Edson Nishi, da BRQ: “Antes das reuniões, relembro momentos de carreira em que tive bons resultados” (Ricardo Benichio/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 20 de março de 2013 às 12h00.
São Paulo - Tímido desde criança, o paranaense Edson Nishi, de 32 anos, gerente de projetos da BRQ, empresa de serviços de TI, de São Paulo, sentiu na pele os reflexos da falta de habilidade para se comunicar. De postura retraída, ele tinha dificuldade de expor sua opinião em público.
Em reuniões, sempre escolhia o local mais distante para sentar, longe dos principais executivos. “Tinha medo de dizer o que eu pensava e isso me fazia muito mal”, diz Edson.
Ciente de que aquela atitude atrapalharia seu progresso na carreira, Edson buscou a ajuda de um coach. Com esforço, desenvolveu recursos para melhorar sua postura corporal e aprimorar a confiança, como a técnica da mentalização.
“Quando preciso participar de uma reunião, relembro um momento de minha carreira em que obtive bons resultados e aí memorizo aquela postura para que, quando for falar em público, eu possa buscar esse recurso”, diz.
Recentemente, Edson recorreu a essa técnica para se reunir com um cliente, um grande banco, com quem renegociaria um projeto. Cinco minutos antes da reunião, Edson recordou a fase em que jogava beisebol e era arremessador.
“Ali eu precisava finalizar uma jogada que só dependia de mim, era um momento em que todos estavam olhando para mim esperando uma decisão correta”, diz. Ele entrou na reunião sem medo. Conclusão? Negócio fechado.
A técnica da mentalização tem sido adotada por executivos interessados em aperfeiçoar a comunicação e o próprio desempenho. Ficou conhecida por ter sido bastante usada por atletas nos Jogos Olímpicos de Londres, em agosto deste ano. Nesse método, sugere-se que a pessoa imagine como vai ser a competição, de que maneira quer se comportar, o local da prova e como ela se sentirá no ambiente.
“Quando fazemos esse treinamento, tentamos colocar todos os sentidos da pessoa em alerta, como se ela realmente estivesse vivendo aquilo, se está frio ou calor e como está seu esforço físico”, diz Carla di Pierro, psicóloga esportiva do Comitê Olímpico Brasileiro, que trabalha com atletas como o tenista Thomaz Belluci e a maratonista Adriana Aparecida da Silva.
Segundo ela, quando se pensa na derrota, a mente faz o corpo colocar-se em uma posição de defesa, e isso é transmitido às outras pessoas. “É preciso muito exercício para transmitir uma imagem vitoriosa”, diz.
Dominar a linguagem corporal não é fácil. Vários passos são necessários para construir uma atitude de destaque no trabalho. Primeiro você confia em seu potencial e trabalha os pontos em que teve sucesso para se sentir confiante. Depois é hora de observar os gestos que costuma utilizar e a postura dos outros profissionais.
“Perceba como você se sente com os movimentos das outras pessoas”, diz a americana Sharon Sayler, autora do livro Seu Corpo Fala no Trabalho, lançado este ano no Brasil (Editora Vozes, 232 páginas, 25 reais). Segundo Sharon, cada gesto, postura, expressão facial e até mesmo o tom de voz permitem que os outros imaginem como somos. “Não podemos passar uma imagem positiva quando nossos olhos estão voltados para o chão e nossa voz está trêmula”, afirma.
Líder como exemplo
O teatro é outra maneira encontrada por profissionais para melhorar a linguagem corporal. Em 2011, o curso de teatro para executivos da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), em São Paulo, contou com 189 alunos. Este ano já são 250 — um crescimento de 30% —, e uma nova turma foi criada no início de novembro.
“A procura é muito grande”, diz a diretora do Teatro Faap, Claudia Hanra. O curso recebe executivos de finanças, TI, recursos humanos, consultores e até médicos.
Em comum, o mesmo objetivo: melhorar a comunicação para se destacar e liderar equipes. Isso porque com a atitude certa é possível transmitir a ideia de segurança e eficiência, o que alimenta um ciclo virtuoso de avanço na carreira: você esbanja confiança, as pessoas apostam em você e você cresce. Assim, ao adotar uma atitude vencedora, o chefe transmite confiança à equipe.
“Tento sempre manter a coluna ereta e a voz firme, e me preocupo em olhar as pessoas nos olhos”, diz Luna Matos, de 37 anos, gerente de farmacovigilância da Bayer HealthCare, que comanda uma equipe de 11 pessoas. Segundo ela, quando se tem um cargo de gestão é preciso prestar atenção em todos os gestos. “Para dar exemplo à minha equipe, preciso transmitir confiança”, diz.
Deixar de lado a postura curvada e nada confiante requer exercício diário. Uma atitude de sucesso é construída aos poucos por meio da experiência e do aprendizado constante. “Profissionais marcantes no ambiente de trabalho acreditam no que fazem, assumem riscos e conseguem administrar crises e conflitos”, afirma Célia Siqueira, especializada em neuropsicologia.
A postura pode determinar o quão longe poderá ir o profissional, desde que, claro, ele seja capacitado e qualificado tecnicamente. Invista no que dá confiança a você. Isso alimentará tanto a mente quanto o corpo e, de quebra, você pode crescer na carreira.