Jovens: 19% dos líderes acha mais comum demitir profissionais da Geração Z (We Are/Getty Images)
Repórter de Carreira
Publicado em 28 de abril de 2023 às 07h01.
Última atualização em 30 de abril de 2023 às 12h37.
No começo dos anos 2010 eram os millennials que estampavam capas de revistas e ganhavam a pecha de "mimados e narcisistas". Agora, é a vez dos seus sucessores, os jovens da Geração Z, protagonizarem a batalha de gerações no ambiente de trabalho.
Pelo menos é isso que mostra uma pesquisa da plataforma de currículos ResumeBuilder.com que apontou que 74% dos líderes americanos acreditam que a geração Z, de jovens nascidos entre 1997 e 2012, é a mais difícil de se trabalhar em comparação com profissionais de outras idades.
O estudo, que ouviu 1 mil gerentes e líderes empresariais nos Estados Unidos, apontou que entre os motivos que tornam os GenZ mais desafiadores segundo os líderes está: a falta de habilidades tecnológicas (39%), a falta de motivação (37%) e o desengajamento (37%).
Dos entrevistados que acham os GenZ mais difíceis de se trabalhar, 34% disseram que preferem ter como colegas de trabalho os Millennials, outros 30% disseram que preferem trabalhar com a GenX e 4% preferem os Baby Boomers.
Entre os motivos que levam a preferência pela Geração Y está o fato de que eles são mais produtivos (44%) e possuem as melhores habilidades tecnológicas (42%). Já entre os líderes que optam por trabalhar com os GenX apontam a maior honestidade (46%) e produtividade (42%) como razões para a escolha.
O conflito de gerações se reflete na rotatividade dos trabalhadores da Geração Z dentro das empresas. Entre todos os respondentes, 19% afirmaram que acham muito mais comum demitir profissionais dessa faixa etária. Outros 46% dizem que é um pouco mais comum.
Muitas vezes a demissão ocorre antes mesmo do tempo de experiência: 20% dos líderes demitiram um funcionário da Geração Z uma semana após a contratação e 27% dentro de um mês.
A resistência dos gestores à mudança que cada geração traz ao entrar no mercado de trabalho é natural — e essa não será a primeira nem a última vez que líderes reclamam da postura dos profissionais mais jovens. Porém, o contexto do ambiente de trabalho dos últimos anos traz alguns fatores que tornam o conflito de gerações atual mais pronunciado.
"Os GenZ entram no mercado com um olhar mais profundo sobre propósito, uma renúncia ao estresse e cobranças excessivas no ambiente de trabalho. Fora isso, demandam mais qualidade nas relações e mais conversas de carreira", diz Rafael Souto, CEO da consultoria Produtive.
"Só que isso em um contexto em que as lideranças estão sofrendo com estruturas mais enxutas e se sentindo sobrecarregadas, sem conseguir dedicar o tempo necessário para esses rituais de gestão", afirma.
O especialista aponta que, apesar de difícil, é mais produtivo que os líderes tentem quebrar os estereótipos sobre os jovens e busquem maneiras de lidar com essas diferenças ao invés de reclamar ou demitir na primeira interação conflituosa.
"Essa parcela da população, em breve, será a maior parte da força de trabalho. Por isso, os líderes não podem ficar nessa postura reativa. A pesquisa mostra que os gestores estão rotulando esses jovens ao invés de procurar lidar com essa questão e com o novo olhar que eles trazem para o mercado de trabalho", diz.
Além da comunicação, o excesso de autoconfiança dos jovens é apontado por alguns como um fator de conflito no ambiente de trabalho.
“Já briguei mais de uma vez com um funcionário da Geração Z, porque como nossa empresa é online, eles acham que sabem tudo sobre o mundo digital e que podem me ensinar. Eles pensam que são melhores do que você, mais espertos do que você, mais capazes do que você, e vão falar isso na sua cara”, declarou Akpan Ukeme, líder de RH da empresa de entregas SGK Global Shipping Services para o site da ResumeBuilder.com.
Porém, Rafael comenta que, por mais irritante que seja lidar com esse tipo de atitude é, justamente, nessas horas que gestores devem se lembrar de que o seu papel é contribuir com a formação dos profissionais e oferecer os feedbacks necessários para que eles aperfeiçoem esses comportamentos.
"É algo típico esse excesso de autoconfiança nos jovens. Eles acreditam que dominam todos os temas, que vão ser CEOs daqui a pouco. Essa falta de noção faz parte da ingenuidade característica da idade. O líder, então, precisa assumir um papel de conselheiro e mostrar que a vida corporativa não é bem assim", afirma.
Por fim, é importante que as empresas e os RHs também estimulem momentos de trocas entre líderes e liderados, como fóruns ou mentorias, para aumentar a conexão entre eles e diminuir preconceitos. Além disso forneça ferramentas para os gestores se prepararem para lidar com a nova geração e condições para que líderes possam reservar momentos para conversas frequentes com eles.
"É importante que os líderes se voltem para a personalização e deixem de lado os rótulos e ideias pré-concebidas porque mesmo entre os jovens haverá necessidades diferentes. A diversidade está em entender que cada indíviduo é único, seja ele da Geração Z ou não", finaliza Rafael.