Carreira

Tempo sem limite: o valor de profissionais experientes como Tom Brady

Por que manter os talentos experientes, como o jogador de futebol americano de 43 anos que acabou de vencer o sétimo título no Super Bowl, é cada vez mais importante para as empresas

Brady: 21 anos jogando pela NFL, Brady é o jogador mais velho a receber o título de MVP (sigla em inglês para "o jogador mais valioso") no campeonato (Mike Ehrmann/Getty Images)

Brady: 21 anos jogando pela NFL, Brady é o jogador mais velho a receber o título de MVP (sigla em inglês para "o jogador mais valioso") no campeonato (Mike Ehrmann/Getty Images)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 10 de fevereiro de 2021 às 07h00.

Última atualização em 10 de fevereiro de 2021 às 08h34.

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Brady: 21 anos jogando pela NFL, Brady é o jogador mais velho a receber o título de MVP (sigla em inglês para "o jogador mais valioso") no campeonato (Getty Images/Getty Images)

Aos 43 anos, o astro do futebol americano Tom Brady conquistou neste domingo, 7, o sétimo título da carreira no Super Bowl, a competição esportiva mais vista na televisão americana.

A vida está mais complexa, a rotina mais intensa, mas a EXAME Academy pode ajudar a manter a mente em foco

Após conquistar mais uma vitória para seu time, o Tampa Bay Buccaneers, da cidade homônima na Flórida, o atleta firmou seu nome como o jogador mais valioso da temporada – uma honraria conhecida pela sigla MVP, de most valuable player, ou "jogador mais valioso". É a quinta vez que Brady recebe o troféu.

Também conhecido no Brasil como sendo o marido da supermodelo gaúcha Gisele Bündchen, o astro do futebol americano também recebeu o título de GOAT, uma sigla para designar "o melhor jogador de todos os tempos".

É, sem dúvida, uma feito extraordinário para uma das carreiras mais bem-sucedidas – e longevas – do esporte mundial. São 21 anos jogando pela NFL, a principal liga de futebol americano. E, ainda sem data para a aposentadoria, Brady é o jogador mais velho a receber o título de MVP no campeonato. 

Brady é, talvez, um dos melhores exemplos de uma tendência mundial que vai além das linhas esportivas. Com expectativas de vida cada vez maiores mundo afora, e uma população mais saudável do que em gerações passadas, mais gente chega à idade dos cabelos brancos com muita saúde e disposição para colaborar no mercado de trabalho. Tudo isso traz benefícios e desafios para as empresas.

O Brasil tem tudo para ser um dos países a ter mais pessoas de terceira idade à disposição do mercado de trabalho. Até 2050, 30% da população brasileira terá mais de 60 anos. Seremos o sexto país mais velho do mundo, segundo dados do IBGE compilados na pesquisa "Longevidade" organizada pela Fundação Dom Cabral. Nas contas do Ipea, órgão de pesquisas ligado ao governo federal, 57% da população em idade economicamente ativa no Brasil terá mais de 45 anos daqui três décadas. 

Como preparar todo esse contingente para chegar à idade avançada com um desempenho de alto nível a exemplo de Brady? Um caminho apontado por especialistas é o de preparar os profissionais e as companhias para exigir alta performance de seus funcionários desde cedo e, ao mesmo tempo, trabalhar conceitos como o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho para, lá na frente, esses profissionais sentirem menos o tranco da idade, e do estresse da vida cotidiana, sobre o seu corpo e mente.

A especialista em desenvolvimento pessoal Sofia Esteves, presidente do conselho da consultoria de recursos humanos Companhia de Talentos, usa uma analogia esportiva para demonstrar a importância de as empresas prepararem seus profissionais para um rendimento de excelência no curto prazo. 

“Dentro do esporte, os atletas antes se aposentavam cedo, principalmente por causa do esforço físico. Nós vemos o Ronaldo, por exemplo, que um dos grandes motivos de ter se aposentado foi uma série de contusões e as consequências das mudanças de peso constantes. Tom Brady, por outro lado, sempre foi muito disciplinado. Mesmo em um esporte com muito corpo a corpo, ele sempre teve um preparo físico adequado”, diz Esteves. 

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(Carmen Fukunari/Editoria de Arte)

O que diferencia Tom Brady de outros jogadores pode indicar o que será necessário para a força de trabalho se preparar para uma carreira mais longa. Para o mundo profissional, o exercício para evitar contusões é o aprendizado contínuo.  

“Os obstáculos diminuíram muitos nos últimos anos. O mercado está muito pronto para abrir espaço para profissionais mais velhos que fizeram uma segunda graduação. Trazer pessoas com maturidade tem se tornado uma forma de trazer equilíbrio para as equipes também”, diz Sofia Esteves. 

Para a executiva, dois movimentos têm se tornado mais fortes entre profissionais mais experientes: procurar empresas mais alinhadas com um propósito ou buscar uma transição de função dentro da mesma empresa.  

“Tom Brady ficou no mesmo time por 20 anos. Com cada vitória, sua empregabilidade aumentava. E ele trocou o Patriots por um time desconhecido por que sentia que podia agregar um valor diferente para ele”, fala ela. 

Profissional de um bilhão de dólares 

Na hora de destacar carreiras longas e de sucesso, outro atleta americano se destaca: o astro do basquete LeBron James tem 36 anos, 18 deles jogando na NBA, a principal liga do esporte nos Estados Unidos. No período, James já ganhou um bilhão de dólares nesse tempo. O jogador está entre os cinco mais velhos ainda na ativa. 

“Para o esporte, ele é uma pessoa velha. Quando se fala em carreira, não tenho dúvida de que ainda existe um estigma e uma crença limitante de quando chega certa idade, você fica para trás. LeBron está mostrando que a idade é um mero número. Ele não fala em aposentadoria e ainda está se desafiando”, comenta Hugo Capobianco, gerente da consultoria de recursos humanos LHH. 

O que une Brady e James vai pautar cada vez mais a carreira de profissionais no mundo e no Brasil: a paixão pelo o que faz. O MVP do Super Bowl é conhecido por demonstrar sua paixão dentro e fora do campo, com gritos de vitória e declarações de amor ao esporte. 

“Na longevidade da carreira, não é só a ideia do tempo que permite a maturidade e o desenvolvimento de competências, mas amar o que faz. LeBron brinca com a bola, a gente percebe que ele tem talento. A competência é adquirida com os anos, mas ele faz uma coisa que ama e encontrou seu potencial máximo com 36 anos”, diz Capobianco. 

Com mais tempo para testar, errar e aprender, os profissionais também vão poder ter mais flexibilidade para moldar trajetórias mais capilares. Aquele caminho de estagiário a assistente, depois gestor, gerente, diretor e CEO, já é um funil agora – e deve ser apenas um dos muitos planos do profissional do futuro. 

“Não sei o que passa na cabeça do LeBron, mas não dá para chegar onde ele chegou sem ter pensando e repensado sua trajetória, ter avaliado sua carreira e o que faria para chegar aqui. Existe uma competitividade grande no esporte, não é só glória. Ganhar um jogo é uma coisa, agora ele precisa de uma análise boa de suas competências para estar no topo com essa idade”, fala o gerente. 

A tendência é que as pessoas explorem mais seu potencial em diferentes competências e busquem suas paixões. Segundo o especialista em desenvolvimento pessoal Joseph Teperman, autor do livro Anticarreira e fundador da consultoria Inniti, o futuro vai exigir a criação de um portfólio de trabalhos.  

“A maioria dos recrutadores começam a procurar por indicações para preencher uma vaga. Se você faz com carinho seu serviço, você vai ser lembrado. Dá pra ver quando as pessoas fazem algo com carinho e se torna seu diferencial”, explica o autor. 

Portas abertas 

As empresas também têm um papel crucial para manter seus "GOATs". Se o protagonismo para moldar sua carreira e se adaptar ao mercado é uma qualidade atrativa para profissionais de qualquer idade, as empresas também precisam fazer sua parte. 

“Investir no desenvolvimento ao longo da carreira não é só um aumento de treinamentos, mas um olhar individual para a necessidade de cada colaborador, quais suas fortalezas, onde ele pode se aprimorar e o que precisa reciclar para o futuro. Hoje se fala muito de metodologia ágil e conectividade. Para as empresas, investir no desenvolvimento dessas habilidades do futuro é mais fácil do que trazer gente do mercado”, diz Sofia Esteves. 

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O astro do basquete LeBron James tem 36 anos, 18 deles jogando na NBA, a principal liga do esporte nos Estados Unidos. No período, James já ganhou um bilhão de dólares nesse tempo (Getty Images/Getty Images)

Além de afastar a ideia de que um profissional mais velho está “parado no tempo”, o mercado também precisa se abrir para ter diversidade geracional fora dos cargos de alta liderança. A experiência pode valer muito para o CEO, mas com uma população mais velha as empresas precisarão trabalhar na inclusão em toda sua estrutura. 

A ideia, aqui, é desmistificar determinados conceitos. O primeiro é a questão do salário mais elevado. Qual é o custo de abrir mão da experiência? Muitas vezes a remuneração não é o principal objetivo deste profissional. "Ele pode querer estar inserido no mercado de trabalho, envolvidos em um propósito, adquirir novos conhecimentos, obter mais especialização, potencializar suas conexões, sentir que é útil, produtivo e ampliar o senso de pertencimento”, diz Mauro Wainstock, sócio-fundador do HUB 40+, um misto de consultoria e aceleradora de negócios para profissionais acima de 40 anos.

Empresas apostam no potencial da experiência

Algumas empresas estão apostando no potencial dos profissionais de mais idade. Na multinacional Unilever, o programa “Senhor Estagiário” dá oportunidade para ingressar na empresa (e ser efetivado) para quem começou uma nova graduação mais tarde na vida – mais precisamente acima de 55 anos.

Depois de uma primeira turma de cinco estudantes com mais de 50 anos que teve mais de 1.000 inscritos em 2019, a segunda edição ampliou o número de vagas e de áreas do programa 

“Não queremos que a pessoa sente para fazer uma planilha eletrônica, mas que ofereça seu conhecimento onde está sua fortaleza e onde vai colocar mais valor. Os líderes foram treinados para tirar o melhor das pessoas e oferecer um ambiente de equidade”, disse em entrevista Julio Campos, vice-presidente de vendas da Unilever. 

Uma das principais empresas de ecoturismo do Brasil, o Grupo Cataratas também fez o mesmo: seu programa “Vóvô estagiário” é focado em estudantes idosos e com netos. 

Aqui e ali, profissionais como Brady e James, e empresas como a Unilever vêm demonstrando que é possível, sim, apostar num alto desempenho para profissionais de mais idade. A torcida é para que mais exemplos como esse se repitam daqui para frente.

 

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