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Reskilling e upskilling: 170 milhões de posto de trabalho serão criados até 2030; como se preparar?

O novo estudo do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro do trabalho afirma também que 92 milhões de postos serão extintos em 5 anos – mas como escapar dessa estatística e ter sucesso na carreira?

Adriano Mussa, diretor acadêmico da Saint Paul Escola de Negócios: “A disrupção tecnológica pode ser uma oportunidade ou um risco. Tudo depende de como nos preparamos para ela" (Saint Paul Escola de Negócios/Divulgação)

Adriano Mussa, diretor acadêmico da Saint Paul Escola de Negócios: “A disrupção tecnológica pode ser uma oportunidade ou um risco. Tudo depende de como nos preparamos para ela" (Saint Paul Escola de Negócios/Divulgação)

Publicado em 13 de janeiro de 2025 às 16h32.

Última atualização em 13 de janeiro de 2025 às 16h55.

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O mercado de trabalho está atravessando uma profunda transformação impulsionada pela inteligência artificial (IA) e outros avanços tecnológicos. Segundo o relatório The Future of Jobs Report, do Fórum Econômico Mundial, divulgado na última semana, a expectativa é de que 170 milhões de empregos sejam criados e 92 milhões extintos até 2030.

“É a primeira vez em anos que o relatório indica uma estimativa líquida positiva de 78 milhões de novos postos de trabalho até 2030”, afirma Adriano Mussa, diretor acadêmico da Saint Paul Escola de Negócios (que agora faz parte da EXAME).

O estudo, que reuniu dados de mais de mil líderes globais, em 22 setores da economia e de 55 países, aponta um ponto interessante, que vai além da criação e extinção de empregos: a transformação de funções que permanecem no mercado.

O que mais chama a atenção no estudo global este ano, segundo Mussa, não é o número absoluto de empregos que vão deixar de existir, mas a baixa similaridade entre as competências necessárias para os empregos que surgem e as que desaparecem. "Isso é altamente disruptivo e exige uma adaptação rápida de profissionais e organizações", conta o professor.

A revolução silenciosa das competências

Entre as profissões avaliadas no estudo, Mussa, que analisa o estudo do Fórum Econômico Mundial há anos, afirma que há um "miolo" de empregos que permanece ativo, mas que enfrenta transformações significativas nas competências exigidas.

“Cargos como gerente financeiro ou analista de marketing continuam a existir, mas demandam habilidades completamente diferentes devido à adoção de novas tecnologias”, conta.

Como exemplo, o diretor da Saint Paul indica a profissão de radiologista, que, apesar das previsões catastróficas de extinção, viu sua demanda crescer. "Radiologistas que dominam ferramentas de IA são mais valorizados, enquanto aqueles que não se adaptam ficam fora do mercado", afirma Mussa.

Reskilling e upskilling – como fazer?

Reskilling e upskilling são conceitos fundamentais para a adaptação dos profissionais às transformações do mercado de trabalho.

  • Reskilling: significa requalificação e se refere ao aprendizado de novas habilidades para desempenhar funções diferentes das atuais. É ideal para profissionais cujos cargos estão em risco de extinção devido a mudanças tecnológicas ou econômicas.
  • Upskilling: significa aprimoramento de habilidades e consiste em desenvolver competências adicionais ou mais avançadas dentro da mesma área ou função. É voltado para melhorar o desempenho do profissional no cargo atual, tornando-o mais preparado para lidar com as novas demandas do mercado.

Com as rápidas mudanças trazidas pela tecnologia, como a inteligência artificial, muitas profissões estão desaparecendo ou sendo transformadas – e o estudo do Fórum Econômico Mundial traz esses indicadores. Quando o recorte é Brasil, o relatório global mostra uma grande similaridade com o cenário global, incluindo a necessidade de reskilling em cerca de 39% das competências. Contudo, Mussa alerta que o Brasil perdeu a janela para se tornar um produtor de IA, mas ainda pode se destacar como um usuário avançado dessa tecnologia. "Para isso, é crucial investir em programas de MBA e treinamentos em IA, tanto pelas empresas quanto pelos próprios profissionais", afirma.

As competências do futuro

Considerando os 55 países que participaram do estudo global, essas serão as habilidades que serão exigidas nos próximos anos:

  • Pensamento analítico (69%).
  • Resiliência, flexibilidade e agilidade (67%).
  • Liderança e influência social (61%).
  • Pensamento criativo (57%).
  • Motivação e autoconhecimento (52%).
  • Alfabetização tecnológica (51%).
  • Empatia e escuta ativa (50%).
  • Curiosidade e aprendizado contínuo (50%).
  • Gestão de talentos (47%).
  • Orientação para o serviço e atendimento ao cliente (47%).
  • IA e Big Data (45%).
  • Pensamento sistêmico (42%).
  • Gestão de recursos e operações (41%).
  • Confiabilidade e atenção aos detalhes (37%).
  • Controle de qualidade (35%).

Neste cenário, Mussa reforça a importância de combinar as qualificações tecnológicas com as humanas. "Precisamos dominar a IA e, ao mesmo tempo, desenvolver competências exclusivamente humanas," diz. “A tecnologia é essencial para qualquer profissional e as habilidades humanas são atributos que as máquinas não conseguem replicar”.

Os desafios do tripé educacional

O avanço do reskilling depende de uma colaboração entre indivíduos, organizações e governos, mas considerando essas três áreas, Mussa tem mais esperança de que empresas e trabalhadores liderem esse movimento.

"Não podemos perder esse bonde tecnológico, que pode ser uma oportunidade de aumentar nossa produtividade e impulsionar o PIB do país", afirma. “Empresas precisam investir mais na qualificação de seus profissionais, assim como os profissionais em suas carreiras”.

O impacto dos fatores globais

Além da tecnologia, outros fatores estão acelerando a disrupção no mercado de trabalho, como mudanças demográficas, crises geopolíticas, transição para a sustentabilidade e desaceleração econômica. Esses elementos, segundo Mussa, são "o combustível da disrupção" e reforçam a urgência de adaptação.

O relatório também chama atenção para a ascensão da IA generativa, que está transformando tarefas cognitivas.

“O diferencial das ferramentas de IA generativa está na sua habilidade de executar três ações essencialmente humanas: ler, escrever e conversar. Segundo especialistas, esses três verbos estão no cerne de muitas atividades profissionais e agora podem ser potencializados pela tecnologia”, afirma Mussa.

Apesar das oportunidades, os desafios são claros. O Fórum Econômico Mundial alerta para a necessidade de incluir o ser humano no centro dessa transformação. Isso significa investir em requalificação (reskilling) e adotar abordagens éticas para o uso da IA, reforça Mussa.

"A IA começou com o humano e depende do humano para existir. Isso traz esperança, mas também exige adaptação. A disrupção tecnológica pode ser uma oportunidade ou um risco. Tudo depende de como nos preparamos para ela".

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