Carreira

Trabalhar viajando e ainda ganhar R$ 100 mil? Veja como é possível combinar trabalho com viagem

Seja na estrada ou no mar, há oportunidades para quem deseja trabalhar e viajar - e que não são no regime de home office

Riq Lima, CEO do Worldpackers: deixou sua carreira de economista após um burnout e viajou o mundo voluntariando (Worldpackers/Divulgação)

Riq Lima, CEO do Worldpackers: deixou sua carreira de economista após um burnout e viajou o mundo voluntariando (Worldpackers/Divulgação)

Publicado em 2 de setembro de 2023 às 08h08.

Após a pandemia, o trabalho home office foi adotado por muitas profissões e permitiu que muitos trabalhadores pudessem conhecer novos lugares sem precisar esperar pelas férias. Mas além das oportunidades remotas, alguns empregos unem o trabalho com viagens há anos, enquanto empresas também apostam neste formato para divulgar seus serviços e produtos.

Viaje e ganhe R$ 100 mil

Neste ano a startup Emma Colchões criou o emprego “Especialista do Sono”, que chamou a atenção de muitos brasileiros. A proposta de emprego era de um salário mensal de R$ 10 mil por mês, durante dois meses, para a pessoa testar os produtos da marca e fazer alguns vídeos nas redes sociais.

Nessa linha de empregos excepcionais que pagam bem para realizar um "trabalho dos sonhos", o Serasa, instituição de análise de crédito, anunciou recentemente a terceira edição do “Emprego dos Sonhos”, campanha que seleciona um influenciador que entende de finanças para viajar pelo Brasil durante seis meses com um contrato de R$ 100 mil.

As primeiras edições foram em 2018 e 2019 e agora, após a pandemia, o Serasa volta a buscar o profissional ideal para o trabalho que é desejado por muitos que amam viajar. A pessoa selecionada fará parte do “Projeto Serasa na Estrada” e prestará serviços à população das cidades por onde o caminhão da instituição passar. O objetivo é o influenciador levar a mensagem da educação financeira para todas as regiões do país e fazer vídeos nas redes sociais.

"Buscamos alguém que amplifique o nosso propósito de mudar a percepção dos brasileiros sobre finanças pessoais, mostrando como a saúde econômica contribui para a realização de sonhos. Para isso, o selecionado percorrerá escolas, entidades, associações, além de estar junto da população no caminhão do Serasa na Estrada, disseminando e fomentando a mensagem da educação financeira," afirma Clara Aguiar, especialista em educação financeira da Serasa.

As inscrições para ter o “Emprego dos Sonhos” estão abertas até o dia 3 de setembro no site do Serasa. Para participar é necessário ter mais de 18 anos, conhecimento básico e paixão por educação financeira, familiaridade com a produção de conteúdo multimídia, experiência e domínio das redes sociais.

Guilherme Casagrande, selecionado pelo Serasa na edição de 2018, em São Luís, Maranhão (Serasa/Divulgação)

Viajar por meio do trabalho social

Para quem busca uma experiência em outro país e não tem condições de arcar com os custos da moradia e dos estudos, uma opção é apostar no trabalho voluntário. Foi com essa ideia de democratizar viagens pelo mundo que nasceu a Worldpackers, empresa que gerencia viagens de voluntários nacional e internacional.

Em fevereiro de 2014, na Califórnia (EUA), os co-fundadores Riq Lima e Eric Faria se reencontraram e a ideia de criar a empresa surgiu a partir das experiências transformadoras de ambos:

  • Riq, nascido em São Paulo (SP), atuou em bancos de investimentos entre 2007 e 2011, quando deixou seu emprego após um burnout e decidiu embarcar em um período sabático ao redor do mundo, trocando habilidades por acomodação em mais de 50 países. Essa experiência o inspirou a criar a Worldpackers, em San Diego. Atualmente, mora em Florianópolis com a família e atua como CEO na Worldpackers;
  • Eric, nasceu na Praia Grande (SP) e atualmente mora em Maresias (SP). Deixou a carreira de auditor contábil para vivenciar uma imersão cultural ao voluntariar em San Diego, depois de se frustrar com escolas de idiomas tradicionais. Por meio das experiências de viagens, desenvolveu novas habilidades que o levaram a criar a Worldpackers, onde atua hoje como CFO.

“Após essas experiências, decidimos criar a Worldpackers para democratizar o acesso a essas experiências de autoconhecimento, desenvolvimento de habilidades e imersão cultural,” afirma Riq Lima, co-fundador e CEO da Worldpackers.

Ric Lima e Erick Faria na época em que criaram a Worldpackers (Worldpackers/Divulgação)

Lima reforça que mais de 100 mil pessoas já viveram experiências de voluntariado por meio do Worldpackers e que grande parte da comunidade hoje é formada pela Geração Z e Millennials, que buscam neste programa uma opção para aprender línguas, melhorar o CV e ajudar pessoas e comunidades ao mesmo tempo.

“Apesar da maioria ser da nova geração, acreditamos que viajar é um direito universal e a nossa missão é democratizar esse acesso, por isso temos diferentes tipos de perfil na nossa comunidade, desde pessoas aposentadas com mais de 65 anos que querem curtir essa nova fase até pessoas vivendo períodos sabáticos do mundo corporativo.”

Por ser voltado ao trabalho voluntário, salário não é o foco de quem participa do Worldpackers e é necessário ter uma poupança para pagar os custos da viagem, como passagens aéreas e vistos, mas muitas oportunidades de empregos podem surgir após essa experiência, diz o CEO.

“A Worldpackers oferece apenas vagas de voluntariado, não temos vagas de trabalho disponíveis na plataforma, mas sabemos de vários casos de membros que conseguiram empregos em projetos que voluntariaram ou que descobriram seu real propósito durante a experiência.”

Além do custo com as passagens, quem desejar ter acesso e se conectar com anfitriões de diversos países, monitorados pela equipe da Worldpackers, precisa pagar uma taxa anual que varia entre USD 49 e USD 129. Esse valor é cobrado apenas uma vez e o viajante pode fazer quantos voluntariados quiser por 12 meses. Os viajantes também são responsáveis pelo custo com a documentação e alimentação (se não incluso no voluntariado).

Um trabalho em cada porto

Para quem ama o mar e conhecer diferentes lugares, uma boa oportunidade é trabalhar em um navio. As contratações acontecem o ano todo, mas no fim do ano a demanda aumenta de forma exponencial no Brasil, porque é iniciada no final do ano a temporada dos cruzeiros.

“Existem muitas vagas em todas as companhias do mundo. Em relação ao Brasil, as oportunidades são ainda maiores, porque segundo o Termo de Ajustamento de Conduta nº 307/2016, firmado entre o Ministério Público do Trabalho e as armadoras que operam em águas brasileiras, cada navio deve contratar 15% de brasileiros para permanecerem legalmente no País,” afirma Fabrício Brito, tripulante e fundador e diretor-executivo da Deck4 Foundation, instituição que oferece educação online para tripulantes.

A temporada brasileira começa em outubro, mas as contratações são iniciadas em julho por meio das agências brasileiras de seleção e recrutamento. As vagas para quem deseja trabalhar em navios são divididas em três departamentos: hotel, máquinas e ponte de comando. Aos brasileiros são destinadas as vagas nas áreas de hotelaria como limpeza, governança, restaurante, bar, cozinha, recepção, recreação e vendas.

“Cada área possui vagas específicas, por exemplo, na governança tem emprego para faxineiros, camareiros e auxiliares, mensageiros, atendentes de piscina, supervisor de andares, equipe de lavanderia, mordomos e muito mais,” diz Brito - que trabalha há 23 anos no setor, inicialmente como tripulante e hoje com a formação de novos profissionais do navio.

Fabrício Brito trabalhando como Event Manager, em 2014, no navio. Cruzeiro parou na Tunísia (Deck4 Foundation/Divulgação)

Os salários dos tripulantes variam entre 650 e 1800 dólares para funções de primeiro contrato, segundo Brito. “Um cleaner, que é o faxineiro, pode começar ganhando até 1.000 dólares por mês dependendo da companhia, com possibilidade de gorjetas e comissões.”

Trabalhar no navio é certeza de oportunidades de conhecer novos lugares e praticar diferentes idiomas, afirma o tripulante. “A bordo, dependendo da escala de trabalho, o tripulante pode descer e conhecer os portos, e aproveitar do privilégio de estar cada dia em um país diferente.”

Além de conhecer novos lugares, Brito reforça a experiência cultural que os tripulantes podem obter: “Não tem como não sair um profissional e uma pessoa melhor de uma experiência dessas. Você pode aprender novos idiomas, conviver e trabalhar com pessoas de mais de 50 nacionalidades diferentes. Você se torna um cidadão do mundo, expande sua visão em relação as pessoas e ao mundo do trabalho,” afirma Brito.

Sobre os principais requisitos, o fundador da Deck4 Foundation destaca:

  • Ter acima de 18 anos;
  • Falar inglês, ao menos no nível básico, porque mesmo fazendo a temporada no Brasil o tripulante irá se comunicar na língua oficial dos navios de cruzeiros em todo o mundo;
  • Ter experiência ou formação profissional na área que deseja trabalhar. “Nem sempre, a experiência precisa ser comprovada em carteira, porque a indústria dos cruzeiros marítimos no planeta vem atravessando um grande problema com a falta de mão-de-obra de profissionais qualificados, mas o candidato esteja bem-preparado.”
  • Ter passaporte brasileiro e uma certificação de segurança que é emitida por escolas credenciadas à Marinha do Brasil, o CBSN (Curso Básico de Segurança de Navio) e o CFPN (Curso de Familiarização e Proteção de Navio). “O custo com essas certificações varia entre R$ 1.100,00 e R$ 1.500,00 em escolas devidamente credenciadas pela Marinha do Brasil.”
  • Exames médicos admissionais e vistos também são necessários, mas cada companhia tem uma regra para isso.
  • É fundamental ter disponibilidade para viajar embarcado durante 6 a 9 meses;

    “Existem contratos de 4, 6, 8 e 10 meses. Devido ao Termo de Ajustamento de Conduta nº 307/2016 o tripulante brasileiro precisa ter, no mínimo, 2 meses de pausa entre um contrato e outro,” diz Brito.

    Por conta da falta de mão de obra, Brito diz que não existe disputa de vaga. Hoje, se o profissional estiver devidamente qualificado e apresentar os requisitos necessários para as vagas, estará contratado.

    “Basicamente temos duas empresas italianas que fazem a temporada no Brasil e que precisam cumprir a regra dos 15% de tripulantes brasileiros a bordo. Uma dessas empresas, a MSC, trará pela primeira vez ao Brasil o maior navio de todos os tempos, o MSC Grandiosa. Só ele tem capacidade para 1.700 tripulantes.”

    MSC Grandiosa virá pela primeira vez ao Brasil. O gigante tem capacidade para 1.700 tripulantes (Deck4 Foundation/Divulgação)

    Esse aumento de vagas também foi proporcionado pela pandemia. Brito reforça que após a Covid-19 houve uma desistência significativa de uma parcela dos tripulantes, mas neste ano a expectativa é de o setor voltar a todo o vapor na temporada dos cruzeiros, que começa em outubro e com previsão de término em maio de 2024.

    “Após a pandemia, muitos tripulantes empreenderam na necessidade e redirecionaram as rotas de suas carreiras, isso ajudou a multiplicar a demanda por profissionais. Agora teremos também o lançamento de novos navios. Até 2025 serão inaugurados 66 novos navios. Estamos falando de 68 mil novas vagas de trabalho nos próximos 2 anos.”

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