Pesquisa mostra que mestade dos homens alvo de assédio prefere fingir que não percebe o que está acontecendo, uma forma de evitar ser visto como vulnerável. (Thinkstock/Divulgação)
Repórter
Publicado em 23 de setembro de 2024 às 14h29.
Homens e mulheres apresentam diferentes padrões de resposta ao assédio. Estudos indicam que as mulheres são mais propensas a buscar redes de apoio e desabafar com colegas ou companheiros sobre as agressões sofridas no ambiente profissional.
“Elas tendem a ser mais expressivas, denunciando o assédio com maior frequência”, afirma Luciana Veloso Baruki, auditora em fiscalizações de assédio no Ministério do Trabalho, advogada e médica pós-graduanda em saúde mental e psiquiatria.
Em contraste, uma pesquisa realizada pelos pesquisadores americanos, Michael E. Addis e James R. Mahalik, revela que metade dos homens alvo de assédio prefere fingir que não percebe o que está acontecendo, uma forma de evitar ser visto como vulnerável.
“Homens muitas vezes internalizam o medo de retaliação, especialmente se o assédio provém de uma mulher ou de colegas em posição inferior hierárquica,” afirma Baruki. “Esse comportamento é amplamente influenciado pela percepção de que reconhecer o assédio pode prejudicar a imagem de masculinidade e até sexualidade”.
Assédio moral no trabalho se refere a qualquer conduta abusiva que, de forma repetitiva e prolongada, causa humilhação, constrangimento ou isolamento ao trabalhador, degradando suas condições de trabalho, afirma Baruki.
“O agressor pode ser um superior hierárquico, colega ou até mesmo um subordinado. Esse comportamento inclui ações como gritos, ofensas, ridicularização, isolamento deliberado, sabotagem das atividades profissionais, disseminação de boatos, imposição de metas inatingíveis ou desvalorização contínua do trabalho”, diz.
A advogada, que também é médica especializada em psiquiatria, buscou no ramo jurídico e da saúde entender a origem e os impactos das doenças relacionadas ao mercado de trabalho.
"O assédio não é caracterizado apenas por gritos no escritório ou por telefone, mas também por ações que visam desqualificar a pessoa ou colocar em dúvida sua competência profissional, afetando diretamente seu equilíbrio emocional e capacidade de trabalho", afirma Baruki.
No mercado de trabalho, a médica Baruki reforça que há 4 tipos de assédio moral:
Esses tipos de assédio podem gerar diferentes consequências na vida do trabalhador, como psicológicas, físicas e profissionais, afirma Baruki. “O assédio pode ocasionar em problemas psicológicos como ansiedade, depressão e síndrome de burnout, problemas físicos como insônia, dores crônicas e distúrbios alimentares, e impactos profissionais como de produtividade, absenteísmo e até abandono do emprego."
No caso das mulheres, o assédio pode acontecer de uma forma mais sútil, ou seja, nem sempre tão explícito. Louise F. Fitzgerald, psicóloga americana conhecida por suas pesquisas na área de assédio no ambiente de trabalho e acadêmico, fez um estudo intitulado "Sexual Harassment: Review and Recommendations for Research and Intervention". A pesquisa reforça que o assédio com mulheres pode ser tanto direto quanto indireto, e envolve tanto gestos quanto palavras que criam um ambiente tóxico.
“Em muitos casos, o assédio vem acompanhado de humilhação e desvalorização sistemática do trabalho”, diz. “Mulheres em posições de liderança podem ser alvo de formas mais sutis de assédio, como a desvalorização constante de suas capacidades”, afirma Baruki que é auditora em fiscalizações de assédio no Ministério do Trabalho.
As estratégias para homens e mulheres enfrentar o assédio no trabalho podem variar. Mulheres tendem a ser mais ativas em denunciar, especialmente se houver redes de apoio organizacional.
“Em minha experiência, mulheres que acumulam fatores de discriminação, como negras, LGBTQIA+, gestantes, com filhos pequenos e chefes, têm maior necessidade de proteção e apoio institucional para enfrentar o assédio”, diz Baruki.
Já os homens, que em muitos casos optam por não reagir por medo de serem vistos como "fracos", podem usar os canais oficiais sigilosos da companhia, que segundo Baruki, é a melhor estratégia para a denúncia formal - independentemente do gênero.
“Criar um “dossiê” detalhado do assédio, incluindo mensagens, e-mails e outros registros, pode fortalecer a posição da vítima ao buscar ajuda. Redes de apoio dentro do ambiente de trabalho, como RH e testemunhas, também são essenciais”, diz Baruki.