Tempos de processamento de visto para requerentes com experiência em IA deve ser simplificado (Freepik/Freepik)
Jornalista
Publicado em 12 de dezembro de 2023 às 14h22.
Última atualização em 12 de dezembro de 2023 às 14h23.
Em um primeiro esforço para regulamentar o uso da inteligência artificial, o presidente americano Joe Biden emitiu, em 30 de outubro, uma ordem executiva instruindo as agências federais a se envolverem em iniciativas relacionadas à segurança, inovação e avanço da tecnologia no país.
Dentre os oito principais pontos abordados no documento, que foi definido pelo vice-chefe de gabinete da Casa Branca como "o conjunto mais robusto de ações que qualquer governo no mundo já tomou em relação à segurança e confiabilidade da IA", estão o estabelecimento de novos padrões de segurança e proteção para a IA no território americano e a criação de diretrizes para a proteção geral dos consumidores.
Mas os norte-americanos não serão os únicos beneficiados pelas medidas propostas pelo governo. Isso porque, reconhecendo o papel significativo de imigrantes e estudantes internacionais no desenvolvimento da IA nos EUA, a ordem também traz um extenso conjunto de diretrizes para que as agências de imigração considerem novas formas de atrair e reter trabalhadores estrangeiros com domínio da IA no país.
Para cumprir as disposições relacionadas à imigração, o Departamento de Estado (DOS) e o Departamento de Segurança Interna (DHS) devem simplificar os tempos de processamento e facilitar a disponibilidade contínua de marcações de vistos para requerentes com experiência em IA ou outras tecnologias emergentes que desejem entrar no país para trabalhar, estudar ou realizar pesquisas na área. Em outras palavras: estudantes, pesquisadores e profissionais de IA podem ter o visto americano facilitado em um futuro próximo.
“A possibilidade de imigração para profissionais de tecnologia sempre foi mais abundante e, com o rápido crescimento da Inteligência Artificial, não nos surpreende que o governo norte-americano tenha saído na vanguarda dessa iniciativa. Os Estados Unidos entendem que a IA terá um grande impacto cultural e econômico e, por isso, se adianta em garantir que terá mão de obra qualificada para lidar com a questão”, analisa Gustavo Kanashiro, diretor de imigração da Fragomen, maior e mais antiga empresa de imigração do mundo, com presença em mais de 170 países.
O especialista lembra que a ordem executiva dá 90 dias para que os órgãos se adaptem e atendam ao pedido do presidente – e acredita que os benefícios trazidos por ela sejam semelhantes aos que já são oferecidos para profissionais de STEM (em português, Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
“Ainda não sabemos se haverá um novo visto criado para atender esta categoria, mas acreditamos que esses profissionais sejam incluídos nos processos que os outros profissionais de ciência, tecnologia, engenharia e matemática já se beneficiam. O país cria critérios específicos para que eles consigam autorizações de estudo, trabalho e residência de forma a garantir o desenvolvimento dessas áreas”, diz.
A decisão do governo americano não é à toa. Estudos recentes indicam que os imigrantes fundaram ou co-fundaram 65% das principais empresas de IA nos Estados Unidos – e que mais da metade dos estudantes de pós-graduação em tempo integral em áreas relacionadas à inteligência artificial no país são estudantes internacionais.
“Grande parte da tecnologia desenvolvida lá tem força de trabalho estrangeira. Não vamos esquecer que uma das pessoas envolvidas na fundação do Facebook era um brasileiro", lembra Diana Quintas, CEO da Fragomen no Brasil.
A executiva explica que as políticas de imigração aparecem na linha de frente como solução para um desafio enfrentado por diversos países desenvolvidos: preencher a lacuna entre os muitos postos de trabalho disponíveis e a falta de profissionais qualificados.
"As economias maduras compreenderam há bastante tempo que a imigração é uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento técnico e científico. Os Estados Unidos são conhecidos por suas políticas imigratórias criteriosas, mas são o país que mais oferecem vistos de estudantes e pesquisadores no mundo", diz.
Segundo o levantamento mais recente do Ministério das Relações Exteriores, os Estados Unidos são o país que possui a maior comunidade de brasileiros vivendo fora do país: são 1,9 milhões, de acordo com estimativas referentes a 2022.
“As economias que melhor se desenvolveram em tecnologia foram aquelas que entenderam que é preciso facilitar o acesso de imigrantes qualificados, afinal a tecnologia não tem cidadania e não tem fronteiras", finaliza Diana.