Demissão por zoom: a demissão precisa ser feita individualmente (NurPhoto/Getty Images)
Luísa Granato
Publicado em 6 de dezembro de 2021 às 18h07.
Última atualização em 21 de dezembro de 2021 às 11h17.
"Se você está nesta teleconferência, você faz parte do grupo azarado que está sendo demitido", disse Vishal Garg, o CEO da empresa de hipoteca Better.com para mais de 900 funcionários em reunião no Zoom.
A curta reunião foi gravada e o vídeo viralizou na internet. No vídeo, o executivo justifica as demissões com alguns fatores, citando o mercado, eficiência, performance e produtividade.
De acordo com a CNN, o executivo acrescentou que os funcionários podem esperar um e-mail do departamento de Recursos Humanos com detalhes sobre os benefícios e indenizações a que terão direito.
Entre os demitidos estavam a equipe de recrutamento de diversidade, equidade e inclusão.
Além de presidente e fundador da Better.com, Garg também conta em seu currículo no LinkedIn que é um dos fundadores da companhia de investimentos One Zero Capital.
Ele nasceu na Índia e se mudou com a família para Nova York, nos Estados Unidos. Formado pela Universidade de Nova York, iniciou a carreira no banco Morgan Stanley.
E essa não é a primeira polêmica de sua carreira em relação a comunicação com seus funcionários. O executivo teve um destaque negativo na Forbes por problemas no seu estilo de liderança. Em 2020, a revista obteve um e-mail enviado para a equipe em que Garg os chamava de “golfinhos burros.
“Vocês são LENTOS DEMAIS. Vocês são um bando de GOLFINHOS BURROS e... GOLFINHOS BURROS ficam presos em redes e são comidos por tubarões. ENTÃO PAREM. PAREM. PAREM AGORA. VOCÊS ESTÃO ME ENVERGONHANDO”, ele escreveu.
Para a maioria dos profissionais, o momento da demissão é difícil, mexe com a autoestima e traz insegurança para a vida financeira. Por isso, é necessário ter cuidado na hora de comunicar.
"É preciso ter respeito pelas pessoas, afinal, de uma forma ou de outra, elas contribuíram para o crescimento da empresa”, diz Fernanda Medei, CEO e fundadora da Medei, plataforma de gestão especializada em desligamentos.
Medei fala que, mesmo com o alto número de desligados, não existe justificativa para a situação de desrespeito.
“O que não deve ser feito durante uma demissão é expor o funcionário a situações vexatórias ou de desrespeito, mentir ou omitir sobre o motivo da demissão e não realizar um desligamento particular”, diz.
Segundo a CEO, além da indelicadeza em um momento difícil para os profissionais, o executivo ainda criou uma crise reputação para a empresa. E isso deve se tornar uma dor de cabeça para quem cuida da atração de novos talentos.
“Todos merecem ouvir e, acima de tudo, serem ouvidos e respeitados unicamente. Isso evita desgastes maiores do que o processo, que já é delicado, e que não seja formada uma grande massa de detratores da marca vindo de uma experiência como esta”, explica.
Não existe boa forma de demitir alguém, o processo é ruim para as duas partes. Então não vale cortar caminhos para dar a má notícia. A demissão na Better.com correspondeu a 9% da equipe, mas a notícia deveria ter sido feita em reuniões individuais.
“A condução individual de cada processo garante um fechamento de vínculo mais alinhado com a trajetória do funcionário em questão”, diz Medei.
Mesmo que o CEO da Better.com tenha citado benefícios estendidos para quem foi desligado, a especialista cita boas práticas que deveriam ter sido seguidas:
A transparência sobre os motivos da demissão também é importante. Em maio de 2020, o CEO e co-fundador do Airbnb, Brian Chesky escreveu uma carta aberta a todos os funcionários quando a startup teve que cortar 25% do quadro por causa da pandemia.
De início, Chesky deixa claro que a decisão não é um reflexo do trabalho das pessoas e finaliza a carta agradecendo aos demitidos:
“Eu realmente sinto muito. Por favor, saiba que não é sua culpa. O mundo nunca vai parar de procurar por qualidades e talentos que você trouxe para o Airbnb... que ajudaram a fazer o Airbnb. Eu quero agradecê-lo, do fundo do meu coração, por dividi-los conosco”.
O cuidado é importante não apenas para os demitidos; os líderes devem ser atenciosos também na hora de comunicar os fatos para quem fica. Tomar decisões difíceis e comunicar más notícias fazem parte das tarefas mais difíceis da liderança.
Para evitar crises como essa, os líderes precisam desenvolver suas habilidades interpessoais, o que vai além de ter uma visão técnica da estratégia do negócio. Esse treino podem começar antes de assumir o cargo, com feedbacks estruturados e a criação de desenvolvimento.
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