Vídeo divulgado na internet: momento de lazer pode afetar o trabalho? (Twitter/Reprodução)
Luísa Granato
Publicado em 20 de junho de 2018 às 15h00.
Última atualização em 21 de junho de 2018 às 16h16.
São Paulo — Nesta semana, o país se escandalizou com um vídeo que circulava pela internet de torcedores brasileiros da Copa do Mundo assediando uma mulher russa com termos ofensivos de cunho sexual.
Usuários das redes sociais, como o Twitter, se mobilizaram para identificar os homens que aparecem no vídeo. Até o momento, os nomes e profissões de três deles foram encontrados: um advogado de Pernambuco, um tenente da Polícia Militar de Santa Catarina e um engenheiro Civil do Piauí.
O caso gerou repúdio dos Ministérios do Esporte, Turismo e Relações Exteriores, assim como chamou a atenção da Ordem dos Advogados do Brasil de Pernambuco (OAB-PE) e da PM.
Na era digital, em que tudo pode acabar na rede e as linhas entre público e privado são turvas, será que esse escândalo pode afetar a carreira deles? De acordo com a advogada Aparecida Tokumi Hashimoto, sócia do escritório Granadeiro Guimarães Advogados, comportamentos que ferem a moral e o código de ética profissional podem justificar uma demissão por justa causa.
“No caso do PM, a categoria tem todo um código de conduta e disciplina que deve ser seguido. E o comportamento dele no caso é contrário a sua profissão, que visa defender o direito individual. É ainda mais grave por ocupar um cargo público. O advogado também tem um código de ética próprio, que deve seguir na vida pública e privada”, explica a advogada.
Na terça-feira, a Polícia Militar de Santa Catarina decidiu instaurar processo administrativo disciplinar contra o tenente, que pode levar ao seu desligamento da força. A Comissão da Mulher Advogada e a OAB-PE publicaram uma nota de repúdio pelos atos do advogado.
“A preconceituosa atitude é causa de vergonha para todos nós, brasileiros, e vai na contramão do atual contexto de luta contra a desigualdade de gênero”, fala a nota.
As empresas também precisam zelar por sua imagem, afinal o funcionário é como representante da organização assim como o comportamento dos brasileiros no vídeo mancham a imagem do Brasil no exterior. O assédio contra uma mulher quebra a confiança do profissional para lidar com colegas no ambiente de trabalho e com clientes, que podem preferir não trabalhar com a pessoa.
Comportamentos inadequados como esse podem ser usados para justificar um desligamento da empresa, mesmo quando acontecem durante as férias, em momentos de lazer ou pelas redes sociais, que fazem parte do âmbito privado.
A advogada dá como exemplo o funcionário que apresentar um atestado médico, mas publicar em suas redes sociais que está aproveitando aquele dia para o lazer. Ou que fora da empresa, em uma festa ou para amigos, vazar informações confidenciais da empresa. São duas situações da vida privada que afetam a empresa e resultam em demissão. Com a conduta negativa ou um ato criminoso, ocorre o mesmo.
A Copa do Mundo é um momento de comemoração entre as nações, mas existe um limite do que é brincadeira e o que é desrespeito. Segundo a advogada, o caso extrapola a liberdade de expressão por expôr a mulher russa à humilhação e ofensas.
Um dos homens identificados, em entrevista para o portal UOL, pediu "desculpas às mulheres ofendidas". Ele lamenta a repercussão do caso, mas justifica que o vídeo foi feito em clima de "festa e carnaval".
Um segundo vídeo que roda a internet com o mesmo tipo de conteúdo já levou a uma demissão. A Latam comunicou que o supervisor de aeroportos identificado em vídeo semelhante foi desligado da empresa.
"A LATAM Airlines Brasil repudia veementemente qualquer tipo de ofensa ou prática discriminatória e reforça que qualquer opinião que contrarie o respeito não reflete os valores e os princípios da empresa. A partir deste pressuposto, a companhia informa que tomou as medidas cabíveis, conforme seu código de ética e conduta", informa o comunicado.
Segundo reportagem do jornal Folha de São Paulo, esse tipo de assédio, e depois sua divulgação na rede, tem sido muito comum na Copa 2018. Torcedores argentinos e peruanos também recriaram a prática, usando a diferença linguística para humilhar mulheres estrangeiras na Rússia.