Os Boomers se beneficiaram de uma variedade de mudanças estruturais no mercado de trabalho. Isso se dá às custas dos trabalhadores mais jovens, que não conseguem chegar aos cargos ocupados pelos trabalhadores mais velhos (TanawatPontchour/Thinkstock)
Escola de Negócios
Publicado em 10 de dezembro de 2023 às 09h30.
Quando os Baby Boomers começaram a entrar no mercado de trabalho na década de 1960, enfrentaram uma situação difícil: a enorme oferta de trabalhadores jovens superava a demanda por cargos para iniciantes, levando a uma desaceleração no crescimento dos salários dos trabalhadores mais jovens.
Para a sorte deles, a dinâmica do mercado logo mudou em seu favor.
Atualmente, os Baby Boomers ganham muito mais do que seus colegas mais jovens, o que é de se esperar, uma vez que, em média, trabalhadores mais velhos geralmente ganham mais.
Porém, o que surpreendente é que a diferença salarial entre trabalhadores mais velhos e mais jovens hoje é maior do que quando os Boomers entraram no mercado de trabalho.
Na verdade, entre 1979 e 2018, aumentou em 61% a diferença entre trabalhadores com mais de 55 anos e com menos de 35 anos nos Estados Unidos.
Assim, por que os salários dos Baby Boomers não permanecerem baixos ao longo de suas carreiras? Ou seja, com os Boomers sendo uma coorte tão grande, por que não se depararam com o mesmo excesso de oferta (e pressão descendente sobre os salários) à medida que passavam para cargos de nível médio e sênior?
Um novo estudo realizado por Nicola Bianchi, professor assistente de estratégia da Kellogg, e Matteo Paradisi, do Instituto Einaudi para Economia e Finanças, mostra o motivo de tudo isso.
Em suma, os Boomers se beneficiaram de uma variedade de mudanças estruturais no mercado de trabalho.
Essas mudanças, como atraso na aposentadoria, o alto custo da mudança de emprego e o crescimento estagnado da empresa, têm beneficiado os trabalhadores mais velhos, mantendo-os em posições mais bem remuneradas por mais tempo.
Isso se dá às custas dos trabalhadores mais jovens, que não conseguem chegar aos cargos ocupados pelos trabalhadores mais velhos. Em vez disso, os jovens ganham salários mais baixos, enfrentam crescimento lento na carreira e passam por mudanças de emprego mais frequentes.
"Sabemos que a demografia dos trabalhadores mudou — a força de trabalho ficou mais velha — mas não se aplicou à dinâmica normal de oferta e demanda", diz Bianchi.
"Na verdade, ocorreu o contrário. E é devido às mudanças macroeconômicas, não necessariamente decorrente de mudanças demográficas".
Essas mudanças podem representar desafios para as empresas que procuram recrutar e reter trabalhadores jovens, uma vez que, muitas vezes, não podem oferecer altos salários e o potencial de progressão de carreira almejada.
"Nos próximos anos, esse será um dos maiores desafios que as empresas enfrentarão", diz Bianchi.
Bianchi, que é economista trabalhista, interessou-se em estudar a questão da transformação demográfica da força de trabalho depois que a Itália aumentou a idade de aposentadoria para 67 anos em 2011.
A mudança, destinada a reforçar o sistema de pensões do país, refletiu o envelhecimento da força de trabalho em todo o mundo.
Na Itália, entre 1985 a 2019 a idade mediana dos trabalhadores aumentou 19%. E, como nos Estados Unidos, à medida que a idade mediana da força de trabalho ficava mais velha, o mesmo acontecia com os salários dos trabalhadores mais experientes.
Durante esse mesmo período, os trabalhadores italianos com mais de 55 anos ganharam enormes aumentos salariais médios — 33% para pessoas de 56 anos e 53% para pessoas de 65 anos. Os com menos de 35 anos, no entanto, viram um crescimento salarial de apenas 14%.
A diferença nos salários semanais médios entre trabalhadores com mais de 55 anos e aqueles com menos de 35 anos apresentou um aumento espantoso de 96%.
Na verdade, o que se descobriu, de forma geral, é que os trabalhadores mais velhos tiveram um aumento desproporcional nos salários nos países de alta renda em todo o mundo.
"Sabíamos que, para explicar esse fenômeno, algo novo estava acontecendo nos mercados de trabalho", diz Bianchi.
Uma explicação simples pode ser o aumento da desigualdade salarial - a distribuição desigual de salários entre grupos de pessoas, um fenômeno já documentado em países de alta renda.
Afinal, uma vez que os trabalhadores mais velhos estavam mais propensos a trabalhar em empregos bem remunerados, seriam os beneficiários naturais dos ricos se tornarem mais ricos.
No entanto, Bianchi levantou a hipótese de que esse novo fenômeno possa ser explicado pelo que chama de "repercussões negativas na carreira", em que um número cada vez maior de trabalhadores mais velhos com carreiras mais longas reduz o acesso a cargos mais bem remunerados para os trabalhadores mais jovens.
Para estudar o problema, Bianchi analisou três conjuntos de dados:
Juntas, essas fontes dispõem de informações sobre mais de 44 milhões de trabalhadores.
A análise de Bianchi apresentou um quadro de carreira gradativamente pior para os jovens trabalhadores.
Na Itália, por exemplo, entre 1985 a 2019, a probabilidade de os trabalhadores com menos de 35 anos receberem salários semanais no quartil superior diminuiu 34%. No mesmo período, a probabilidade de as pessoas com mais de 55 anos ganharem salários no quartil superior aumentou 32%.
Para descobrir o motivo de os trabalhadores mais jovens estarem em uma situação tão inferior em termos de salário, Bianchi decidiu quantificar matematicamente o impacto de várias explicações potenciais para a diferença salarial com base na idade.
Ele mediu as mudanças na diferença de distribuição (a forma pela qual os salários eram distribuídos entre todos os trabalhadores, independentemente do movimento de trabalhadores mais jovens e mais velhos ao longo da distribuição de salários), bem como mudanças na diferença de classificação (quantos trabalhadores mais velhos em relação aos mais jovens foram colocados em várias partes da distribuição salarial, independentemente da forma dessa distribuição salarial).
Se a diferença distributiva fosse responsável pela maior parte da diferença salarial por idade, isso corresponderia a uma explicação de desigualdade de renda.
Se, por outro lado, a diferença de classificação fosse o maior contribuinte, essa então seria a explicação de repercussão negativa na carreira.
A partir desse teste, ele conseguiu descartar a desigualdade de renda como a principal culpada.
Algo diferente foi levantando pela análise dos pesquisadores: a diferença de classificação foi o principal fator do aumento na diferença salarial entre trabalhadores mais velhos e mais jovens.
Ou seja, a diferença salarial pode ser atribuída ao aumento da propensão dos trabalhadores mais velhos a ocupar empregos na parte superior da distribuição salarial e vice-versa para os trabalhadores mais jovens — uma descoberta consistente com repercussões negativas na carreira, onde os trabalhadores mais velhos ocupam as vagas de emprego mais bem pagos que deveriam ser ocupadas pelos mais jovens.
"Os trabalhadores mais velhos acumularam mais promoções e ocupam as vagas há mais tempo, o que significa que os trabalhadores mais jovens não conseguem mais atingir esses níveis por não haver mais vagas disponíveis", diz Bianchi.
E porquê as empresas não simplesmente criam mais cargos de alto nível para acomodar os trabalhadores mais jovens em ascensão?
Os pesquisadores acreditam que antes da década de 1970, quando os Boomers entraram no mercado de trabalho, as empresas vivenciaram um crescimento maior do que hoje, levando a mais vagas abertas nas altas hierarquias corporativas.
Aos poucos, os Boomers ascenderam a essas posições.
Embora as startups de alto crescimento muitas vezes acabam sendo a manchete do dia, a realidade é que hoje a maioria das empresas está amadurecida e se expandindo lentamente, levando a uma incapacidade de criar um maior número de cargos mais elevados.
Isso significa que os Boomers têm permanecido em cargos seniores desde o início dessa estagnação, o que Bianchi acredita já estar ocorrendo no final dos anos 1970.
A análise também descobriu que, ao longo do tempo, os trabalhadores com menos de 35 anos eram mais propensos a entrar no mercado de trabalho com salários progressivamente mais baixos e, em seguida, ver um crescimento salarial mais lento durante grande parte de suas carreiras.
Isso sugere que a situação não é simplesmente o resultado de a experiência repentinamente se tornar mais valorizada na força de trabalho, argumentam os pesquisadores.
Se os trabalhadores mais jovens estivessem sendo desproporcionalmente penalizados por inexperiência (em comparação com seus colegas mais velhos, que entraram na força de trabalho quando a experiência era menos importante), você esperaria vê-los ganhar salários baixos por um tempo, "mas em algum momento, deveriam ganhar mais porque estão ficando mais experientes", diz Bianchi.
"Porém, não vemos isso. Nos primeiros 18 anos de carreira, eles continuam perdendo. O crescimento salarial ao longo do tempo é pior do que costumava ser."
O problema para os trabalhadores mais jovens é exacerbado pelo fato de que, nas empresas mais bem pagas, a concentração de trabalhadores mais velhos aumentou ainda mais.
"Os trabalhadores mais velhos tendem a permanecer apegados a um trabalho por mais tempo se pagar mais, o que lhes dá uma enorme vantagem", diz Bianchi.
Isolados de empresas com altos salários, os trabalhadores mais jovens são relegados a empresas com salários mais baixos e precisam usar da estratégia de mudança de emprego para avançar na carreira.
Na Itália, a proporção de trabalhadores com menos de 35 anos que deixaram ou perderam um emprego aumentou de 27% em 1985 para 44% em 2019.
Mesmo assim, a mudança constante de emprego provou ser uma estratégia de carreira cada vez mais ineficaz para os jovens trabalhadores.
Os dados mostram que, ao passar de empresa para empresa, os ganhos financeiros dos trabalhadores italianos mais jovens também diminuíram 34% ao longo do tempo.
“Com o tempo, as mudanças de uma empresa para outra resultam em menores ganhos monetários", diz Bianchi. "Eles se tornam mais propensos a mudar de emprego e mais dispostos a receber menos."
Mas não estamos passando pela grande leva de aposentadoria dos Boomers? Será que essas questões se resolverão por si só quando esse enorme grupo de trabalhadores mais velhos se aposentar?
"Difícil dizer", diz Bianchi. "É complicado."
Primeiro, com o aumento da expectativa de vida, é natural que os trabalhadores mais velhos permaneçam em seus cargos por mais tempo, quer queiram ou precisem agir assim.
Além disso, na maioria das economias de alta renda, a menos que os trabalhadores permaneçam no trabalho por mais tempo os fundos públicos de aposentadoria não são sustentáveis.
Mesmo que tenhamos uma grande onda de aposentadoria, Bianchi acredita que esse congestionamento pode persistir porque os problemas não se limitam apenas à demografia, mas também dependem das tendências macroeconômicas, como a prevalência de empresas maduras com pouco espaço para adicionar mais cargos seniores.
Significa menos vagas para cargos de alto escalão no futuro previsível. E embora ter trabalhadores mais velhos seja algo positivo para muitas empresas, pois oferecem uma riqueza de experiência e são membros valiosos da empresa, isso pode levar a culturas e processos que alienam os trabalhadores mais jovens.
A longo prazo, a falta de capacidade de atrair (e de fomentar o desenvolvimento de carreira) trabalhadores mais jovens também é ruim para os empregadores, acredita Bianchi.
Afinal, as empresas podem se beneficiar das novas perspectivas dos trabalhadores mais jovens e da vontade de aprender novas habilidades.
Uma possível solução é dar subsídios às empresas para contratar trabalhadores mais jovens — uma questão que Bianchi está estudando no momento — mas, diz ele, "não há nenhuma solução fácil para esse problema".