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Da Redação
Publicado em 1 de outubro de 2013 às 16h18.
São Paulo - Em uma convenção recente de fim de ano, assisti a uma cena quase surreal. O executivo deu início ao seu discurso para os colaboradores com a seguinte mensagem:
“Conforme nossas previsões, terminamos o ano no vermelho”. E seguiram-se as explicações de praxe, como a crise, a retração do mercado, e por aí afora.
Os participantes abanavam a cabeça, concordando com as justificativas do chefe.
Na mesma semana, no encontro de outra empresa, presenciei um espetáculo com roteiro inverso. Seu presidente falou algo como:
“Conforme as previsões que fizemos, estamos terminando um ano difícil com resultados excepcionais”. Ele então passou a discorrer sobre as medidas que haviam sido adotadas. Então mostrou um gráfico com o crescimento do market share e, como bom líder, creditou o sucesso a todo o grupo, que comemorou com entusiasmo.
Apesar de serem opostos no conteúdo comunicado, os dois discursos tem uma coisa em comum: ambos começaram anunciando a confirmação de uma previsão. O difícil é saber até que ponto os resultados — ruins numa empresa e bons na outra — apenas confirmaram as previsões e até que ponto os resultados foram influenciados por tais previsões.
Previsões podem e devem ser feitas. Executivos preparados conseguem imaginar o futuro, tomando por base os acontecimentos passados. A essa prática costuma-se dar o nome em inglês de forecast. Os mais experientes também valem-se de suas impressões pessoais para aventar resultados futuros. A essas intuições dos mais vividos chamamos foresight — previsões baseadas em sentimentos.
Mas algum sábio já disse que a melhor maneira de prever o futuro é construí-lo, e não há, nessa proposta, nenhuma gota de otimismo nem de autoajuda barata. O sociólogo americano Robert Merton, Ph.D. por Harvard, que dedicou sua vida a estudar o comportamento organizacional, observando situações como as descritas no começo deste texto, chegou à mesma conclusão.
Ele é o autor da expressão “profecia autorrealizável”, para explicar a influência que uma visão do futuro tem sobre os acontecimentos que esse mesmo futuro trará. Portanto, ser realista sem deixar de ser positivo é o melhor conselho. Pratique-o!
Eugenio Mussak é professor do MBA da FIA e consultor da Sapiens Sapiens.