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Por que a ONU precisa rever seu programa de estágios

Atualmente, os estagiários da ONU não recebem nenhum tipo de remuneração


	ONU: impor que os estagiários paguem os custos de vida, sem receber auxílio, acaba discriminando candidatos de países mais pobres
 (Meizahn/ThinkStock)

ONU: impor que os estagiários paguem os custos de vida, sem receber auxílio, acaba discriminando candidatos de países mais pobres (Meizahn/ThinkStock)

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Da Redação

Publicado em 29 de fevereiro de 2016 às 21h34.

São Paulo - Nesta terça-feira (1º), estagiários e jovens profissionais vão transformar a emblemática Praça das Nações, em Genebra, em um grande acampamento.

A manifestação é um jeito de chamar atenção para a política de estágios da ONU e de outras organizações internacionais.

"Queremos lembrar os líderes das Nações Unidas que o custo de vida em Genebra faz com que, para muitos candidatos, aceitar um estágio não-remunerado aqui seja impossível", contam os organizadores do evento.

No ano passado, o jovem da Nova Zelândia David Hyde acampou em Genebra, pois não tinha dinheiro para bancar a acomodação em uma das cidades mais caras do mundo.

Seis meses estagiando sem nenhuma remuneração em Genebra custa pelo menos R$ 43 mil, segundo cálculos feitos pelos próprios estagiários.

Em Nova York, outra sede da organização, as mochilas foram escolhidas para simbolizar as condições de vida difíceis que os estagiários encontram enquanto estão prestando serviços à ONU.

A data coincide com o Zero Discrimination Day (Dia Sem Discriminação, em tradução livre), data celebrada pela ONU e por suas agências.

Na primeira quinzena deste mês, também se reúne o comitê que cuida do orçamento da ONU, ou seja, quem poderia mudar a situação.

Atualmente, os estagiários da ONU não recebem nenhum tipo de remuneração. Os candidatos aprovados devem bancar, além do custo de vida na cidade onde são alocados, outras despesas como seguro médico, passagens e gastos com vistos, segundo o próprio site da organização.

Segundo a revista Economist, a política foi adotada em 1997, quando foi aprovada uma resolução que proíbe o pagamento de qualquer pessoa que não seja funcionária da organização.

A política de estágios não-remunerados, no entanto, é mais antiga. Um levantamento conduzido pela Economist encontrou registros de estágios não-remunerados desde 1970.

"É claro que a política de estágios da ONU parece ser algo pequeno, se compararmos às grandes emergências globais que vemos hoje", explica Matteo De Simone, ex-estagiário de uma organização internacional e um dos idealizadores da campanha Fair Internship Initiative (Iniciativa por Estágios Justos, em tradução livre).

"No entanto, isso é apenas a ponta de um iceberg,que aumenta a desigualidade entre aqueles que têm direitos e aqueles que não, aqueles que têm seus direitos reconhecidos e aqueles que são vistos como mão de obra gratuita".

Além disso, o fato de impor que os estagiários paguem os custos de vida, sem receber nenhum tipo de auxílio, acaba discriminando, quase que automaticamente, candidatos de países mais pobres.

"A ONU não aplica de forma consistente, em seu próprio ambiente, seus valores centrais", critica Matteo, se referindo à Declaração dos Direitos Humanos, que garante remuneração a quem trabalha.

"Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de proteção social."

"Nós achamos que a ONU deveria ser parte da solução para a desigualdade global, não parte do problema", finaliza. Mudar a política de estágios, segundo a campanha, faria com que a ONU acabasse com a lacuna entre teoria e prática.

Atualmente, segundo estimativas da própria campanha, cerca de 80% dos estagiários da organização vêm de países ricos.

Uma pesquisa conduzida no ano passado pela Fair Internship Initiative mostrou que entre 500 estagiários da organização, 78% contavam com o apoio financeiro da família.

"Apoiar que jovens qualificados trabalhem na ONU, independente de sua origem geográfica e socioeconômica, é um jeito de aumentar a representatividade do seu quadro de funcionários, mas também de democratizar as organizações internacionais", afirma Matteo.

Como apoiar?

Além dos protestos organizados in loco, os organizadores da campanha criaram uma iniciativa no Thunderclap.

Funciona assim: Quem quiser apoiar a causa entra na página da campanha e escolhe com qual rede social quer se manifestar (Facebook, Twitter ou Tumblr).

No dia 1º de março, será disparada, automaticamente, uma mensagem nas redes de todos aqueles que se engajaram na campanha. Com isso, os organizadores pretendem aumentar o alcance global do projeto.

"#DiscriminaçãoZero também significa oportunidades iguais na ONU. Eu apoio a Fair Internship Initiative"

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