Travis Kalanick: executivo pediu demissão (Krisztian Bocsi/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 21 de junho de 2017 às 17h00.
Última atualização em 21 de junho de 2017 às 17h25.
Faz anos que a Uber domina as notícias, seja por seu estrondoso sucesso (são mais de 40 milhões de usuários em 500 cidades pelo mundo), suas novas empreitadas (como carros autônomos e até carros voadores), seus desafios (como a regulamentação do serviço, que em São Paulo foi elogiada pelo Banco Mundial) ou seus erros catastróficos.
Nos últimos meses, foi esse último tema que dominou a vida de Travis Kalanick, cofundador e a partir de hoje ex-CEO da Uber Technologies, criada em 2009 e avaliada em US$ 68 bilhões.
Tanto sucesso vem com enormes pressões de investidores – é a maior empresa privada mantida por venture capitalists do mundo –, grupo que em junho se juntou para exigir a renúncia do líder na esteira de uma série de escândalos, processos e problemas internos.
Só para se ter uma ideia do tamanho da confusão, a Uber está, ao mesmo tempo, tentando resolver conflitos sérios de bullying e assédio sexual, se preparando para um grande processo contra a Alphabet, empresa-mãe do Google, sendo investigada pelo governo americano e se recuperando de um vídeo devastador em que Kalanick aparece brigando com um motorista do aplicativo – tudo isso sem um Chief Operating Officer, Chief Financial Officer e, agora, sem CEO.
“Amo a Uber mais que tudo no mundo e, nesse momento difícil de minha vida pessoal, aceitei o pedido dos investidores para me retirar e para que a Uber possa voltar a construir ao invés de se distrair com outra briga”, escreveu ele num e-mail para a empresa, que tem 12 mil funcionários.
Famoso tanto pela ambição quanto pela volatilidade, Travis Kalanick assumiu um papel de liderança desde o começo da empresa.
Ultimamente, no entanto, seu jeito começou a fazer tão mal que uma investigação independente da Uber – conduzida pelo ex-procurador-geral dos EUA, Eric Holder, contratado pela própria startup – concluiu que sua autoridade deveria ser diminuída e a independência e supervisão do conselho, aumentadas.
Há uma semana, Kalanick decidiu pedir licença do posto e disse que buscaria ajuda para fortalecer sua capacidade de liderar.
A decisão não foi suficiente para aliviar a pressão e ele enfim se demitiu, embora contratualmente mantenha um nível de controle ainda desconhecido da empresa.
Apesar das polêmicas, a história de altos e baixos da Uber mostra que Kalanick tem muito a ensinar . A revista Inc. trouxe algumas lições de sua trajetória:
1. Quando errar, admita e peça e desculpas – rápido
Quando um post de uma ex-funcionária que descrevia assédios sexuais na empresa viralizou, Kalanick publicou no Twitter sua revolta com os envolvidos no crime: “O que foi descrito aqui é abominável & contra tudo que acreditamos. Qualquer pessoa que se comporte desse jeito ou pense que isso é OK será demitida”. A mesma coisa ocorreu após a divulgação do vídeo da discussão com o motorista: ele admitiu que o que ocorreu poderia ser uma oportunidade de reflexão para ele.
2. Peça ajuda objetiva de terceiros
Na esteira do post sobre assédio sexual, a Uber contratou a firma de Eric Holder para investigar suas práticas de maneira independente e fazer recomendações, que a empresa disse que acatará. Arianna Huffington, que faz parte do conselho, também foi convidada pelo CEO para participar das reuniões sobre problemas de cultura e disse que a companhia não toleraria mais “babacas brilhantes”.
3. Reconheça que você faz parte do problema e dê um passo atrás
Não há nada que Kalanick pudesse fazer para deixar mais claro que a Uber não vai voltar ao caminho de sempre do que se demitir.
4. Demita seus colegas se eles também fizerem parte do problema
Se quiser que sua empresa cresça e prospere, não tenha medo de cortar na carne. A Uber fez isso com pelo menos dois executivos de alto nível que agiram de maneira inapropriada e outros 20 envolvidos com assédio sexual e discriminação.
5. Olhe-se no espelho
Para muitos observadores, os problemas da Uber não são únicos. Estão, na verdade, enraizados na cultura do Vale do Silício, em que faltam mulheres e sobram atitudes sexistas e discriminatórias. Para enxergar que seria preciso se demitir para que sua empresa pudesse consertar seus problemas, Travis Kalanick se olhou no espelho e decidiu que era a melhor decisão que poderia tomar.
Agora com uma série de ideias para se aprimorar em mãos, a Uber, que segue muito poderosa, tem a chance de mostrar ao resto do mundo que é capaz de mudanças grandes e positivas.
Há quem veja paralelos com a história de Steve Jobs, outro líder volátil e famosamente retirado da Apple pelo conselho da empresa nos anos 1980. Uma década depois, retornou mais maduro e criou sucesso após sucesso até transformar sua companhia na mais valiosa do mundo.
Quem sabe um dia Travis Kalanick não faça algo parecido?