Rolls Royce: uma solução colaborativa de problemas? (Arnd Wiegmann/Reuters)
Luísa Granato
Publicado em 3 de novembro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 3 de novembro de 2018 às 06h00.
Washington - É o dia de contratação na fábrica de motores de aviões da Rolls Royce perto de Petersburg, na Virgínia, nos EUA. Doze candidatos são divididos em três equipes e recebem a tarefa de montar uma caixa. Doze funcionários da Rolls Royce estão ao redor deles, um designado para cada candidato, tomando nota.
A caixa é um acessório e o teste não tem nada a ver com programar ou reparar os robôs que fabricam peças de motor aqui. Trata-se da solução colaborativa de problemas.
“Estamos vendo o que eles dizem, o que eles fazem, a linguagem corporal da interação entre eles”, diz Lorin Sodell, gerente da fábrica.
Apesar de todas as maravilhas técnicas dentro desta instalação totalmente automatizada, aberta há oito anos, Sodell fala muito sobre habilidades interpessoais como resolução de problemas e intuição.
“Não há praticamente mais operações manuais aqui”, diz ele. As pessoas “não estão tão ligadas ao equipamento como no passado e têm muito mais liberdade para trabalhar em atividades mais importantes”.
Esse poderia ser o paradoxo da automação: a injeção de inteligência artificial, robótica e big data no local de trabalho está aumentando a demanda de engenhosidade das pessoas, para reinventar um processo ou resolver rapidamente problemas em uma emergência.
A nova mão de obra operária precisará de quatro competências essenciais “distintamente mais humanas” para a produção avançada: raciocínio complexo, inteligência social e emocional, criatividade e certas formas de percepção sensorial, de acordo com Jim Wilson, diretor administrativo da Accenture.
“O trabalho em certo sentido, e globalmente na manufatura, está se tornando mais humano e menos robótico”, diz Wilson, que ajudou a dirigir um estudo da Accenture sobre tecnologias emergentes e necessidades de emprego com 14.000 empresas em 14 grandes países industrializados.
Poucas narrativas na economia e na política social são tão alarmistas quanto a penetração da automação e da inteligência artificial no local de trabalho, especialmente na manufatura.
Os economistas falam sobre o esvaziamento do emprego de renda média. O discurso político nos EUA está cheio de nostalgia pelos empregos operários com salários altos. O governo de Donald Trump está impondo tarifas e reescrevendo acordos comerciais para incentivar empresas a manterem fábricas nos EUA ou até mesmo para trazê-las de volta para o país.
A dura realidade é que a automação continuará corroendo o trabalho repetitivo independentemente do lugar onde ele é feito. Mas também há um mito nessa narrativa, que sugere que os EUA perderam definitivamente sua vantagem. As usinas desocupadas no Sudeste e no Centro-oeste do país e as cidades em dificuldades ao seu redor, são evidências de como a tecnologia e a mão de obra barata podem destruir rapidamente setores menos ágeis. No entanto, isso não é necessariamente um prólogo do que vem aí.
A fabricação de ponta não envolve apenas a extrema precisão de um disco turbo alimentador da Rolls Royce. O processo também está avançando em direção à personalização em massa e ao que Erica Fuchs chama de "consolidação de peças" -- fabricar blocos mais complexos de componentes para que um carro, por exemplo, tenha muito menos peças. Essa nova fronteira geralmente envolve experimentação, onde os engenheiros aprendem por meio do contato frequente com a equipe de produção, o que exige que os trabalhadores façam novos tipos de contribuições.
“Esta é uma chance para os EUA liderarem. Temos o conhecimento e as habilidades”, diz Fuchs, professora de engenharia e de políticas públicas da Universidade Carnegie Mellon. “Quando você muda a fabricação para o exterior, produzir com as tecnologias mais avançadas pode se tornar inútil.”