(Virbela/Reprodução)
Luísa Granato
Publicado em 21 de fevereiro de 2022 às 06h00.
Última atualização em 25 de fevereiro de 2022 às 11h57.
É indescritível a sensação de mergulhar dentro do Metaverso. É assim que o avatar do diretor de tecnologia da Companhia de Estágios, Hugo Rebelo, começa a explicar a experiência que a empresa propiciou para os estudantes selecionados para o estágio da Scania.
A empresa foi escolhida para um processo teste de processo seletivo do futuro, usando o Oculus, da Meta, e seu software de realidade virtual para conectar recrutadores e estudantes
Para entender esse “indescritível”, a reportagem da Exame também entrou no Metaverso. Ou, pelo menos, na primeira versão do mundo 3D que pode conter, no futuro, processos de seleção, treinamentos, eventos, escritórios e até carreiras dedicadas.
“Hoje, quando falamos do Metaverso, se entende ainda como um ambiente virtual. Ainda não estamos no Metaverso, pois é uma plataforma em desenvolvimento”, diz Juliana França, gerente sênior do PageGroup.
O temos surgiu pela primeira vez no livro Snow Crash, de Neal Stephenson, em 1992. Fora da ficção, a primeira tentativa de se criar o Metaverso foi por meio da rede social Second Life, lançada em 2003. Com sua popularidade, muitas previsões diziam que todas as empresas, interações e até o trabalho ia acontecer na plataforma no futuro.
“Aquilo era um protótipo, lembro que empresas investiram nisso. Mas tinham várias limitações, a conexão das redes era lenta, os dispositivos também, nem tinha Smartphone. Era complicado, você tinha a imersão pelo computador e não era convincente”, afirma Rebelo.
Diferente de uma reunião online, a experiência de conversar com avatares com os estímulos visuais e sonoros como se os participantes estivessem presentes - mas a maleabilidade de mudar a ambientação da sala de reuniões com apenas um clique - é realmente difícil de pôr em palavras.
Por isso, logo que foi anunciado por Mark Zuckerberg, no final de 2021, a mudança do Facebook para Meta, com o foco na criação do Metaverso, a liderança da Companhia de Estágios começou a explorar suas opções para trazer o mundo do recrutamento para o próximo passo da internet.
Ao ver uma imagem ou vídeo do Metaverso, não parece muito diferente de uma animação do cinema ou um videogame. Mas, quando você está lá, é como se você entrasse dentro de um filme em 3D, com uma percepção sonora e em tempo real do mundo virtual a sua volta.
Ao explicar sobre a nova ferramenta, o presidente da Companhia de Estágios, Tiago Mavichian, apertava um botão e todo o ambiente mudava: a mesa, o tamanho da sala, a localização dos participantes e até a paisagem lá fora.
“A premissa que partimos é que os processos seletivos vão continuar online, mas a nossa pergunta era como garantir a melhor experiência possível para os candidatos. De forma inovadora, indo além das salas de zoom para um trabalho interativo”, diz o CEO.
Diversos profissionais já devem ter experimentado ao longo da pandemia os processos seletivos completamente online. No futuro, o Metaverso uniria o que existe de mais conveniente do online com a parte positiva de uma interação presencial.
É possível colaborar e ter interações síncronas, ao mesmo você tem a visão em primeira pessoa de vídeos e apresentações, pode sair do escritório virtual instantaneamente e se encontrar dentro da fábrica ou loja da empresa e tem a sensação de estar no mesmo local junto a pessoas que nem estão no mesmo país.
Assim como na empresa de realidade aumentada, Flex Interativa, que viu um aumento de 750% na procura pelas soluções da marca desde novembro de 2021, Tiago Mavichian, CEO da Companhia de Estágios, conta que existem empresas fazendo fila para integrar etapas com o Oculus ao processo de seleção de estágio e trainee.
Está difícil escolher entre o escritório e o trabalho de qualquer lugar? A empresa americana Virbela, parte do grupo eXp World Holdings, defende desde sua criação, em 2012, que é possível estar no escritório de qualquer lugar. A imagem de capa da matéria mostra o campus deles, onde a Exame fez um tour.
Durante o tour, também com avatares criados para interagir no mudo 3D (mas), foi possível que a reportagem da Exame, de São Paulo, se sentasse numa mesa com o CEO, que está nos Estados Unidos, e com Patrícia Marins, sócia-diretora da Oficina, a empresa que representará oficialmente a plataforma no Brasil, que fica em Brasília.
Mesmo da tela do computador, pois dessa vez não havia a ferramenta de imersão do Oculus, a experiência foi diferente de uma conversa por vídeo. O ambiente lembra um jogo que pede sua atenção plena ao que está acontecendo na tela da realidade virtual.
Para Bill Gates, cofundador da Microsoft, todas reuniões de negócios terão migrado para o Metaverso em três anos. É com isso que o presidente e cofundador da Virbela, Alex Howland, está contando.
“Entre a pandemia e o anúncio do Meta, nós certamente vimos uma explosão de interesse por grandes e pequenas empresas”, diz.
O cofundador, que tem formação na área da psicologia organizacional, fala que o ambiente virtual ajuda no engajamento e experiência dos funcionários. Ele aponta a própria eXp Realty, empresa imobiliária do grupo ao qual pertence a Virbela , como um caso de sucesso.
A eXp Realty, que entrou na Virbela em 2016 e tinha quase mil agentes, opera totalmente no Metaverso desde então. Hoje, eles têm quase 74 mil e expandiram o negócio para 18 novos países na pandemia.
“Há anos eles entram na lista de melhores empresas do Glassdoor. E ouvimos feedbacks dos funcionários benefícios como o sentimento de estar junto dos colegas, como uma comunidade, sem perder o lado bom de trabalhar remotamente”, afirma.
Com vertentes de recrutamento profissional que vão do estagiário ao CEO e presente em mais de 30 países, a consultoria PageGroup já sentiu os efeitos da procura por profissionais que estejam por dentro da novidade do Metaverso.
Segundo a gerente do grupo, esse termômetro direto de conversas com executivos e uma longa história no ramo de recrutamento ajudam a entender como as novas oportunidades de carreira podem se desdobrar.
“Da leitura que temos do passado, sabemos que existem cargos que vão surgir para a implementação do Metaverso, que vão sumir depois e migrar para novos processos e ferramentas depois”, diz.
No dia a dia, ela já viu um aumento na busca por profissionais que tenham alguma curiosidade para explorar oportunidades de negócio no universo virtual em áreas de inovação em bancos (especialmente olhando para criptomoedas), de eventos, de marketing e dentro do varejo.
“A questão do omnichannel ganha um novo significado com a possibilidade de ter presença no Metaverso também. Também existe um leque de oportunidades se abrindo para profissionais que estão olhando para novas tecnologias, especialmente na inovação do hardware, software e design de ferramentas para o Metaverso”, explica.
Na Meta, apenas a marca do Oculus tem mais de 700 posições listadas, em áreas como pesquisa, engenharia, design 3D, hardware, marketing, inteligência artificial e operações.
Fazendo esse exercício para pensar nas possibilidades de exploração da realidade virtual pelas empresas, os consultores da PageGroup destacaram alguns cargos que podem despontar nos próximos anos.
Confira as possíveis carreiras do futuro no Metaverso:
Gestor de Investimentos
Gestor de Patrimônio & Imobiliário Digital
Especialista em Estruturação de Linhas de Crédito
Analista de Taxas de Transação Virtual
Gerente de Seguros Financeiros
Gerente de Segurança da Informação & Riscos
Especialista em Segurança Cibernética
Desenvolvedores de Avatares
Cientista de Pesquisa em Metaverso
Estilista de Moda Digital
Designer Espacial Digital
Diretor de Eventos
Influenciador Avatar
Engenheiro de Hardware
Desenvolvedor de Ecossistema
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