A onda é impulsionada pelo zelo expansionista do príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman, cujos cofres estão cheios com as vendas de petróleo em meio à determinação em tornar a economia uma potência financeira (Sergio Moraes/Reuters)
Agência de notícias
Publicado em 26 de maio de 2023 às 08h45.
Mesmo com a comunidade financeira global diante de demissões e bônus mais baixos, vagas e salários no setor bancário continuam em alta em um lugar inesperado: Arábia Saudita.
A onda é impulsionada pelo zelo expansionista do príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman, cujos cofres estão cheios com as vendas de petróleo em meio à determinação em tornar a economia uma potência financeira. Veículos estatais como o Public Investment Fund (PIF), com mais de US$ 600 bilhões em ativos, aceleram as contratações em velocidade vertiginosa, muitas vezes recrutando funcionários de empresas estrangeiras sediadas no país.
Bancos de Wall Street também estão desesperados para se expandir no país, atraídos pela promessa de acordos ligados a uma tentativa de longo alcance de reforma econômica. Mas, no terreno, contratar tem sido desafiador.
Embora MBS, como o governante de fato é conhecido, tenha facilitado muitas regulamentações sociais, bebidas alcoólicas ainda são proibidas, enquanto relações extraconjugais e a homossexualidade permanecem puníveis como “crimes morais”. As regras severas e a perspectiva de um estilo de vida monótono em Riad muitas vezes fazem com que os expatriados relutem em se mudar. Ao mesmo tempo, há falta de profissionais experientes no país. Isso leva a uma guerra por talentos e eleva os salários, dizem banqueiros e headhunters.
A empresa de recrutamento Hays estima que a maioria dos profissionais do setor bancário na Arábia Saudita ganhe cerca de 20% a mais do que a remuneração oferecida para cargos equivalentes nos centros financeiros ocidentais. Executivos expatriados que desejam se mudar da vizinha Dubai para o reino podem pedir de 20% a 35% a mais, de acordo com a empresa de recolocação profissional Mark Williams. Contratações de nível sênior podem oferecer valores ainda maiores.
As vantagens oferecidas no mercado saudita variam. Os cargos de vice-presidente, normalmente um posto de nível médio para banqueiros na faixa dos 30 anos, pagam salário anual de US$ 225 mil a US$ 255 mil na Arábia Saudita, de acordo com uma pesquisa da Hays. O valor é cerca de 10% a 20% mais alto do que os salários de Londres nos principais bancos do mesmo nível, de acordo com um relatório de 2022 da Dartmouth Partners. Os bônus geralmente equivalem a mais de 100% do salário de um banqueiro em anos de bom desempenho.
Além disso, headhunters dizem que pessoas com menos anos de experiência podem conseguir um cargo mais alto e, portanto, uma remuneração mais elevada do que em centros financeiros maiores, e profissionais na Arábia Saudita ganham mais por meio de vários benefícios e isenção de imposto de renda.
MBS enfatizou que, se empresas internacionais quiserem fazer negócios no reino, precisam ter presença local. Uma regra recente também exige que companhias recrutem uma certa proporção de sauditas. Com muitos expatriados relutantes em fazer da Arábia Saudita seu lar, residentes acreditam ter um poder de barganha particularmente alto.
Executivos do alto escalão de dois bancos de investimento internacionais disseram ter rejeitado candidatos sauditas recentemente: os salários pedidos estariam entre os mais altos dessas empresas no mundo todo.
Durante anos, banqueiros e consultores preferiram viajar entre Dubai e o reino, pegando o voo de 2 horas para Riad no domingo de manhã e retornando na quinta à noite. Como a maior parte dos Emirados Árabes Unidos adotou recentemente a semana de trabalho de segunda a sexta-feira, o deslocamento não é tão fácil quanto antes e obriga muitos a trabalhar seis dias por semana.
Apesar de receberem pacotes de remuneração atraentes, muitos banqueiros de nível sênior preferem ficar em Dubai em vez de mudar suas famílias permanentemente para Riad, de acordo com vários executivos experientes que pediram para não serem identificados. Um banqueiro do Credit Suisse em Dubai, que falou sob anonimato, disse que rejeitou uma oferta do PIF poucos dias depois do acordo com o UBS por causa do estilo de vida saudita.
“Tornar-se um centro financeiro confiável levará tempo”, disse Robert Mogielnicki, acadêmico sênior residente do Arab Gulf States Institute, em Washington. “Instituições financeiras e profissionais querem ter certeza de que todas as reformas e decisões econômicas resultarão em um ambiente socioeconômico favorável no longo prazo.”