Carreira

Viu quais são os palestrantes mais buscados pelas empresas?

Levantamento exclusivo da VOCÊ RH aponta quais os palestrantes mais requisitados pelas companhias no momento e quando vale a pena investir nesses profissionais

José Roberto Guimarães divide seu tempo entre a seleção brasileira de voleibol feminino, o time Amil Campinas (Divulgação)

José Roberto Guimarães divide seu tempo entre a seleção brasileira de voleibol feminino, o time Amil Campinas (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 13 de dezembro de 2013 às 12h48.

São Paulo - O mercado de palestras corporativas no Brasil vem crescendo de forma ascendente na última década. As duas maiores agências do país especializadas em recrutar palestrantes — Palavra e Palestrarte, de São Paulo, e Parlante, de Brasília — chegam a ter de 15 a 30 consultas diárias e fecham cerca de 30 a 45 contratos por mês cada uma.

Levantamento exclusivo da VOCÊ RH com 31 empresas comprovou que a demanda existe. Quase 70% das companhias ouvidas buscaram esses profissionais com status de celebridade no decorrer de 2012. Juntas, as 21 empresas que responderam afirmativamente promoveram 38 palestras neste ano. O custo dessas contratações nunca é baixo.

Chamar alguém que já tinha (ou ganhou) fama de bom de palanque para falar uma horinha custa de 12 000 a 80 000 reais. Por isso mesmo, há quem afirme não usar mais esse recurso, preferindo promover os próprios funcionários para falar em público. Afinal, quando esse investimento vale a pena? A resposta para a maioria das empresas é simples: quando se quer causar impacto nas pessoas. 

A América Latina Logística (ALL), com sede em Curitiba, é uma das empresas que acreditam no poder de motivação que os palestrantes provocam no time. Há 14 anos, a companhia contrata esses profissionais para falar em suas reuniões trimestrais de fechamento, que servem como um grande evento de comunicação interna e reúnem 500 funcionários — entre acionistas e operacionais.

Segundo Melissa Werneck, diretora de gente e gestão da ALL, embora seja difícil mensurar o retorno desse investimento, é possível perceber o impacto que algumas palestras causam na rotina dos funcionários.

“O resultado é intangível nesse sentido, mas conseguimos percebê-lo, pois algumas frases faladas por esses palestrantes há dez anos na empresa são repetidas até hoje, viram metáforas internas, o que significa que a mensagem foi captada”, diz ela. “Não adianta achar que a vida das pessoas vai mudar por causa disso, mas, se gerou reflexão, já alcançamos um resultado.” 

A mesma linha de raciocínio é seguida por Soraia Lemos, gerente executiva de RH da AeC, empresa de tecnologia com mais de 22 000 funcionários, sediada em Belo Horizonte. Em 2012, ela contratou pela primeira vez um palestrante de fora para reiterar a mensagem das reuniões trimestrais que levam o nome de Metas e Caminhos.

“Quando se coloca somente alguém de dentro para falar, parece que são os diretores que esperam dos funcionários determinada coisa”, diz Soraia. “Mas, quando vem alguém de fora me inspirar com uma história legítima de superação, me sinto motivada a realizar.”


O palestrante escolhido foi o velejador Lars Grael, que, segundo Soraia, atingiu tanto as expectativas que ela pretende oferecer uma palestra dessa a cada reunião. “Os empregados encaram esse momento como um presente”, diz. “Afinal, em que outro momento da vida eles teriam a oportunidade de ouvir o Lars Grael pessoalmente?”

Esportistas também são os preferidos da ALL na hora de chacoalhar o time, desde que, claro, consigam fazer analogias com o universo do trabalho. Mas neste ano uma exceção agradou o público. A empresa, que já levou o Dunga para falar no momento em que ele, ainda técnico da seleção brasileira de futebol, se preparava para a Copa do Mundo da África do Sul, apostou num outro tipo de fala ao contratar Paulo Storani, ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), do Rio de Janeiro.

A mensagem “Missão dada é missão cumprida”, passada por ele de forma agressiva, mobilizou os funcionários numa das reuniões trimestrais que tinha o objetivo de motivar o time no cumprimento de metas anuais. “Ele foi o mais bem avaliado nos últimos três anos, com mais de 95% de aprovação”, diz Melissa. 

Celebridades corporativas

Paulo Storani é um dos nomes da moda nos palcos corporativos. Consultor do filme Tropa de Elite, sua trajetória serviu de inspiração para o personagem Capitão Nascimento. A continuação do filme — o Tropa de Elite 2 — bateu recorde de bilheteria e faturou 102 milhões de reais. Storani colhe os resultados da história e também vem faturando o dele.

Hoje, se dedica quase que integralmente ao mundo das palestras, chegando a fazer mais de 20 apresentações por mês, em que fala da importância da superação de desafios no ambiente competitivo de trabalho e do papel da liderança. O preço? Aproximadamente 25 000 reais por palestra. 

Ao lado dele, aparecem outros nomes no ranking dos preferidos das empresas, igualmente caros e respeitados (veja tabela Hall da Fama), como o técnico da seleção feminina de vôlei, José Roberto Guimarães, que, embora esteja no mercado de palestras há 20 anos, passou a ser mais assediado agora, após a conquista do ouro olímpico em Londres.


Outros, como o médico e educador Eugênio Mussak, mantêm uma agenda aquecida o ano todo. Dependendo da época, ele chega a fazer até três palestras por dia. 

Mas ninguém bate o filósofo Mario Sergio Cortella. Há dez anos, o também educador ocupa a posição do palestrante mais requisitado do país. Ele não tem data. Em novembro, já estamos trabalhando a agenda dele de maio”, afirma César Freire, dono da agência Parlante, no mercado há 12 anos. “Encaixamos palestras até aos sábados”, completa Priscila

Quando o funcionário é o palestrante

Se a maioria das empresas afirma que, sim, vale a pena contratar um palestrante de peso para impactar seus empregados, mantendo aceso esse mercado, há quem não acredite nessa fórmula. A Dell, fabricante de computadores, por exemplo, tem o costume de convidar os próprios executivos para dar palestras, tanto os que residem no Brasil quanto aqueles que vêm de outros países para reuniões ou visitas. 

A SAP segue o mesmo ritual. A empresa de tecnologia raramente contrata alguém de fora, preferindo promover a história dos próprios funcionários. “A teoria a gente já dá nos programas de treinamento, então, prefiro levar para os empregados depoimentos reais de colegas que ilustram as oportunidades dentro da empresa”, diz Paula Jacomo, diretora de RH. No ano passado, por exemplo, no lugar de contratar um bambambã para falar de carreira, Paula reuniu os funcionários de diversas áreas para contar suas trajetórias profissionais.  

O vice-presidente de recursos humanos da empresa de alumínio Novelis, José Renato Domingues, concorda que a apresentação do próprio empregado tem mais a ver com o mundo daquela audiência e enxerga nessa exposição outro ganho.

“Quem assiste se motiva porque pensa que um dia pode ser ele a se apresentar”, diz. Domingues utiliza esse recurso cerca de quatro vezes ao ano. Mas também aposta em nomes de fora quando a intenção é sensibilizar, com impacto, em relação a determinado tema.

“Deixamos de acreditar nisso como ferramenta de desenvolvimento e usamos como suporte de comunicação interna”, explica. Até dois anos atrás, tais palestras eram pensadas para um cronograma anual e realizadas até quatro vezes ao ano, mas o feedback de gestores, que achavam as palestras interessantes, porém sem resultados efetivos, fez com que o RH mudasse de estratégia.


Agora, elas são eventuais e a necessidade de contratação de alguém de fora só surge por uma demanda interna pontual, como aconteceu com Célia Leão, para falar sobre etiqueta corporativa.

“A demanda surgiu dos próprios funcionários que procuravam o RH com dúvidas sobre como se portar em um ambiente como o nosso”, diz Domingues. Para ele, o objetivo da palestra não é mudar comportamento, por isso, não está relacionado a desenvolvimento.  “Se a intenção é gerar uma percepção diferente sobre um tema, o investimento vale a pena”, afirma.

Para tornar a absorção da mensagem mais eficaz e, quem sabe, promover uma mudança de comportamento, a equipe de RH da Novelis costuma fazer um follow-up após as palestras. “Muitas vezes montamos workshops em cima dos temas para que os gestores saiam de lá com um plano de ação de como colocar aquilo em prática”, diz.  

Essa é, aliás, uma recomendação das agências. “Se a empresa contrata alguém por 30 000 reais, não pode jogar aquele conhecimento fora, tem que dar continuidade à mensagem que foi passada. É sempre indicado fazer um acompanhamento para ver de que forma os líderes podem continuar disseminando e colocando aquele conteúdo em prática”, orienta Ana Tikhomiroff, da Palestrarte, no mercado há dez anos.     

Outras dicas importantes para fazer o investimento valer a pena é contratar a pessoa certa para o público certo. Antes de buscar o nome da moda, faça uma análise do público, o que ele espera de tal evento, quais os temas e as deficiências a serem trabalhados, assista a vídeos do palestrante e, quando o contratar, converse com ele pessoalmente sobre a mensagem que quer passar. Dessa forma, os resultados serão mais eficientes e transformadores e o dinheiro não terá sido jogado fora.


A bola da vez

Aos 58 anos, José Roberto Guimarães divide seu tempo entre a seleção brasileira de voleibol feminino, o time Amil Campinas e a agenda de palestras, que passou a ser ainda mais concorrida depois do tricampeonato olímpico, conquistado em Londres neste ano. Ele chega a receber mais de 20 convites por mês, mas atende, no máximo, a cinco deles.

“Desde a primeira medalha olímpica, em Barcelona, em 1992, comecei a ser convidado para ministrar palestras, e decidi entrar no ramo. Mas, de oito anos para cá, as consultas se intensificaram”, diz. Em suas apresentações, o técnico conta histórias das equipes com quem já trabalhou e faz um paralelo com o mundo corporativo. 

Qual tem sido a principal necessidade das empresas que o contratam?

José Roberto Guimarães - Hoje muitas empresas são como nós, da seleção: o time a ser batido. Manter-se no primeiro lugar é sempre muito difícil. Precisamos trabalhar, treinar ainda mais do que havíamos feito anterior mente. Para isso, precisamos da equipe comprometida, em que todos tenham o mesmo objetivo.  

Por que você acha que sua mensagem tem tido tanta repercussão?

José Roberto Guimarães - Sendo o segundo esporte do país, as pessoas têm acompanhado o vôlei e nossa trajetória mais de perto e, nos Jogos Olímpicos de Londres, especificamente, viram que estávamos próximos de voltar sem medalha, e essa superação da equipe toda, para todos que a assistiram, foi surpreendente.

Quais semelhanças existem entre o vôlei e o ambiente corporativo?

José Roberto Guimarães - Temos objetivos a serem conquistados, metas a serem batidas, concorrentes e adversários que precisam ser estudados. Temos sempre que buscar diferenciais para alcançarmos nossos objetivos, lidamos com pessoas diferentes, de diversas regiões do país, com culturas diferentes e representamos um país, ou seja, vestimos uma camisa. São, portanto, muitas as semelhanças. 

Acompanhe tudo sobre:Edição 24gestao-de-negociosMotivaçãoTreinamento

Mais de Carreira

Ele trabalha remoto e ganha acima da média nacional: conheça o profissional mais cobiçado do mercado

Não é apenas em TI: falta de talentos qualificados faz salários de até R$ 96 mil ficarem sem dono

Ela se tornou uma das mulheres mais ricas dos EUA aos 92 anos – fortuna vale US$ 700 mi

Entrevista de emprego feita por IA se tornará cada vez mais comum: ‘É real, está aqui'