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Por que o mercado financeiro está perdendo seus executivos

Por ano, setor financeiro perde 10% dos seus executivos para outras áreas, segundo dados da consultoria Fesa. Entenda os porquês da migração

 Mercado financeiro: perda de executivos para outros setores é de 10% ao ano (Getty Images)

Mercado financeiro: perda de executivos para outros setores é de 10% ao ano (Getty Images)

Camila Pati

Camila Pati

Publicado em 15 de abril de 2013 às 14h10.

São Paulo – O mercado financeiro está perdendo seus executivos. É o que revela recente pesquisa feita pela Fesa. De acordo com dados da consultoria, a média de evasão no setor gira em torno de 10% ao ano.

Mais da metade de quem sai opta pelo mercado de bens de consumo. Segundo a Fesa, este setor respondeu por 56% das migrações entre 2011 e 2013. Já a indústria absorveu 28% dos executivos e o mercado de tecnologia ficou com 16% das recolocações. 

Para Renata Fabrini, sócia da Fesa, este movimento deve permanecer. “A tendência é que essa migração continue a crescer”, diz. 

Mas, o que tem estimulado os executivos do mercado financeiro a procurarem uma mudança de carreira? Confira os motivos citados pelas duas especialistas:

1 Mais oportunidades na economia real

A ascensão do mercado brasileiro, principalmente do setor de bens de consumo, é uma das razões, de acordo com Renata. “Temos um mercado doméstico em crescimento, com um movimento de profissionalização de empresas pequenas e médias”, explica. 

Essa profissionalização, citada pela sócia da Fesa, surge com a entrada de capital nas empresas por meio de fundos de private equity. “São empresas geralmente familiares ou comandadas por um sócio gestor desde o início que, com esse movimento de profissionalização, vão buscar novos presidentes e diretores financeiros no mercado”, afirma a especialista.

É aí que aparecem novas oportunidades para os executivos do setor financeiro. “São profissionais que conseguem fazer esta migração com certa tranquilidade, apesar da diferença de indústria”, explica.


2 Aumento de fusões e extinção dos bancos médios

A consolidação do setor financeiro no Brasil também é, em parte, responsável pela saída de executivos deste mercado. “Existe uma onda de fusões muito grande, que tem diminuído o número de posições nos bancos”, diz Maria Beatriz Henning, sócia gestora da Exceed Executive Search.

Em outros termos, embora a rentabilidade dos grandes bancos não caia, há menos vagas, explica a especialista. “A gente percebe que, todo ano, grandes bancos cortam posições”, diz.

“Houve o sumiço de bancos médios e consolidação dos grandes”, diz Renata. O período entre o fim de 2010 e 2013 - citado pela Fesa com alta da migração de executivos para outros mercados - coincide com cerco às instituições financeiras médias, a partir de intervenções do Banco Central e liquidações.

Há o caso do PanAmericano, no fim de 2010, Cruzeiro do Sul, Prosper e BVA em intervenção desde outubro do ano passado. E, com a desistência do grupo Caoa, do empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, de comprar o BVA, este deve ser o próximo banco a ser liquidado.

3 Aperto regulatório no setor financeiro e pacotes de remuneração mais enxutos

A falta de clareza sobre as reais perspectivas de médio e longo prazo na indústria de serviços financeiros é outro aspecto que tem influenciado executivos a abandonarem o setor.

“Há um cenário complexo de aperto da regulamentação e questionamentos sobre o modelo de remuneração dos executivos no mercado financeiro”, explica Renata.

De acordo com as duas especialistas, a indústria financeira também tem sofrido com crises. “A diminuição do pacote de remuneração vem desde a crise do mercado imobiliário nos Estados Unidos, passando pela crise dos derivativos até o escândalo da manipulação da taxa Libor (London Interbank Offered Rate), em Londres”, diz. “A crise diminuiu o volume de negócios e há mais controle por parte das agências regulatórias”, diz Maria Beatriz.

Lucros exagerados também ficaram no passado, diz Renata. “Estas crises resultaram em mais regulamentações, o que é certo, com maior pressão na hora de divulgar resultados, pois os executivos não podem mais ter lucros exorbitantes”, diz.

“Quando se olha o pacote de remuneração como um todo, percebe-se que caiu muito, embora não haja tanta alteração nos salários fixos pagos mensalmente”, diz Maria Beatriz, lembrando que é cada vez mais raro o pagamento integral imediato de bônus em dinheiro. 

A consequência é que com esta nova realidade do mercado financeiro, outros setores passam a ser mais atrativos. “Os profissionais pensam: será que vale a pena todo esse estresse, que existe no mercado financeiro, por esta remuneração?”, diz Maria Beatriz.

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