Pessoas usando máscaras andam pelas movimentadas ruas comerciais do centro de São Paulo: Brasil vive pico da pandemia neste mês de abril (Rodrigo Paiva/Getty Images)
Victor Sena
Publicado em 21 de abril de 2021 às 08h00.
Depois de um ano de pandemia, já é possível verificar mudanças em uma dupla que é chave para traçar o comportamento de funcionários em uma empresa: o engajamento e a resiliência.
O estudo Global Workplace Study, da ADP Research, investiga há décadas o status desses dois temas em profissionais ao redor dos países. Em 2020, a covid-19, o home office e o isolamento social influenciaram os dados.
Os dados de 2020 mostram que, durante a pandemia, funcionários que tiveram contato próximo com a covid-19 tinham 3,8 vezes mais chances de estarem classificados dentro do grupo de mais resilientes. Foram pesquisadas mais de 27 mil pessoas em 25 países, incluindo o Brasil.
Esse contato próximo pode ser definido de algumas formas como ter contraído a doença, alguém próximo no trabalho ou na família ter contraído.
É importante destacar que a pesquisa não afirma que há uma causalidade, mas uma correlação entre os grupos de mais resilientes e dos que tiveram contato próximo com a covid-19.
Na visão do instituto, essas duas características são duas faces da mesma moeda, e mostram o nível de proatividade dos funcionários e de como eles reagem frente aos desafios.
Entre os 25 países afetados, os brasileiros estão no TOP 3 de afetados. 56,2% tiveram alguma experiência pessoal com a doença, atrás apenas de Egito e Emirados Árabes.
"O número de pessoas resilientes é o dobro entre os altamente engajados e dos que só aparecem para trabalhar. Já quando a gente olha para os vulneráveis (opostos dos engajados), 80% estão dentro do grupo de baixo engajamento. Isso é algo interessante para o mercado porque muitas vezes não se enxerga o verdadeiro impacto do engajamento na equipe. Se você tivesse investido nele, teria mais resiliência para lidar com uma situação de crise como essa agora", explica Mariane Guerra, vice-presidente de Recursos Humanos da ADP na América Latina.
Como resiliência, o instituto define como a capacidade de resistir, se recuperar e superar as circunstâncias desafiadoras ou eventos no trabalho.
Entre as afirmações da pesquisa que mede a resiliência, os funcionários tiveram que classificar se concordam ou não com algum exemplos como: "Não importa o que mais esteja acontecendo ao meu redor, posso ficar focado em obter meu trabalho feito"; "Eu confio no meu líder de equipe e "Sempre acredito que as coisas vão dar certo".
No ranking de países que lista os profissionais por nível de resiliência, o Brasil está em 7º lugar, de 25. Em primeiro lugar, está a Índia. Por lá, 32% dos trabalhadores demonstraram resiliência no trabalho.
A pesquisa também mostra que o nível de engajamento do trabalhador brasileiro subiu de 14% para 18% entre 2018 e 2020. A melhora é considerável e coloca o país próximo dos mais engajados da lista, que são Índia, Arábia Saudita, Estados Unidos e África do Sul, que têm um nível que gira em torno dos 20%.
Na descrição da ADP, o engajamento é um estado mental que faz com que a pessoa entregue o seu melhor.
Para Mariane Guerra, esse aumento no Brasil pode ser explicado por medidas nos últimos anos que têm humanizado a gestão de pessoas nas empresas e as lideranças, o que ganhou peso durante a própria pandemia.
"A gente viu também que o trabalhador que confia no seu líder tem 12 vezes mais chance de ser engajado. Essa pode ser uma hipótese de por que esses números melhoraram. Temos exemplos de empresas e da liderança em se humanizar, se voltar para as pessoas, se acolher."