(Arquivo Pessoal/Divulgação)
Luísa Granato
Publicado em 15 de setembro de 2020 às 07h30.
Última atualização em 15 de setembro de 2020 às 08h04.
Se você quer formar um time altamente produtivo, não basta apenas contratar profissionais brilhantes. Após analisar por anos diversos fatores para determinar o que compõe um time verdadeiramente eficiente, os pesquisadores do Google descobriram que o segredo não está nos componentes das equipes, mas como eles trabalham em conjunto.
A pesquisa levou o nome de projeto Aristóteles, um tributo à frase do filósofo: “o todo é maior do que a soma de suas partes”. Foram analisados 180 times de engenharia e de vendas, com uma mistura de indicadores de alta e de baixa performance.
“A maior parte do trabalho é feito em times. Existe um mito em torno dos heróis ou gênios que desenvolvem as ideias do zero, mas o trabalho real é feito pelo coletivo”, comenta Adam Leornard, que trabalha com o desenvolvimento de lideranças no Google School for Leaders.
Essa escola da empresa de tecnologia ajuda a treinar os gestores da empresa, aplicando os conhecimentos adquiridos no projeto Aristóteles e no Projeto Oxigênio, que descobriu as características essenciais para uma liderança de alta performance.
Em entrevista exclusiva para a EXAME, ele comenta a característica mais importante da dinâmica de trabalho dos times de alta performance: a segurança psicológica.
“Em trabalhos que envolvem conhecimento, você contrata as pessoas pelo o que elas são. E se você as insere em um ambiente com baixa segurança psicológica, elas não se sentem seguras para serem elas mesmas, para assumir riscos ou discordar. Então, você tem essa inteligência em potencial que não é totalmente utilizada”, explica ele.
Acima de qualquer outra característica, esse foi o fator número um em comum entre as equipes de melhor perfomance no Google.
Leonard será palestrante de destaque no Kenoby Talks, evento online e gratuito sobre recrutamento e seleção que começa nesta terça-feira, 15. Mais de 25 mil pessoas já se inscreveram para assistir às palestras e ainda é possível se inscrever no site.
O evento dura três dias e também terá a presença de executivos da Pepsico, da Natura, do Mercado Livre Brasil, da Johnson & Johnson, da Suzano, da Workana, da Movile e muitos outros.
No dia 17, Leonard vai falar mais sobre o que torna o trabalho em equipe mais eficiente e o papel das lideranças em manter a segurança psicológica. Para o evento, ele disponibilizará materiais inéditos traduzidos para o português sobre o tema.
E os profissionais podem responder um teste para avaliar o fator de segurança psicológica em suas empresas: www.psychologicalsafety.org.
Para o especialista, os cinco pilares revelados na pesquisa do Google são essenciais para os grandes times. São eles: confiabilidade, estrutura/clareza, significado, impacto e segurança psicológica. O último, porém, ganha destaque por também ser o mais difícil de cultivar.
“A segurança se torna mais difícil por fazer parte de uma cultura. E mudar a cultura é o mais difícil. Os outros fatores podem ser resolvidos tendo uma boa gestão, com cargos e responsabilidades bem definidos, tarefas e metas bem priorizadas e uma estratégia clara”, fala Leonard.
Confira as dicas que o especialista do Google School for Leaders adiantou para a EXAME:
“O líder tem um grande papel na segurança psicológica. Todos têm seu papel, mas o líder tem um papel maior por seu poder e influência no grupo. E parte do que ele pode fazer é ser mais vulnerável. Muito do ensinamento da Brené Brown se coloca aqui: muitos gestores acham que precisam saber de tudo, mas diante de momento complexos é impossível saber tudo. Ser vulnerável e honesto ajuda o time a trabalhar junto”.
“Temos uma frase no Google que adoramos, é 'ser mais profundamente humano'. Quando falamos no futuro com robôs inteligentes, precisamos lembrar os líderes a não agir como robôs agora. É um tipo de humildade que precisa existir e honestidade. Duas grandes coisas que líderes podem praticar para que façam mais perguntas. Assim, eles não estão apenas dizendo o que os outros devem fazer, mas trazendo novas perspectivas para os problemas e mostrando que as ideias de todos podem ser ouvidas”.
“É muito importante pensar em como agimos durante uma reunião virtual. É preciso pensar e criar de maneira interativa, isso é parte da segurança: mostrar que há espaço para todos falarem e sentirem que suas perspectivas importam. O contrário torna as pessoas menos engajadas. Em grupos grandes, recomendo usar a função de chat na videoconferência. No dia a dia, reuniões menores servem para checar o clima e pesquisas rápidas ajudam a garantir que todos são ouvidos e entendidos”.
“Acredito que haverá mais flexibilidade. Muitos eram céticos de que o trabalho seria feito sem todos estarem no escritório, e foram provados errados de várias formas. Quando for seguro, muitos vão querer voltar. Mas com flexibilidade. Também vejo mais autonomia no trabalho. Uma das coisas que descobrimos sobre líderes é que o pior que podem fazer é micro gerenciar o trabalho. As empresas vão querer contratar pessoas mais independentes agora. O líder terá um papel mais inspirador, de remover obstáculos e oferecer ferramentas aos times. Outra coisa, o contexto continuará se tornando mais complexo, não se tornará mais simples. Os times ágeis e ser Agile se tornará mais importante para lidar com crises”.