Carreira

Oscar: Uma pessoa não deixa de ser talentosa depois da aposentadoria — e Miyazaki é prova disso

Aquela visão de uma pessoa aposentada com tempo de sobra e energia em falta é ultrapassada e precisa ser substituída por uma que amplia os horizontes dessa fase da vida

Hayao Miyazaki é um cineasta japonês de 83 anos que, mais uma vez, lançou uma obra que concorre ao Oscar de melhor animação (Daniele Venturelli / Colaborador/Getty Images)

Hayao Miyazaki é um cineasta japonês de 83 anos que, mais uma vez, lançou uma obra que concorre ao Oscar de melhor animação (Daniele Venturelli / Colaborador/Getty Images)

Sofia Esteves
Sofia Esteves

Fundadora e Presidente do Conselho Cia de Talentos/Bettha.com

Publicado em 9 de março de 2024 às 08h10.

Você não precisa conhecer esse nome, nem ter acompanhado o seu trabalho para ler este artigo. O que você precisa saber é que Hayao Miyazaki é um cineasta japonês de 83 anos que, mais uma vez, lançou uma obra que concorre ao Oscar de melhor animação.

Por último, você também precisa saber que ele fez tudo isso estando aposentado.

Na verdade, esse "feito" já se repetiu em outros momentos. Miyazaki anunciou a sua aposentadoria pela primeira vez nos anos 1990, mas voltou às telas algumas vezes com novas animações — o que deixou os seus anúncios de aposentadoria em descrédito.

Todo esse vai e vem e as notícias sobre mais um retorno do cineasta me fizeram pensar sobre a fama que a aposentadoria ainda tem. Estou me referindo àquela imagem equivocada de que uma pessoa aposentada não produz nada, como se só alguém “na ativa” pudesse ter uma grande ideia e desenvolver um projeto.

Inclusive, até essa noção de estar “na ativa” me soa estranha. Não estamos sempre, de alguma forma, na ativa? Para mim, a aposentadoria nunca foi sinônimo de alguém parado.

Apesar de pensar dessa forma, acho que a maioria ainda tem aquela visão mais “antiga” do ato de aposentar-se. Talvez, por isso, as obras do Miyazaki sejam interpretadas como uma “volta à ativa”: se ele produziu mais uma animação, é porque deixou a “vida tranquila da aposentadoria”.

O que quero dizer com tudo isso é que, na minha opinião, a visão sobre o ato de se aposentar precisa mudar. Aquela imagem de alguém aposentado acordando tarde, com uma agenda vazia, sem nada para fazer é ultrapassada.

Uma pessoa pode estar aposentada e, ainda assim, ser muito produtiva.

Ela pode ter saído de um cargo e, ao mesmo tempo, estar envolvida em outros projetos. Ela pode estar viajando mais, descobrindo novos hobbies e ter desacelerado o ritmo, e, ainda assim, tendo novas ideias e desenvolvendo outras atividades profissionais.

Aliás, no mundo atual, essa possibilidade será cada vez mais comum. Aposentar não tem que ser sinônimo só de parar de trabalhar: pode significar isso para algumas pessoas, que optam por viver outras experiências, mas pode significar também escolher quais serão os seus projetos, por exemplo.

Afinal, ninguém deixa de ter boas ideias e ter talento para desenvolvê-las só porque aposentou — e as obras de Miyazaki são prova disso.

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