação básica concluída em escola pública, Scalise não teve acesso para aprender inglês, mas isso não a impediu de chegar ao topo de uma empresa.
“A primeira vez que eu fiz uma aula de inglês eu tinha 35 anos, e hoje sou uma CEO com 4 idiomas. Isso prova que tudo é possível”.
Scalise ocupou pela primeira vez o cargo de gerente-geral (uma posição equivalente a CEO na divisão Diagnóstica da Roche) em 2013, quando tinha 41 anos. Mais tarde, tornou-se CEO da divisão Farma no Brasil, consolidando sua liderança dentro da empresa.
Sob sua gestão, a Roche tem como meta triplicar o número de pacientes atendidos no Brasil nos próximos quatro anos, com foco na descentralização e na digitalização da saúde. “Queremos levar o melhor tratamento para onde o paciente está, diminuindo custos sociais e oferecendo mais dignidade às pessoas”, afirma a CEO.
Dentro do desafio de descentralização, a Roche busca ajudar pacientes que precisam de atendimento de hemofilia, distúrbio genético e hereditário que afeta a coagulação do sangue. O olhar está para comunidades remotas, como as que vivem na Ilha de Marajó, no Pará, afirma a CEO.
“O tempo é parte da cura. Cada dia sem tratamento pode significar a perda de chances de recuperação.”
Entre os projetos em andamento que envolve tecnologia, Scalise destaca o “Projeto Jornada Digital do Câncer de Mama em Curitiba”, que foi assinado na última semana com autoridades da capital paranaense. A proposta é desenvolver uma plataforma que irá facilitar a troca de dados entre os sistemas de saúde do SUS, para aprimorar a gestão integrada da jornada da paciente com câncer de mama, que é a primeira causa de morte por câncer em mulheres no Brasil.
“Essa é uma agenda bastante intencional e propositiva, que tem a intenção de funcionar cada vez mais a digitalização dentro da estratégia digital de saúde”, afirma a CEO.
O projeto, que começará de forma piloto no distrito sanitário do Cajuru, poderá ser ampliado para todo o município. “Curitiba é uma das cidades no Brasil com a melhor infraestrutura digital, por isso foi escolhida para este piloto”, afirma a CEO que sonha em escalonar esta experiência para conhecimento do Ministério da Saúde e demais autoridades do setor para que seja uma inspiração para a digitalização da saúde no Brasil.
O acesso ao SUS também será prioridade da Roche Farma Brasil em 2025, afirma Scalise. A Pertuzumabe, por exemplo, é uma medicação que está incorporada no SUS desde 2017 para o tratamento de pacientes em cenário metastático. “Em 2025, será a nossa prioridade levar esta tecnologia a pacientes de câncer de mama no SUS em estágio inicial”, afirma a CEO.
Em 2023, a Roche Farma investiu mais de R$ 540 milhões em pesquisa clínica no país, um aumento de mais de 20% em relação a 2022, acelerando o acesso à inovação no Brasil.
Scalise é conhecida por defender uma liderança baseada em valores e inclusão. “Romper o arquétipo do líder masculino foi um desafio. Como a primeira mulher em diversas posições, precisei mostrar que era possível liderar de forma empática e ainda assim entregar resultados excepcionais.”
Ela também vê sua posição como uma oportunidade de inspirar outras mulheres. “Quero que todas saibam que não há limites. Os obstáculos são criados, mas podemos superá-los. Eu sou uma mulher possível, assim como qualquer outra”, diz a executiva que é mãe de três meninos.
Ser mãe, inclusive, foi um dos seus maiores desafios. Quando recebeu a proposta para trabalhar na Suíça, o filho mais novo, já com nove anos, decidiu ficar com o pai no Brasil. “Tive várias decisões difíceis no caminho, mas eu nunca duvidei que a posição que eu gostaria de ocupar, ela era parte do meu propósito da minha luta pessoal”, afirma Scalise.
Para a CEO da Roche Farma Brasil, o trabalho é a expressão mais genuína de quem ela é como indivíduo. “O meu trabalho é a minha luta diária e eu não abro mão disso, assim como eu não abro mão de ser uma boa filha e uma boa mãe.”
Para a CEO, disciplina, curiosidade e comunicação são habilidades essenciais. “A disciplina é a base de tudo. É o que transforma sonhos em conquistas diárias. Além disso, nunca pare de aprender. Ler é tão importante quanto comer ou tomar banho. Tenho sempre um livro em minha bolsa”, diz Scalise.
Scalise também acredita no poder das conexões humanas. “Eu amo trabalhar com pessoas. Cada interação é uma oportunidade de aprender algo novo, sem contar que boas conexões nos levam mais longe.”
A Roche, sob sua liderança, promove diversidade e saúde como pilares estratégicos. A empresa conta com grupos de afinidade para mulheres, LGBTQIA+, afrodescendentes e outras comunidades. “Queremos que nossa força de trabalho reflita os pacientes que atendemos. Isso vai além de uma meta; é um compromisso.”
Hoje, 60% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres na Roche Farma Brasil. “Apesar dos avanços quanto ao gênero, ainda carecemos de outros perfis, como em termos interraciais e LGBTQIA+ para sermos mais diversos”, diz a CEO.
No que diz respeito ao bem-estar dos funcionários, a empresa adota regimes híbrido, três vezes presencial, com flexibilidade de horário, licença maternidade estendida de seis meses e iniciativas voltadas para a saúde mental.
“A saúde começa em casa. Queremos que nossos funcionários estejam bem física e emocionalmente”, diz a CEO. “Um dos benefícios diferentes que oferecemos é o trabalho 100% remoto em janeiro e julho para que os pais possam acomodar as férias das crianças”.
Fundada em 1896, na Suíça, a Roche já desenvolveu centenas de medicamentos, especialmente nas áreas de oncologia, imunologia, doenças infecciosas, neurologia e oftalmologia. NO Brasil, mais de 30 medicamentos estão incluídos na Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial da Saúde, entre eles, antibióticos, antimaláricos e medicamentos contra o câncer.
Com sede na Basileia, Suíça, o Grupo Roche atua em mais de 100 países e, em 2020, empregou mais de 100.000 pessoas em todo o mundo. No mesmo ano, a Roche investiu 12,2 bilhões de francos suíços em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e suas vendas alcançaram 58,3 bilhões de francos suíços.
Em 2023, a Roche Farma Brasil registrou faturamento de R$ 4,2 bilhões, um crescimento de 14% em relação a 2022, com um time de 3.000 funcionários. O resultado foi impulsionado pelos novos produtos da empresa, que registraram uma taxa de crescimento de 29%. Com esse resultado, o Brasil segue representando o 6º maior faturamento entre as afiliadas do Grupo Roche no mundo, sem considerar os Estados Unidos.
Esta reportagem foi publicada originalmente em 18 de novembro de 2024. Clique aqui para ler o texto original.