Carreira

“Sem esforço não há crescimento”, diz Marcelo Tangioni, que hoje é CEO da Mastercard Brasil

Aos 16 anos ele deixou o campo de futebol para apostar no mundo dos negócios e hoje toca, além da operação brasileira da multinacional – a guitarra na banda da firma

Marcelo Tangioni, CEO da Mastercard Brasil: “Um bom líder é aquele que sabe influenciar sem usar a força hierárquica" (Mastercard Brasil /Divulgação)

Marcelo Tangioni, CEO da Mastercard Brasil: “Um bom líder é aquele que sabe influenciar sem usar a força hierárquica" (Mastercard Brasil /Divulgação)

Publicado em 17 de janeiro de 2025 às 08h08.

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“No pain, no gain” (“sem esforço, sem ganho”), essa é uma mensagem que marca a vida de Marcelo Tangioni, atual CEO da Mastercard Brasil. Ele viu a frase em um campeonato de futebol enquanto fazia intercâmbio nos Estados Unidos, ainda na adolescência. “Carrego essa frase comigo até hoje. Afinal, sem esforço, não há crescimento; e isso vale para a vida pessoal, esportiva e corporativa”, afirma o presidente aos 55 anos.

A oportunidade de fazer uma transição de carreira chegou cedo para Tangioni. Aos 16 anos, ele teve que decidir se escolheria uma bolsa em uma universidade americana para seguir a carreira de atleta ou voltar para o Brasil e construir uma carreira executiva.

O resultado é possível ver hoje com Tagioni ocupando o cargo de CEO da Mastercard Brasil, mas para chegar ao topo de uma multinacional foi preciso mais de que esforço. Foi preciso ter ousadia para arriscar sempre em algo novo nos mais de 20 anos na Mastercard.

O jogador que virou executivo

Tangioni nasceu em São Paulo, mas foi na cidade de Santo André onde viveu até os 30 anos. Seu pai, junto com o seu avô materno, fundaram uma fábrica de estopa na década de 1960, e a convivência com os altos e baixos do empreendimento familiar influenciou sua visão de resiliência. “Aprendi muito com meu pai sobre como lidar com momentos difíceis, estar preparado para imprevistos e a importância de ser resiliente. Essa é uma das principais características que carrego em minha carreira”, diz o CEO.

Desde criança, o hobby de Tangioni tinha alguma relação com o esporte. Passou por natação, judô, mas foi no futebol que ele se encontrou. Chegou a jogar em ligas amadoras e federadas no Brasil, passando por times como Tênis Clube de Santo André e Paulistano, jogando contra Juventus e Portuguesa; mas foi nos Estados Unidos que a carreira de atleta quase virou uma realidade. Durante o intercâmbio, Tangioni foi convidado a integrar o time de futebol americano de sua escola, se destacando como kicker - o famoso ‘chutador’. “Quebrei o recorde do chute mais longo e fui para a seleção do estado do Arizona. Recebi três convites de bolsas universitárias, tanto para o futebol de campo quanto para o futebol americano”, conta.

Aos 16 anos, muitos jovens decidem a profissão que desejam seguir e foi assim com Tangioni, que teve que escolher entre o esporte e a área corporativa. Um problema no joelho e a percepção de que não alcançaria o nível de destaque desejado como atleta profissional o fez desistir da carreira de atleta.

“Eu sabia que, no máximo, seria um jogador mediano. Eu tinha um senso de autocrítica grande. Foi uma escolha difícil, mas optei por transformar o esporte em um hobby e buscar uma carreira profissional”, afirma o executivo que durante a entrevista estava com uma bolsa quente no joelho, que o lembra até hoje a decisão que ele tomou.

O esporte não traz apenas boas lembranças, mas também lições que moldaram muitas de suas competências como líder. “O esporte me ensinou sobre trabalho em equipe, disciplina e a lidar com derrotas e vitórias, lições que aplico até hoje na vida corporativa”, diz Tangioni que de volta ao Brasil, estudou marketing e apostou em uma nova rota em sua jornada profissional.

Os primeiros passos no mercado financeiro

A carreira de Tangioni começou no mercado financeiro e foi no Bank Boston, um banco americano, que ele teve a oportunidade de participar de um programa de treinamento. Apesar de não ser seu objetivo inicial trabalhar em bancos, foi ali que ele desenvolveu diferentes habilidades. “Passei por diversas áreas, como marketing, produtos, tesouraria e vendas. Essa diversidade foi uma base de conhecimento que levei para toda a minha carreira”, afirma.

Um dos grandes desafios de Tangioni na época foi mudar a percepção negativa que os clientes tinham sobre os serviços bancários. “Não havia digitalização, e o atendimento presencial era cheio de problemas, como filas e reclamações nos call centers. Trabalhar para melhorar essa experiência foi algo extremamente desafiador”, conta.

Essa vivência não apenas o preparou para futuros desafios, mas também o ensinou a abraçar a diversidade de experiências como uma vantagem competitiva. “Eu sempre digo que não sou especialista em nada, mas consigo fazer bem muitas coisas diferentes. Essa versatilidade se tornou uma das minhas principais competências”, diz o CEO.

22 anos de Mastercard: como manter uma carreira longeva e em evolução?

Depois de uma década no Bank Boston, Tangioni decidiu buscar novos desafios e encontrou na Mastercard a oportunidade de explorar o setor de pagamentos eletrônicos, que estava em plena transformação. “O mercado financeiro já havia me proporcionado uma base sólida, mas eu queria estar em uma indústria que estivesse em expansão e se reinventando”, conta.

Em 2002, ele ingressou na Mastercard em uma posição ligada à gestão de produtos, que logo se expandiu para áreas mais amplas. “Era um momento em que a empresa estava se preparando para uma revolução. Tivemos o IPO e a transição de uma empresa monoproduto para uma líder em tecnologia e serviços”, afirma Tangioni. “Hoje, mais de um terço do nosso resultado global vem de serviços que vão além do transacional”.

Durante sua carreira, Tangioni assumiu posições internacionais, como em Nova York e Miami, e liderou a operação no Caribe. Esses desafios foram cruciais para seu desenvolvimento como líder. Ele lembra, por exemplo, de momentos em que precisou se reinventar.

“Houve situações em que fiquei sem posição e precisei buscar novas oportunidades dentro da empresa. Isso me ensinou a importância de sair da zona de conforto, ter flexibilidade e ser proativo”, diz.

Os três passos para alcançar a cadeira de CEO

A conquista do cargo de CEO da Mastercard Brasil, em 2022, foi resultado de uma combinação de características fundamentais, afirma Tangioni, que destaca três passos importantes:

  • Flexibilidade e adaptabilidade: Tangioni nunca permaneceu mais de três anos na mesma posição e sempre buscou constantemente novos aprendizados. “Se eu tivesse ficado numa posição por muito tempo, teria buscado outros ares. A mudança constante foi fundamental para eu ficar tanto tempo na mesma empresa”, afirma.
  • Networking estratégico: outro fator essencial, segundo o CEO, foi comunicar suas aspirações às pessoas certas. Durante sua trajetória, ele buscou o apoio de líderes que já o conheciam e acreditavam em seu potencial. “Conversei com o presidente da América Latina e fui claro sobre meu desejo de mudar de área e assumir novos desafios. Essa comunicação aberta fez toda a diferença na minha evolução dentro da empresa”, conta.
  • Resiliência: Tangioni aprendeu desde cedo a importância da resiliência, observando os altos e baixos da empresa familiar de seu pai. “Esse aprendizado me ajudou a enfrentar períodos de incerteza e a persistir em busca de novas oportunidades, mesmo em cenários difíceis, como os momentos em que fiquei sem um cargo”, afirma o CEO.

As duas características de uma boa liderança

Quando o assunto é liderança, Marcelo acredita que a chave é ser inspirador e empático. “Um dos grandes erros de um líder é pensar que existe uma receita que funciona para sempre. A minha resposta sobre qual é o meu estilo de liderança é: depende”, conta.

Os mais de 20 anos atuando como líder na Mastercard deixa uma lição bem clara para Tangioni. Para ele, um bom líder é aquele que sabe influenciar sem usar a força hierárquica. “O desafio real é influenciar não apenas seu time direto, mas seus pares, o mercado e toda a organização sem depender do uso da força estrutural”, afirma.

Do futebol à música: o hobby que conecta pessoas

Já faz 10 anos que Tangioni teve que se aposentar literalmente dos campos de futebol. O joelho não o permite praticar o esporte que tanta gosta; mas na pandemia, ele encontrou um novo hobbie: a música. Durante o período de lockdown, ele ganhou da esposa 6 meses de aula de guitarra, ainda quando morava nos Estados Unidos. O resultado? Foi a criação de uma banda em Miami, chamada Mr. Bones.

"Tudo começou com uma jantar na minha casa com um casal de amigos do trabalho. Quando começamos a flexibilizar, os ensaios da banda eram realizados na minha casa, no final de semana", diz o CEO". "Um dia, a empresa ficou sabendo que estávamos montando uma banda e tivemos que fazer a primeira apresentação".

Ao retornar ao Brasil, a história da banda que surgiu na filial dos Estados Unidos inspirou a criação da Master Band, formada por funcionários da Mastercard no Brasil. “A banda tocou na nossa festa de fim de ano e foi um sucesso. O próximo evento será o Dia da Família, que estamos organizando para março”, diz o CEO que chegou a tocar uma música com a banda brasileira na festa com os funcionários.

Os planos da Mastercard Brasil para 2025

A Mastercard faturou globalmente 3,3 bilhões de dólares no terceiro trimestre de 2024, com alta de 3% na comparação anual, e projeta um crescimento para 2025, considerando as inovações. Para isso, o CEO afirma que a companhia está investindo em frentes estratégicas, como a digitalização e inclusão financeira. Entre as inovações estão soluções como o Click to Pay, que promete transações online mais rápidas e seguras, e o Passkey, que busca eliminar senhas por meio de autenticação biométrica digital e facia. “A Mastercard prometeu acabar com as senhas até 2030, e o Brasil é pioneiro em muitas dessas inovações”, diz.

Quanto à trajetória profissional, o plano de Tangioni é de continuar liderando as transformações que a multinacional vivenciará nos próximos anos. "E volto a lembrar daquela frase que vi quando garoto: 'no pain, no gain'. Sigo motivado a ter os melhores resultados neste ano, seja dentro e fora da empresa".

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