Carreira

Razões para ser mais proativo no trabalho

Profissionais que só agem mediante a cobrança do gestor têm menos chance de ter promoção ou aumento de salário

Pesquisa deu origem ao livro "Empresas Proativas: Como Antecipar Mudanças no Mercado", lançado pela Editora Campus/Elsevier no fim de 2011

Pesquisa deu origem ao livro "Empresas Proativas: Como Antecipar Mudanças no Mercado", lançado pela Editora Campus/Elsevier no fim de 2011

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Da Redação

Publicado em 8 de novembro de 2012 às 15h19.

São Paulo - Alexandre Mutram, diretor de atendimento da agência Tudo, em São Paulo: "Se eu não fosse ativo, minha carreira teria estagnado". A palavra “proatividade” entrou para o vocabulário corporativo há muito tempo. Seu significado, em bom português, descreve a habilidade de partir para a ação sem ficar esperando o chefe mandar. Pessoas proativas procuram informações e oportunidades para fazer as coisas acontecerem. Seis em cada dez empregadores citam esse comportamento como uma das cinco atitudes que mais procuram nos candidatos a uma vaga de emprego.

O dado é de uma pesquisa feita no ano passado com 48 executivos de recursos humanos para o guia As Melhores Empresas para Começar a Carreira, publicado pela VoCÊ S/a. Com equipes cada vez mais enxutas, os funcionários precisam ser muito mais eficientes. os recrutadores acrescentam que há atualmente maior demanda do presidente para que as equipes sejam mais produtivas. Segundo uma sondagem recente da consultoria Hay Group, as organizações no Brasil precisam aumentar o desempenho operacional — uma das medidas de produtividade — em 6%.

“Pessoas proativas buscam naturalmente novos desafios, procuram respostas diferentes para os problemas e engajam as pessoas. A proatividade está intimamente relacionada ao aumento de produtividade”, diz Glaucy Bocci, gerente e líder da prática de liderança e talento da Hay Group Brasil. Outro significado para proatividade diz respeito à capacidade de antever a mudança de contexto interno, ou o cenário de negócios, e agir. Sob essa perspectiva, os professores Leonardo Araújo e Rogério Gava, ambos da Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte, estudaram durante cinco anos o comportamento de 257 organizações no Brasil para entender como os funcionários, em especial os líderes, podem atuar de forma proativa.

O resultado deu origem ao livro Empresas Proativas: Como Antecipar Mudanças no Mercado, lançado pela Editora Campus/Elsevier no fim de 2011. No livro, os professores usam a palavra “ativo” para definir empresas e pessoas que tomam a iniciativa antes dos outros. O contrário disso são os empregados reativos, que respondem às mudanças de cenário e contexto. A conclusão dos dois: organizações reativas se tornam obsoletas, perdem participação no mercado e, no limite, fecham suas portas. Para o profissional, o diagnóstico é parecido: estagnação na carreira e demissão. “Ser proativo é uma escolha. É engano pensar que essa atitude é algo que nasce com a pessoa. É possível desenvolvê-la, basta querer”, diz Leonardo Araújo. 


Buscar a orientação de gente mais experiente, reconhecida pela capacidade de agir e de propor novidades, pode ensinar como ser ágil e dar as respostas certas antes dos colegas de equipe. Cuidado para não ser tachado de bajulador. “Para evitar essa confusão, seja coerente com suas atitudes e aja de maneira objetiva e profissional”, diz Vera Costa, consultora organizacional e coach do Instituto EcoSocial, de São Paulo. Buscar novos conhecimentos, ver tendências e novidades fora de seu cargo e mercado são obrigações para quem quer ser reconhecido como proativo. “Entre as características desse perfil estão a indignação e o questionamento. O importante é não ficar preso à sua atividade”, diz Vera.

O catarinense Roberto Silveira, de 41 anos, conseguiu sair da condição de candidato à demissão da empresa de representação de calçados, na região de Itajaí, em Santa Catarina, para se tornar o campeão nacional de vendas com louvor em 2011 pela própria fabricante. Com o objetivo traçado, Roberto começou a estudar, a se informar sobre tudo o que acontecia no mercado e traçar estratégias de negócios. Desde então já ganhou vários prêmios de reconhecimento pelas ideias que teve para aumentar as vendas, como iPad, viagem e um carro zero.

“Depois disso, resolvi sair da companhia e abri minha própria representação. Eu queria ser reconhecido profissionalmente.” Segundo Leonardo Araújo, da Dom Cabral, o papel do líder é fundamental para desenvolver a proatividade do time. No livro, os pesquisadores mostram que existem quatro comportamentos que motivam uma atitude mais ativa diante do trabalho. A primeira delas tem a ver com a inspiração.

“Líderes que creem na mudança fazem as pessoas acreditarem que ela é possível. Eles criam e comunicam essa visão. Ao fazer isso, geram confiança e entusiamo”, diz Leonardo. Steve Jobs é o exemplo mais emblemático. Os funcionários da Apple continuam tocando a organização de acordo com os mesmos preceitos de seu fundador, morto em outubro do ano passado. A segunda atitude do chefe é o que Leonardo e Rogério chamam de “estimulação”, e diz respeito às novas formas de enxergar velhos problemas.


A terceira ação é o reconhecimento. Mostrar ao time que a atitude ativa de um funcionário é valorizada. Por último, há o carisma. Ele faz do líder um modelo e exemplo a ser seguido. Claro, para isso o líder deve ser um exemplo de proatividade. O paulista Alexandre Mutram, de 39 anos, é uma dessas pessoas que sempre fazem as coisas antes que lhe peçam. Ele se inspirou num chefe que constantemente o incentivava a partir para a ação.

“Ele dizia que ‘na dúvida chute para o gol’, se acertar 10% já está ótimo.” Hoje, Alexandre é diretor de atendimento da agência Tudo, de publicidade e eventos, em São Paulo. “Se eu não fosse ativo, minha carreira teria estagnado.” A pesquisa da Dom Cabral mostra que há setores que exigem indivíduos com maior capacidade proativa que outros.

As áreas de bens de consumo e tecnologia requerem profissionais com muita iniciativa. “Aqui no Buscapé, nas áreas de criatividade e de negócio exigimos profissionais proativos. Nos setores de apoio, como o jurídico, cabem os reativos”, diz Romero Rodrigues, presidente do site Buscapé, em São Paulo. Para Romero, ser autodidata e curioso e reciclar os conhecimentos ajuda a fomentar a atitude proativa.

E como identificar um empregado ou candidato ativo? Há várias maneiras. Uma delas são os questionários de análises de fatos e experiências passadas. Eles são considerados a melhor ferramenta por envolver questões investigativas de cunho pessoal. Na cervejaria Ambev, o comportamento proativo, de propor soluções e questionar, é medido nas dinâmicas de grupo durante o processo de seleção. Nessa situação, os reativos tendem a assistir aos colegas mais desinibidos. Nesse momento, os recrutadores avaliam positivamente o candidato proativo.

Já o candidato reativo recebe dias depois um e-mail em que lê: “Obrigado por participar do processo”. Nem todo recrutador age assim. Na maioria das companhias, há lugar para pessoas proativas e reativas. “Uma das descobertas de nossa pesquisa é que há organizações e pessoas que sabem combinar movimentos proativos com movimentos reativos. Esses se dão melhor no longo prazo”, diz Leonardo, da Dom Cabral. Muitas vezes é preciso cumprir ordens e seguir as regras — é uma situação reativa. E tudo bem. O problema é ser 100% reativo.

O estudo dos professores da mostra que não há organização nem profissional que prosperaram quando deixaram a atitude proativa adormecer. Portanto, mãos à obra.

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