Até metade da população mundial é introvertida. Entender isso é fundamental para descobrir como superar as limitações e até tirar proveito delas (SIphotography/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 15 de dezembro de 2020 às 10h20.
Última atualização em 15 de dezembro de 2020 às 10h23.
Desde a faculdade Mauricio Beccker, de 34 anos, sonhava em ser professor. Mas em 2009, quando pisou pela primeira vez em uma sala de aula, reparou que realizar este sonho ia ser bem mais difícil do que ele pensava.
“Não tinham me avisado, mas era uma sala com 120 alunos. Eu não sabia que teria que enfrentar tanta gente.” A chance de fazer ou falar alguma coisa errada em frente a tanta gente, fez com que a experiência fosse caótica. “Naquele momento eu percebi que a timidez poderia acabar com a minha carreira”, diz Beccker.
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O engenheiro Renato Schröter, 54 anos, viveu uma situação semelhante. Convocado às pressas para substituir o chefe, que tinha ficado doente, em uma apresentação, Schröter se viu obrigado a falar sem preparo para um público extremamente exigente. “Era uma plateia formada por profissionais muito experientes e isso acabou me deixando nervoso. Foi um vexame, uma das piores experiências da minha vida”, lembra.
Experiências como as vividas por Beccker e Schröter são muito comuns. Segundo a pesquisadora Susan Cain, especialista em inibição e autora do livro O Poder dos Quietos, algo entre um terço e metade da população mundial é introvertida. Isso não significa, porém, que essas pessoas devem viver confinadas em frente a computadores, sem nunca pisar em um palco ou ter participações relevantes em reuniões.
“Introversão é diferente de ser tímido. Timidez tem a ver com julgamento social, enquanto introversão é mais sobre como alguém reage aos estímulos, incluindo os sociais”, disse Cain, em uma palestra TED que já foi assistida mais de 27 milhões de vezes.
Entender este ponto é fundamental para descobrir como superar as limitações e até tirar proveito da introversão.
Líderes de sucesso como o pacifista Mahatma Gandhi, o empresário Bill Gates e a escritora J.K. Rowling são descritos como pessoas introvertidas, mas que aprenderam a lidar com o medo do julgamento social para falar em público e influenciar pessoas com suas ideias. Para isso, em geral, tiveram que lançar mão de técnicas que ajudassem a aumentar a segurança na hora de enfrentar uma plateia. “Um curso de oratória não é para mudar o temperamento da pessoa, mas sim para fazer com que ela diminua o grau de ansiedade ao se expor”, afirma Laila Wajntraub, professora do curso Oratória: Como falar em público sem medo e responsável pela formação de milhares de pessoas em técnicas de discurso.
Ao descobrir que a insegurança era muito mais relacionada ao julgamento dos outros do que ao contato social em si, Beccker e Schröter puderam desenvolver técnicas para se sentir mais confortável em frente às plateias.
“Mudei a forma como faço contato visual com as pessoas. Passeio meus olhos pelo público, sem me firmar em ninguém que esteja com cara de desinteresse ou de reprovação”, diz Beccker.
Para Schröter trabalhar o foco é o que faz mais diferença. “O maior aprendizado que tive foi desenvolver foco. Por mais que seja um momento de exposição, eu me volto para dentro, sem me deixar abalar pelo ambiente”, afirma.
Outra técnica que os dois abraçaram é a preparação prévia. “Só consigo falar se estiver organizado para isso, seguro do assunto que vou tratar”, diz Schröter. Beccker, por sua vez, muitas vezes recorre a um roteiro escrito e até a aplicativos de teleprompter, para ter a segurança de que poderá recorrer à leitura caso tudo dê errado.
“Até mesmo o improviso pode ser planejado. Existem várias técnicas para que a pessoa se sinta confortável quando o assunto foge daquele que ela tinha se preparado para lidar”, diz Laila, do curso Oratória: Como falar em público sem medo.
Uma vez dominada a fobia do julgamento social, a pessoa se sente mais à vontade com a própria introversão e aprende a usá-la a seu favor.
Segundo um estudo publicado no Journal of Multidisciplinary Research and Development, uma série de elementos da natureza dos introvertidos faz com que eles tenham grande sucesso ao liderar. Entre as características destacadas pelo periódico científico, algumas são diretamente relacionadas a falar em público, como o fato de os introvertidos terem o hábito de planejar mais suas falas e o de saberem ouvir melhor o ambiente, para adaptar seus discursos às necessidades de cada público.
“Hoje vejo que ser introvertido me ajuda muito, porque eu consigo elaborar as coisas internamente com muito mais clareza. Antes de fazer um discurso, por exemplo, eu penso muito, eu elaboro bastante e, com isso, lapido aquilo que eu falo até que saia de forma mais natural”, conclui Schröter.