Carreira

“Seja o CEO da sua carreira”, diz brasileiro que há 25 anos dirige um dos maiores parques dos EUA

A Universal Destinations & Experiences é conhecida por seus resorts e parques temáticos em Orlando, com atrações como Harry Potter e Minion. O paulista Marcos Barros lidera as vendas do grupo há mais de 2 décadas – mas não chegou ao cargo de VP em um passo de mágica

Marcos Barros, da Universal Destinations & Experiences: “Ser líder é menos sobre você e mais sobre os outros. É sobre empatia, delegar, desenvolver sua equipe e, acima de tudo, se conhecer bem” (UDX/Divulgação)

Marcos Barros, da Universal Destinations & Experiences: “Ser líder é menos sobre você e mais sobre os outros. É sobre empatia, delegar, desenvolver sua equipe e, acima de tudo, se conhecer bem” (UDX/Divulgação)

Publicado em 14 de setembro de 2024 às 11h01.

Última atualização em 15 de setembro de 2024 às 00h25.

Tudo sobreOrlando (Flórida)
Saiba mais

Como manter a longevidade de uma carreira com sucesso? Diante dos desafios do mercado de trabalho, que se torna cada vez mais competitivo, escolher uma profissão e conseguir evoluir nesta carreira pode ser considerada para muitos como sorte, para outros uma escolha.

Para o brasileiro Marcos Barros, ele considera como sorte ter conhecido bons profissionais no caminho, mas foram suas escolhas que o ajudaram a somar 25 anos de trabalho na Universal Destinations & Experiences e a alcançar o atual cargo de vice-presidente de marketing & vendas da companhia americana.

A Universal Destinations & Experiences pertence a NBCUniversal, grupo americano de indústria de mídia e entretenimento. Alcançar um cargo de destaque na empresa que comanda famosos parques temáticos e resorts em Orlando (EUA) é o resultado de uma trajetória que não envolve nenhuma mágica, mas sim uma realidade marcada por escolhas, desafios e muitos aprendizados.

Com exclusividade à EXAME, o executivo Marcos Barros compartilha suas lições de carreira que o levaram a ter sucesso dentro e fora do Brasil por mais de duas décadas.

Escolha onde quer chegar

A escolha da carreira é um dilema comum entre jovens, e para Barros não foi diferente. Aos 17 anos, ele se viu dividido entre jornalismo, publicidade e administração de empresas. Seguindo os passos do pai, optou pela administração, buscando uma formação que lhe permitisse atuar em áreas diversas como RH, finanças, marketing e vendas.

Antes de terminar a graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, Barros começou a trabalhar no setor financeiro. Participou de um programa de trainee do Lloyds Bank, banco inglês presente no Brasil há alguns anos. Apesar da experiência ser enriquecedora, ele sentia que ainda não era ali que ele desejava atuar.

“É preciso ter coragem para escolher o seu destino. Durante o programa eu percebi que a área financeira não era para mim e fui buscar outra experiência”, afirma Barros.  

Em 1994, no último ano de faculdade, uma oportunidade inusitada surgiu: uma vaga na área de marketing de uma consultoria que representava os parques aquáticos Wet ‘n Wild no Brasil. Barros decidiu arriscar, mesmo sabendo que a mudança significava um salário menor e a entrada em uma indústria ainda incipiente no país.

“Foi arriscando no novo que eu acabei bebendo dessa água da indústria de parques e entretenimento e nunca mais saí”, afirma Barros.

Para o brasileiro que trabalha há mais de 25 anos na Universal, todo profissional precisa entender que é importante ser o dono da sua carreira.

“Você precisa ser o CEO da sua carreira, apostando em algo que traga satisfação e propósito. É você que decide onde quer chegar”.

Como tudo começou na Universal

O convite para trabalhar na Universal Destination & Experiences chegou em 1999. A proposta foi para ser gestor do escritório da divisão de parques da Universal no Brasil.

“A minha primeira e principal tarefa era começar esse relacionamento com as operadoras de turismo do Brasil, porque passávamos pela primeira transformação do nosso complexo de parques em Orlando”, afirma Barros.

O primeiro parque temático da Universal Studios Flórida foi aberto em 1990 e só em 1999 foi aberto o segundo parque temático, o Universal Islands of Adventure, o primeiro hotel Portofino Bay Hotel, além da área de entretenimento noturno, lojas e restaurantes.

“Estávamos passando de um parque para um complexo de parques com hotéis e restaurantes e lojas, gerando desde então essa visão de que no futuro nos tornaríamos um destino completo de férias”, diz.

A expansão do negócio continuou a todo vapor. Após escritório no Reino Unido e no Brasil, logo surgiu a necessidade da Universal abrir um escritório no México.

“Percebi que havia uma oportunidade de crescimento na América Latina. Foi quando eu tomei a iniciativa de ir para a escola e aprender o espanhol formalmente”, afirma o executivo brasileiro que abriu os escritórios no Brasil e no México.

Quando a oportunidade de dirigir operações além do Brasil apareceu, Barros levantou a mão e se tornou em 2008 o diretor para a América Latina, tendo visitado mais de 10 países da região.  Três anos depois, se tornou diretor sênior para a América Latina e em 2015 chegou o convite para se mudar com a família para Orlando.

“Não podemos nunca parar de aprender. Temos que continuar estudando, absorvendo conteúdos relevantes para a carreira, porque o mundo não para.”

Em 2017, menos de dois anos depois de ter se mudado para os Estados Unidos, Barros foi promovido a vice-presidente da América Latina em marketing e vendas da Universal, cargo que ocupa até hoje.

Atualmente, a Universal Destinations & Experiences engloba 11 hotéis e 5 parques temáticos nos Estados Unidos e Ásia. Em Orlando, estão os parques conhecidos mundialmente por atrações como Harry Potter, Shrek  Minion.

O desafio da carreira internacional

Trabalhar em outro país tem seus bônus, mas também seus desafios. A começar pela cultura de trabalho americana, que, segundo Barros, é definida pela objetividade.

“Os americanos são muito diretos no sentido de começar o dia às 9 da manhã e até às 5 horas da tarde. Não tem intervalos de almoço que estamos acostumados no Brasil. As reuniões são muito práticas e objetivas, com horário para começar e horário para terminar”, diz.

Por outro lado, Barros afirma que os brasileiros são “mais quentes” quando o recorte é relacionamento - algo que ele sente falta do Brasil.

“Digo o relacionamento que construímos com colegas de trabalho e que acabam virando amigos de longa data. Culturalmente, os americanos são um pouco mais frios e afastados, mas por outro lado, são muito profissionais e muito eficientes no uso da sua rotina, da sua hora de trabalho.”

Para quem deseja construir uma carreira internacional, Barros aconselha: além do domínio do inglês e do espanhol, é crucial ter flexibilidade para se adaptar a novas culturas e realidades.

“O que te trouxe até aqui não vai necessariamente te levar adiante”, afirma ele, ao contar como foi essencial desenvolver uma nova rede de contatos e aprender as dinâmicas de trabalho no exterior.

Lições de liderança

Com mais de duas décadas liderança equipes dentro e fora do país, liderança também é um tema central na visão de carreira de Barros. Para ele ser um bom líder vai além de gerenciar.

“Ser líder é menos sobre você e mais sobre os outros. É sobre empatia, delegar, desenvolver sua equipe e, acima de tudo, se conhecer bem”, conta.

Ele ainda ressalta a importância de ter uma postura diplomática. "Você não vai ganhar todas as batalhas, então é preciso ser flexível, encontrar o meio-termo".

Para chegar neste lugar, não há mágica, mas sim muita dedicação e disciplina, afirma Barros.

“Primeiro, você tem que conhecer muito o que você faz, você tem que dominar a sua área. Segundo, você tem que entregar aquela tarefa no maior nível possível, sem pensar na promoção inicialmente”, diz.

“É natural termos ambição, mas você não pode trabalhar pensando só no próximo cargo. Seja o melhor aonde está que oportunidades melhores chegarão”.

Se voluntariar para fazer outras atividades que não está necessariamente no seu escopo e fazer algo novo, também é uma estratégia para o desenvolvimento de uma carreira.

“Se te pedirem para fazer alguma atividade, faça e entregue da melhor forma possível. Acho muito importante você entender o conceito de liderança antes mesmo de você ser líder", diz Barros.

O segredo de um bom vendedor

Para o brasileiro que lidera a gestão de marketing e vendas da Universal Destinations & Experiences, o segredo para ser um bom vendedor está em saber ouvir e entender o cliente.

“Muitos pensam que o vendedor tem que falar muito, mas na realidade o vendedor tem que entender o seu público e para isso ele precisa aprender a ouvir, para entregar o melhor serviço ou produto na hora certa”.

Timidez também não é um obstáculo. Segundo Barros. Considerado introvertido e tímido, o executivo disse que essa característica não o impediu de ser bem-sucedido na área de vendas.

“Ouvir mais e falar menos pode ser uma vantagem nessa área. Se você tiver bons ouvidos, se você puder entender o seu cliente, você vai entregar aquilo que ele quer e será um vendedor bem-sucedido.”

Quanto maior o desafio, maior a visão

Durante a jornada como gestor do grupo americano, Barros destaca o dia 11 de setembro e a pandemia como os maiores desafios já enfrentados.

No caso da pandemia, que foi a crise mais recente, a empresa adotou medidas para manter as operações da Universal de pé em meio ao fechamento dos parques.

"Nós ousamos planejar a reabertura desde o primeiro momento, mesmo sem saber quando isso seria possível. E isso nos colocou à frente no mercado", afirma.

A empresa optou por reter o máximo possível de seus funcionários e a aposta na tecnologia foi decisiva, com o desenvolvimento de filas virtuais e pedidos via aplicativo, para garantir a segurança dos visitantes.

“Não paramos de investir mesmo na pandemia, tanto que abrimos um novo complexo de parques temáticos em Pequim, na China, o Universal Beijing Resort, assim como novas atrações em Orlando”, diz o executivo que reforça que todas as medidas consideraram as normas sanitárias.

Os parques foram reabertos com até 25% da capacidade, após três meses fechados. “O momento exigiu de todos os executivos uma visão de longo prazo e muita inovação para recuperar o prejuízo após a crise”.

O segredo do sucesso é ser um eterno aprendiz

Para Barros, que saiu de São Paulo para vender um dos maiores complexos de parques e resorts de Orlando para o mundo, a lição que mais marca a sua trajetória longeva de 25 anos foi o aprendizado contínuo.

"O mundo é muito volátil. Quanto mais informados estivermos e abertos a novas perspectivas, mais amplamente conseguiremos enxergar e tomar decisões estratégicas”, diz.

O desafio do executivo brasileiro continua. Em 2025 um novo parque temático será inaugurado em Orlando, o chamado Epic Universe. O parque contará com cinco áreas temáticas, incluindo Super Nintendo World, Universal Monsters, The Wizarding World of Harry Potter - Ministry of Magic, e uma área baseada em Como Treinar o Seu Dragão. Três novos hotéis também serão lançados, incluindo o Universal Helios Grand Hotel, com entrada exclusiva para o parque. Além disso, a Universal planeja abrir a atração permanente Universal Horror Unleashed em Las Vegas, inspirada no popular evento Halloween Horror Nights.

Acompanhe tudo sobre:Orlando (Flórida)Dicas de carreiraDisneyEstados Unidos (EUA)Ambiente de trabalho

Mais de Carreira

Como responder "Como você lida com a pressão?" na entrevista de emprego

Como desenvolver habilidades de comunicação escrita eficazes

Agulha no palheiro: este é o líder que as empresas procuram, mas poucos estão prontos para o desafio

Como manter o espírito inovador sendo enorme, segundo o CEO da Heineken