Professor em sala de aula (Tiago Lubambo)
Fernando Pivetti
Publicado em 27 de dezembro de 2016 às 06h00.
Última atualização em 27 de dezembro de 2016 às 06h00.
A educação brasileira foi uma das principais vítimas dos problemas econômicos enfrentados no país ao longo do ano. A crise, que promete se arrastar para 2017, trouxe uma série de cortes de investimentos para o setor, que historicamente já sofria com a falta de incentivos do governo.
Com o agravamento das questões econômicas, os velhos problemas da educação no Brasil estão cada vez mais longe de ter um fim. E essa condição pode ser observada desde as medidas de governo até no salários dos profissionais do setor de educação, que já são reconhecidos no mercado por estarem entre os mais baixos do país.
Um levantamento feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) a pedido de EXAME.com e divulgado há algumas semanas mostrou que, entre as 20 carreiras com as piores quedas salariais em 2016, metade delas são profissões da área de educação, em sua maioria professores.
Os professores de disciplinas pedagógicas do ensino médio, por exemplo, viram seus salários médios de admissão recuarem de R$ 1.913,80 em janeiro para R$ 1287,10 em outubro, uma queda de mais de 30% na renda que já era considerada baixa levando em consideração o custo de vida médio do brasileiro.
No top 5 da lista também apareciam outras três modalidades de educadores. É o caso dos professores do ensino fundamental com nível médio e superior de formação e os professores de Educação de Jovens e Adultos do Ensino Fundamental I. Respectivamente, essas carreiras tiveram uma desvalorização salarial de 29,6%, 21,5% e 21,0%.
Para Hélio Zylberstajn, coordenador do projeto Salariômetro da Fipe e responsável pelo levantamento, é possível destacar três prováveis justificativas que podem estar por trás da desvalorização salarial na educação. Veja a seguir:
A primeira delas é o corte nos investimentos do governo federal para os programas de crédito estudantil, como o Programa de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para todos (Prouni).
“O governo Dilma tinha uma grande parcela de gastos para financiar o ensino superior. Com a crise econômica e a necessidade de redução de gastos públicos, os custos e, por consequência, o tamanhos desses programas ficaram menores”, afirma Zylberstajn.
Em maio, o então governo provisório de Michel Temer congelou novas vagas para todos os programas de incentivo à educação até pelo menos o começo do próximo ano.
Em outubro, o Congresso Nacional aprovou, com um atraso de três meses, a liberação de crédito para o Fundo de Financiamento Estudantil. O atraso deixou as instituições de ensino superior sem pagamentos por quase quatro meses.
No caso do Programa Universidade para todos (Prouni), os cortes levaram o número de bolsas oferecidas no programa cair pela metade desde o começo do ano.
Segundo dados oficiais do Ministério da Educação, no primeiro semestre de 2016, o ProUni beneficiou 203.602 estudantes. Já no segundo semestre do ano, a quantidade de bolsas oferecidas ficou em 125.578.
Para Hélio, a queda no número de vagas para os financiamentos educacionais contribui para as reduções de custos das instituições privadas de ensino superior. Parte do impacto desses cortes é sentida nos salários de professores e funcionários das instituições.
Outro fator observado pelo coordenador do Salariômetro são os cortes nas despesas dos brasileiros durante períodos de crise.
Nos momentos de orçamento restrito, muitas famílias tendem a priorizar alguns gastos na hora de realizar os cortes e, de acordo com Zylberstajn, algumas vezes os custos com educação são deixados de lado.
“Mesmo as famílias que não utilizavam os programas de incentivo do governo acabam cortando suas despesas com educação, como é o caso de escolas particulares”, completa.
Essa condição de cortes tanto do governo como das famílias afeta sobretudo as instituições privadas. Com a perda de alunos, a fonte de receita das escolas diminui, pressionando para novas reduções.
O coordenador do Salariômetro destaca que muitas instituições, buscando adequar seu balanço financeiro, demitem funcionários e, em alguns casos, recontratam outros profissionais com um salário mais baixo.
“Esse corte de custos pode incluir desde professores até coordenadores”, completa Zylberstajn. Segundo ele, existe uma possibilidade de que essa tendência de queda salarial na educação se estenda para o próximo ano, tanto por novos cortes do governo, quanto pelas dificuldades enfrentadas nas escolas e universidades.