Fogo do Chão, Amazon, Nike, Apple são algumas das empresas que se destacaram na contratação de brasileiros nos EUA em 2022, segundo o estudo (Alexander Spatari/Getty Images)
Repórter
Publicado em 30 de setembro de 2023 às 12h07.
O sonho de morar nos EUA ainda faz parte dos planos de muitos brasileiros. Em 2022, a quantidade de brasileiros que receberam o green card bateu recorde e, pela primeira vez passou do patamar dos 20 mil. Ao todo, foram 23.596 emissões, segundo o departamento de Segurança Interna dos EUA. No ano passado outro recorde aconteceu: a quantidade de brasileiros que se naturalizaram americanos chegou a 12.983, obtendo legalmente a cidadania dos EUA.
O trabalho legalizado é um dos meios de conseguir o visto que pode gerar um green card ou cidadania e muitas empresas americanas estão apostando na mão de obra imigrante. Ao todo, 865 brasileiros foram contratados por empresas americanas em 2022, o que deixou o Brasil na 7ª posição entre os países que mais tiveram cidadãos indo trabalhar nos EUA, segundo pesquisa realizada pelo escritório de advocacia AG Immigration com base em informações obtidas junto ao Departamento de Trabalho estadunidense.
Os seguintes países lideram o ranking de cidadãos que vão trabalhar nos EUA, segundo o estudo:
São vários os motivos que levam os brasileiros a trabalharem nos EUA, de acordo com Rodrigo Costa, CEO da AG Immigration.
“A principal razão é financeira. Em razão da conjuntura econômica dos últimos dez anos, aproximadamente, muitas pessoas perderam a esperança e a perspectiva de ter uma carreira ou sequer um emprego no Brasil. Além disso, há a questão da segurança, já que nos EUA os níveis de qualidade de vida são, via de regra, muito melhores. É por isso, inclusive, que temos visto um número cada vez maior de brasileiro com ensino superior vindo para cá”, diz o executivo que reside na Flórida.
As contratações analisadas pela pesquisa foram feitas por meio de um processo chamado de “Certificação Permanente de Trabalho” (PERM), que é uma autorização que o governo concede para que as empresas possam preencher uma determinada vaga com profissionais estrangeiros.
Segundo a pesquisa da AG Immigration, a maioria dos brasileiros contratados por empresas americanas em 2022 foram trabalhar principalmente na Flórida, Califórnia e Massachusetts. Juntos, os três estados americanos respondem por 39% das admissões.
Abaixo as 20 cidades que mais contrataram brasileiros em 2022:
Fogo do Chão, Amazon, Nike, Apple são algumas das empresas que se destacaram na contratação de brasileiros nos EUA em 2022, segundo o estudo.
Veja a lista das empresas:
A ampliação do acesso ao ensino superior nos últimos 20 anos produziu uma quantidade inédita de bacharéis, mestres e doutores que, sem possibilidades de trabalho no Brasil, acabam indo para o exterior, com os EUA como principal destino, diz o executivo.
“O perfil do brasileiro na América está mudando: deixando de ser quase que totalmente composto por pessoas que vêm para cá ocupar os chamados subempregos para incluir um número cada vez maior de pesquisadores, executivos, consultores e empreendedores que exigem elevado nível de conhecimento técnico ou acadêmico”.
Embora não ocupe a primeira colocação como em 2021, em razão dos layoffs promovidos pelas empresas do setor, a área de tecnologia garantiu o 4º lugar da lista, com destaque para programadores e desenvolvedores. Profissionais da engenharia também se destacaram, especialmente os elétricos, mecânicos e industriais. Muitos deles vão trabalhar em empresas de tecnologia, como Google e Apple.
“O que temos visto muito é o favorecimento de profissionais de STEM, que a sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Nessa lista, entram os profissionais de programação, segurança da informação, pesquisadores, médicos, estatísticos e dentistas, por exemplo. Há uma política por parte do governo dos EUA de facilitar a entrada de talentos nessas áreas,” diz o CEO.
Por outro lado, outras ocupações recorrentes entre os brasileiros foram as de babá, diaristas e camareiras: “São profissões que exigem menor qualificação educacional, mas que estão pagando salários relativamente altos, dada a escassez de mão de obra nos EUA,” diz o CEO.
Abaixo, os cargos que mais foram ocupados por brasileiros em 2022:
Dos brasileiros contratados por empresas americanas em 2022, de acordo com a pesquisa:
Assim como na pesquisa passada, o curso superior mais comum entre os brasileiros empregados nos EUA foi o de Administração de Empresas:
“Existe uma escassez muito grande de profissionais em nível de gerência aqui nos EUA (o chamado middle management). Embora muitas vezes a graduação seja Administração, a especialização é em marketing, logística, finanças e vendas, e aí ele vai atuar nestas áreas nos EUA,” diz Costa.
O Marketing é outra formação que está se destacando no mercado americano:
“Em 2022, por exemplo, tivemos contratações de brasileiros formados em Publicidade e Propaganda por empresas como Twitter, Spotify, Sony, Citibank e a TBWA. Em geral, trata-se da transferência de talentos brasileiros que se destacam aqui e são promovidos ou transferidos para o escritório norte-americano,” afirma o CEO.
Em média, os brasileiros contratados nos EUA receberam um salário anual de US$ 72 mil – o equivalente a R$ 30 mil por mês, na cotação média dos últimos meses de cinco reais para cada dólar, segundo o estudo. Na pesquisa anterior, esses valores eram US$ 84 mil e R$ 35 mil, respectivamente. A queda foi provocada pelo número menor de contratações no setor de tecnologia.
Os menores salários identificados pela pesquisa foram para os cargos:
Por outro lado, a maior remuneração foi para um cardiologista contratado por uma clínica médica, com R$ 208.333 mensais. Em geral, os maiores salários entre os brasileiros foram para profissionais da Medicina, Administração, Engenharia e Economia.
Ao todo, a pesquisa da AG Immigration aponta:
“A medicina é a profissão que tem o processo de revalidação de diploma mais difícil aqui nos EUA. O que acontece é que muitos deles vêm como pesquisadores ou professores, sem necessariamente atuar na prática médica."
"E mesmo quando acontece de trabalhar como médico, costuma ser de maneira em que se dá permissões reduzidas de atendimento, como a obrigatoriedade de ele estar sob supervisão de um médico devidamente licenciado para atuar naquele estado, já que nos EUA cada estado tem seus próprios parâmetros para fazer essas definições”, afirma Costa.
O fato de o Brasil ficar em 7º lugar quando o assunto é contratação no mercado de trabalho americano é um fenômeno positivo, segundo Costa.
“Essa posição indica a nossa capacidade de produzir grandes talentos e profissionais de excelência em todas as áreas. É um reconhecimento do avanço promovido na educação superior nas últimas décadas. O que o Brasil deve discutir, enquanto nação, são políticas públicas de retenção desses talentos ou de repatriação deles após determinado período no exterior, para que contribuam com as suas indústrias e áreas de atuação,” afirma Costa.