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Da Redação
Publicado em 21 de junho de 2013 às 17h00.
São Paulo - No final do ano passado, a construtora WTorre, que tem sede em São Paulo, perdeu alguns profissionais para os concorrentes. A luz amarela acendeu e a WTorre tomou algumas medidas para segurar seus talentos. Uma delas foi a revisão salarial — 60% dos engenheiros e arquitetos, seus profissionais mais disputados, ganharam aumento.
“Sentimos o reaquecimento da economia e precisamos nos proteger do assédio”, diz Francisco Vieitiz, gerente de RH da WTorre. O que ocorre na construção civil, setor da WTorre, será a regra no mercado de trabalho neste ano. Depois de congelar vagas e planos de expansão em 2009, as empresas estão retomando seus planos de contratação.
Na prática, a caça aos talentos já recomeçou. “Nos últimos quatro meses, fizemos mais buscas que no restante de 2009”, diz Fernando Mantovani, diretor de operações da Robert Half, empresa de seleção de executivos com sede em São Paulo.
Quando há disputa por gente, as propostas de emprego pipocam e trazem oportunidades de crescimento de carreira. Valorizado, o profissional se vê diante de duas opções: aceitar o convite e mudar de empresa, ou ouvir a contraproposta do chefe e ficar, com algum ganho. Só que a hora de negociar o passe oferece riscos — e entendê-los pode ajudar você a fazer a melhor opção para sua carreira.
A ideia de uma negociação sugere que duas partes entrem em um acordo que seja satisfatório para ambos os lados. Mas, quando se trata de comunicar ao patrão uma oferta de trabalho, buscar um acerto pode ser um mau negócio.
Uma pesquisa sobre proposta de emprego realizada no mês passado pela Robert Half, que ouviu 650 profissionais e 300 empresas, mostrou que, diante de uma proposta salarial, patrão e empregado buscam coisas muito diferentes e, por vezes, inconciliáveis.
Enquanto 54% dos profissionais afirmam mudar de emprego porque veem poucas oportunidades de crescimento no trabalho atual, 55% das empresas tentam reter os profissionais oferecendo um salário mais alto — uma solução que pode mitigar a questão temporariamente.
“As empresas tentam segurar a pessoa oferecendo uma coisa que ela não quer”, diz Fernando, da Robert Half. Segundo a pesquisa, 69% dos profissionais recebem contrapropostas. “Quando se está desmotivado ou insatisfeito, aceitar aumento salarial só vai adiar o problema”, diz Fernando.
O gerente de projetos Mário Matos, de 29 anos, especialista de processos da operadora de celular Claro, em São Paulo, diz que ao longo da carreira só aceitou as contrapropostas que oferecessem um novo desafio ou um novo cargo.
“Nunca fiquei apenas pelo ganho financeiro”, diz Mário, que considera a atitude perigosa para a carreira. Ter um salário alto é bom, diz ele, mas pode representar um estímulo à acomodação. “O profissional acaba não conseguindo uma vaga com remuneração semelhante no mercado e para de crescer”, explica Mário.
A maioria das pessoas não se encanta com as contrapropostas. A hora da saída, segundo 54% dos entrevistados, não é apropriada para se obter um reconhecimento.
“Não acredito em contrapropostas”, diz Fabio Salvatore, de 34 anos, gerente de infraestrutura de TI da Cotia, empresa de comércio exterior com sede em São Paulo. Em sua carreira, Fabio já recebeu quatro propostas de emprego, todas recusadas. Numa delas, ficou em dúvida.
Sem revelar que tinha um convite, foi perguntar ao gestor se haveria oportunidades de crescimento para ele. Não recebeu garantia de nada, mas sentiu que poderia apostar. “Nem cogitei usar o convite para obter aumento ou promoção. Se tivesse de sair, apenas comunicaria minha saída com antecedência”, diz.
A defesa das empresas
Em geral, as boas companhias procuram minimizar os riscos de perder o funcionário praticando remuneração e benefícios competitivos com o mercado, além de tentar esclarecer quais são as oportunidades de crescimento que cada profissional pode ter. “Não podemos ficar apenas reagindo às propostas que aparecem”, diz Lílian Guimarães, vice-presidente de recursos humanos do banco Santander.
Mesmo assim, o assédio ocorre. E aí tem mais chance de receber uma contraproposta o profissional considerado talento. No final do ano passado, o Santander precisou se mobilizar para manter funcionários de uma área que vinha recebendo propostas de um concorrente. “A estratégia foi identificar aqueles que não gostaríamos de perder de jeito nenhum e ver o que eles queriam para ficar”, lembra Lílian.
Segundo a pesquisa, 38% das contrapropostas ocorrem porque as empresas consideram o funcionário uma peça-chave. O problema é que as outras razões para reter o funcionário revelam que as companhias fazem a contraproposta pensando no próprio umbigo — 31% tentam manter o profissional porque ele já conhece bem o negócio e 18% simplesmente porque não têm tempo de encontrar um substituto.
A pesquisa também revela que 36% das pessoas se arrependem de ter aceitado a contraproposta e que 37% acabam deixando a empresa nos 12 meses seguintes à decisão de permanecer. “Isso mostra que a contraproposta não resolveu o problema de insatisfação do profissional”, diz Fernando.
Riscos para você
Existem duas maneiras clássicas de o profissional queimar o filme enquanto negocia seu destino de carreira. Uma delas é se comprometer com a empresa que pretende contratá-lo e, depois de ouvir a contraproposta, voltar atrás. Essa atitude faz com que o outro lado — que tem pressa para fechar a vaga — perca tempo e, às vezes, dinheiro.
“Esse comportamento faz mal à reputação”, afirma Fernando. Outro erro comum é usar propostas de emprego com muita frequência para obter aumentos sucessivos. A prática vai irritar seu chefe e lhe conferir fama de mercenário. “A gente barra esse comportamento porque ele distorce a lógica da política de remuneração e pode criar problemas com outros funcionários”, diz Lílian, do Santander.
Vale lembrar que as expectativas e a cobrança são maiores sobre quem ganha mais, ainda que isso não seja alinhado no momento em que a pessoa aceitou a contraproposta. “Às vezes, o profissional não está preparado para dar essa resposta em termos de resultado”, diz Fernando.
A mais importante recomendação é ser honesto com todas as partes. Não assuma nenhum tipo de compromisso se estiver em dúvida. “Sua palavra é a coisa mais importante que você tem na carreira”, afirma Fernando. E só aceite uma contraproposta se tiver certeza de que ela cabe nos seus planos de carreira.
Se você ficar, será promovido para o cargo que gostaria? A empresa vai entregar para você o projeto que deseja? Pense nisso antes de atender à próxima ligação.