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Poder de adaptação (Leandro Fonseca)
Da Redação
Publicado em 29 de maio de 2015 às 16h32.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h42.
O momento de desaceleração econômica pelo qual o país passa obriga as empresas a repensar e a reestruturar rapidamente os modelos de negócios — e você já deve estar sentindo isso na pele. Afinal, uma das consequências é a exigência de que os profissionais se tornem velozes para se adaptar às mudanças com agilidade. Somem-se a isso as novas tecnologias (que não param de surgir e de se tornar indispensáveis) e está criado o desafio: ou aprendemos a ter mais flexibilidade para lidar com cenários diversos, ou vamos sofrer para sobreviver.
Ter um alto poder de adaptação é uma competência altamente valorizada no mercado de trabalho. Uma pesquisa desenvolvida pela Betania Tanure Associados, consultoria de carreira de São Paulo, feita em 2014 com 1.000 executivos, mostra que mais de 50% das companhias brasileiras veem a flexibilidade para resolver problemas como o principal fator que leva a uma promoção.
Mudar pode ser assustador, mas é bom porque a adaptação aumenta a velocidade de raciocínio, ajuda na tomada de decisão e torna as pessoas mais resistentes à frustração. “Quem desenvolve a flexibilidade enxerga as possibilidades trazidas pela crise em vez de se apegar ao desconhecido e não fica paralisado”, diz Patricia Cotton, especialista em transformação, do Rio de Janeiro.
Antes de se desesperar achando que sua carreira está correndo perigo, saiba que há ferramentas capazes de mudar comportamentos. “Estamos migrando da era do conhecimento para a era da criatividade, em que profissionais e organizações são capazes de inovar conectados às demandas reais do mundo”, afirma Patricia. Ter vontade e curiosidade de aprender é o primeiro passo para se engajar numa trajetória de mudanças — que será constante.
PARE DE RESISTIR
Os processos de adaptação, segundo a consultora Betania Tanure, passam por quatro fases importantes: “eu preciso fazer a mudança”, “eu quero fazer a mudança”, “eu sei fazer a mudança” e “eu faço a mudança” — na vida real, essas etapas não ocorrem tão sequencialmente. A percepção de que não se é valorizado pelas entregas, a redução de convites para reuniões, além da emissão de comentários desmotivadores diante das novidades (que costumam contaminar o ambiente) são sintomas típicos de pessoas resistentes a reestruturações.
A causa da apreensão pode variar. Muitos não se sentem desafiados ou precisam encontrar um propósito. Alguns são inseguros quanto às próprias competências. Outros temem que sua posição seja ocupada por gente mais jovem, disposta a receber salário menor. “Para não perder o bonde, é preciso refletir sobre a razão para a resistência e estruturar uma jornada de aprendizagem”, afirma Betania.
A visão paternalista de que a empresa deve resolver todas as questões dos profissionais não funciona mais, pois a instabilidade do mercado dificulta previsões para o futuro de qualquer companhia. Fazer projeções para cada funcionário, nessa realidade, é utópico. Daqui para a frente, é preciso entender que carreira é uma questão de responsabilidade individual — e que, para crescer, é necessário se adaptar a novos (e até impensáveis) cenários. “A flexibilidade será critério eliminatório para posições de liderança, especialmente em áreas como marketing, vendas e tecnologia”, diz Fabricio Velasco, gerente da Hays, empresa de recrutamento de São Paulo. Funcionários flexíveis são úteis em diversas áreas e podem sobreviver aos mais severos processos de reestruturação.
ESTABILIDADE X CRESCIMENTO
Entre a maioria dos profissionais, no entanto, o objetivo é alcançar a estabilidade no emprego. As transformações corporativas, nesse contexto, são vilãs. A cada programa de reestruturação implantado, estima-se que 33% dos empregados se declarem abertamente contrários e outros 33% apresentem receio, conforme revela uma pesquisa feita por Seán Meehan, professor de marketing e gestão do IMD, escola de negócios suíça. “A porcentagem de indivíduos avessos às transições está próxima dos 50%, já que muita gente não dá publicamente sua opinião”, diz Seán.
O especialista criou o conceito not in my back yard (Nimby) — “não no meu quintal”, em português — para explicar a reação negativa das pessoas diante de novos projetos. Quanto mais engessada for a estrutura hierárquica da organização, maior será a incidência de pessoas que usam a autoridade para barrar novas iniciativas — uma aparente tentativa de proteção do próprio poder, que pode, na verdade, colocar em xeque a progressão de carreira.
Atualmente, no Brasil, apenas 15% dos profissionais consideram seu emprego estável, como mostra uma pesquisa da Hays, empresa de recrutamento de executivos, que ainda revela que cerca de 60% dos funcionários não estão buscando novos desafios dentro de suas funções. Em consonância com esse comportamento, a pesquisa Talento Brasileiro, da Etalent, que entrevistou mais de 1,3 milhão de pessoas, mostra que 30% dos profissionais brasileiros desejam ter um trabalho organizado, com planejamento estruturado de crescimento.
Ainda sonhamos com o modelo de emprego que vigorava na década de 80. Mas essa preferência não combina com o momento atual, em que as empresas valorizam, em termos de cargos e salários, funcionários flexíveis, criativos e focados em resultados imediatos. “É de nossa natureza buscar o conforto, mas os profissionais que não acompanham as mudanças tendem a se marginalizar”, afirma Jorge Matos, presidente da Etalent, de São Paulo.
Muitos executivos se acomodam em atividades que dominam e que lhes trouxeram sucesso por um tempo. “Os que resistem às transições acabam presos em queixas e são preteridos nas promoções e constantemente lembrados nas demissões”, diz Luiz Edmundo, diretor da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), de São Paulo. Por isso é tão importante estar com a mente aberta para se adaptar — só assim você consegue encarar com leveza e eficiência as várias mudanças de cenário que vão, inevitavelmente, ocorrer ao longo de sua carreira.
Para se adaptar às novidades, Ricardo Sangion, de 39 anos, country manager da rede social Pinterest, costuma buscar na vida pessoal, nas experiências do passado e em conversas com pessoas próximas as referências para lidar com desafios que pedem flexibilidade. É o que tem feito no atual momento profissional, em que precisa transformar o Pinterest em uma rede popular. “Se surge algo novo, busco referências”, diz. A estratégia o ajudou a pensar em inovações para o Facebook, onde trabalhou em 2010, época em que a rede social era quase desconhecida aqui. Por causa de um site que desenvolvia por hobby, teve ideias para aprimorar o botão curtir.
QUANDO MUDAR É DIFÍCIL?
Quando vai contra seus valores. Isso já me fez deixar de seguir em frente em alguns projetos.
TRÊS CONSELHOS PARA QUEM PRECISA SE ADAPTAR
POR QUE A ADAPTAÇÃO É IMPORTANTE?
A empresa nunca vai se adaptar às suas necessidades. Você terá, sempre, de se preparar para um novo ambiente.
Aos 28 anos, Adriana Barbosa já teve várias carreiras: foi analista na consultoria AT Kearney, ajudou a estruturar a área de crédito estudantil na escola de negócios Ibmec e foi diretora de logística da loja online Mobly. Agora é diretora da Payleven, empresa de São Paulo que desenvolve tecnologia de pagamentos via cartão para pequenos e microempreendedores.
Esse é o maior desafio da carreira de Adriana. Não apenas por estruturar uma startup mas por desenvolver novas habilidades. “Como analista, olhava para cima. Agora preciso ser um modelo para a equipe”, diz Adriana. A necessidade de adaptação vem também do mercado em que atua. Tanto que, em três anos, a empresa já mudou o modo de atender os clientes algumas vezes: começou com e-mail e telefone, incluiu o chat e está trabalhando em uma versão beta do WhatsApp. “Cada mudança é um aprendizado”, diz.
COMO LIDAR COM O NOVO?
Com olhar crítico para procurar saídas com base em experiências. O importante é perceber que decisões que foram corretas no passado podem não ser apropriadas hoje.
TRÊS CONSELHOS PARA QUEM PRECISA SE ADAPTAR
POR QUE A ADAPTAÇÃO É IMPORTANTE?
É quase como Darwin e a evolução: aprenda a se inserir em cada ambiente para ter sucesso.
Além de se adaptar, é preciso ter coragem para mudar aquilo que não satisfaz mais. Foi essa a lição que Rafael Vettori, de 31 anos, aprendeu em sua trajetória. Fundador do Panda Criativo, plataforma digital de São Paulo que une projetos ligados à economia criativa, ele se formou em direito e estava seguindo uma trilha convencional. “Trabalhava em um escritório, ganhava bem e tinha plano de carreira”, diz Rafael. “Mas me sentia desmotivado.”
Tantas inovações acontecendo no mundo fora do escritório o levaram a romper e a buscar mudanças.Fez faculdade de artes cênicas, trabalhou como ator e produtor executivo de filmes e como analista na Box 1824, consultoria especializada em tendências — emprego que, aliás, o ajudou a ter a ideia de fundar seu negócio e de criar o Path, festival de música e tecnologia. “Ficava nervoso, mas a incerteza ajuda na transformação”, diz Rafael.
COMO SABER QUE ESTÁ NA HORA DE MUDAR?
Quando se faz algo só por fazer. O tempo é precioso para ser gasto em algo que não toque o coração.
TRÊS CONSELHOS PARA QUEM PRECISA SE ADAPTAR
POR QUE A ADAPTAÇÃO É IMPORTANTE?
Para se levantar mais rápido dos tombos. O mundo não é como a gente quer. Quem consegue se adaptar está na vantagem.
A flexibilidade, teoricamente, não cruzaria o caminho de Rodrigo Norimbeni, de 35 anos, gerente técnico que entrou, em 1999, como estagiário na Flexform, fabricante de cadeiras de São Paulo. Isso porque a empresa teve, durante anos, um estilo de gestão rígido, em que os funcionários não tinham muita voz. Mas tudo mudou em 2010, quando o fundador da empresa, Ernesto Iannoni, passou a cadeira da presidência para seu filho Pascoal, que quis transformar a Flexform em uma companhia horizontal.
A ideia assustou os funcionários, inclusive Rodrigo. “Foi uma mudança de paradigma muito grande”, diz Rodrigo. Na época, ele liderava uma pequena equipe e ficou ansioso sobre como esse novo modelo influenciaria sua maneira de gerir pessoas. “O que me ajudou na adaptação foi comprar a ideia de que aquela novidade seria melhor para todos”, diz. “Para mudar, você tem de acreditar.”
QUANDO MUDAR É DIFÍCIL?
Quando ninguém acredita. As dúvidas surgem, mas é importante ter pessoas que dão um alicerce.
TRÊS CONSELHOS PARA QUEM PRECISA SE ADAPTAR
POR QUE A ADAPTAÇÃO É IMPORTANTE?
Mudar tira você do lugar-comum. E sair desses limites é o que vai dar satisfação no trabalho.
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