Neymar Jr em coletiva no Paris Saint-Germain (Christian Hartmann/Reuters)
Camila Pati
Publicado em 17 de julho de 2018 às 13h06.
O Futebol mudou. Mudou muito, como praticamente tudo no mundo. Estamos em 2018, tempo em que as mídias sociais alteraram o dia a dia de qualquer personalidade ali inserida.
Durante a Copa do Mundo, vários episódios trouxeram à tona uma reflexão: como a palavra pode construir ou destruir a imagem de um atleta, principalmente em tempos de péssima compreensão textual. É um verdadeiro paradoxo: o acesso democrático à informação, destituído da sensata compreensão do texto.
Como exemplo da importância do vocábulo escrito, vejamos um trecho do atleta Neymar, publicado em seu Instagram:
"Nem todos sabem o que passei pra chegar até aqui, falar até papagaio fala, agora fazer ... poucos fazem!! O choro é de alegria, de superação, de garra e vontade de vencer. Na minha vida as coisas nunca foram fáceis, não seria agora né !!! O sonho continua, sonho não ... OBJETIVO ! Parabéns pela partida rapaziada, vocês são F..."
Por ser um texto subjetivo, logo após uma dura batalha, a emoção é ainda mais acentuada. A pontuação fica em segundo plano, e a nítida vontade de desabafo engole sílabas. Quando assim for, um recurso textual coerente está na revisão. Rever, reler, apresentar a um possível assessor, para - enfim - publicar.
No parágrafo escrito por Neymar, também podemos perceber vários traços da oralidade (como as infindáveis reticências do "internetês" - vício terrível de muitas celebridades): "pra" não tem registro no Padrão de nossa Língua; "né"; a expressão da moda "F****" e as exclamações repetidas.
O fato é: um atleta profissional precisa respeitar a norma gramatical e ter um padrão na escrita? Não tenho dúvida disso: concordância, bom uso dos pronomes relativos, pontuação adequada e boa seleção da palavra (xingamentos não são nada elegantes) servem para evitar a compreensão dúbia, a falta da clareza, garantindo a organização do pensamento escrito e falado.
Há ainda um outro ponto: quanto mais é exposto um profissional, mais cuidado devem ele e sua equipe ter. Fama exige sim a constante atenção com a frase grafada, com a postura diante do microfone, pois infelizmente a fábrica da crítica segue (e seguirá a todo o vapor), pelo enorme poder de influência e exposição de uma pessoa assim.
Com um pouco mais de dedicação gramatical, o parágrafo ganha outro tom, organização, não agressividade e liderança:
"Como foi difícil chegar até aqui. Esse meu choro, de hoje, tem muita alegria, superação, garra e vontade de vencer. Ajudem-me com a crítica sincera; pretendo ser sempre melhor! Precisamos da união! Farei questão de ler cada comentário de vocês.
Na vida do brasileiro, nada é fácil. O sonho continua; sonho não: objetivo! Meus parabéns pela partida, rapaziada!"
Torço por Neymar. É um gênio da Bola, mas realmente precisa cuidar da palavra que lança. Não apenas Neymar, todos nós.
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Diogo Arrais
http://www.ARRAISCURSOS.com.br
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Autor Gramatical pela Editora Saraiva
Professor de Língua Portuguesa