Redator na Exame
Publicado em 30 de setembro de 2024 às 12h04.
Última atualização em 30 de setembro de 2024 às 12h09.
Um novo estudo realizado no Reino Unido revelou que o trabalho remoto e híbrido tem impacto direto no crescimento salarial dos empregados. Segundo a pesquisa, realizada por economistas das universidades britânicas University of Nottingham, University of Sheffield e King’s College London, aqueles que conseguem trabalhar de casa algumas vezes por semana registraram um crescimento salarial entre 2% e 7% mais lento do que os trabalhadores presenciais. Esse fenômeno foi identificado como uma "penalidade salarial" relacionada ao trabalho remoto. As informações são da Bloomberg.
Apesar da redução no crescimento salarial, o estudo destaca que os trabalhadores remotos ainda se beneficiam de vantagens não monetárias significativas, como a flexibilidade no trabalho e a economia com transporte e alimentação. Esses benefícios compensam, em grande parte, o crescimento salarial mais modesto. O estudo foi baseado em dados de salários de 2018 a 2023 e comparou as condições de trabalhadores remotos e não remotos.
O estudo apontou que a possibilidade de trabalhar de casa favorece grupos com maior nível de educação e melhores salários, como profissionais de áreas como consultoria e programação de software. Esses grupos são os que mais conseguem se beneficiar das vantagens do trabalho remoto. Em contrapartida, trabalhadores de setores que exigem presença física, como comércio e manufatura, continuam a ver um crescimento salarial mais significativo, como forma de compensação pela falta de flexibilidade.
Uma análise detalhada revelou que a diferença de compensação total entre trabalhadores remotos e presenciais, considerando tanto salários quanto benefícios, não gerou um aumento significativo na desigualdade entre esses grupos. De acordo com os autores do estudo, a mudança para o trabalho remoto resultou em um aumento substancial na compensação média dos trabalhadores, sem afetar negativamente a desigualdade geral.
O retorno ao trabalho presencial também trouxe novos desafios. O estudo investigou os custos que os trabalhadores enfrentam ao voltar ao escritório, como transporte, refeições e vestuário. Em média, os trabalhadores britânicos afirmaram que estariam dispostos a abrir mão de até 8,2% de sua renda para continuar trabalhando de casa dois ou três dias por semana. Grupos como mulheres, jovens e aqueles com deslocamentos mais longos são os que mais valorizam a possibilidade de trabalho remoto.
No contexto político do Reino Unido, o trabalho flexível volta a ser um tema central. O Partido Trabalhista britânico, liderado por Keir Starmer, está propondo a expansão das leis trabalhistas para garantir que mais trabalhadores tenham acesso ao modelo de trabalho flexível, uma das promessas centrais da campanha.
O estudo também revelou que o trabalho híbrido, uma combinação de trabalho remoto e presencial, é um dos principais modelos adotados em cidades como Londres, onde o custo elevado e o tempo de deslocamento são barreiras significativas. Cerca de 40% dos trabalhadores de Londres que adotam esse modelo afirmam que a economia com transporte é uma das principais vantagens do trabalho remoto, superando a média de 34% registrada em outras cidades.
O impacto dessa transição no mercado de trabalho pode ser observado nos números. Londres está atrás de cidades como Paris, Cingapura e Nova York em relação à porcentagem de trabalhadores no escritório, devido, principalmente, ao alto custo e à distância do deslocamento diário.
A pesquisa reforça a ideia de que, embora o trabalho remoto seja valorizado por muitos, especialmente aqueles com empregos que permitem maior flexibilidade, o crescimento salarial e as compensações financeiras continuam mais atraentes para os que não têm essa opção. O equilíbrio entre os dois modelos pode ser um fator decisivo para as negociações futuras entre trabalhadores e empregadores, especialmente à medida que o mercado de trabalho continua a se ajustar às novas realidades pós-pandemia.