Jacqueline Conrado, country manager da United Airlines no Brasil: “Tão importante quanto ter um norte para a carreira, é estar aberta a oportunidades que possam vir ao longo do caminho” (United Airlines/Divulgação)
Repórter
Publicado em 30 de outubro de 2024 às 18h13.
Última atualização em 4 de novembro de 2024 às 15h07.
Orlando, Flórida (EUA) - "Quanto mais você fortalece e exercita a autoconfiança, mais forte ela fica”, essa foi uma das lições que Jacqueline Conrado, compartilhou sobre a sua carreira. , diz Jacqueline Conrado, que aos 33 anos se tornou a country manager da United Airlines no Brasil – maior cargo no país, que responde diretamente para uma diretoria da América Latina. "Eu sempre quis entender o negócio como um todo e ver como minha área contribui para o crescimento da empresa", afirma a executiva.
Foi com esse pensamento que Conrado se tornou a terceira mulher a assumir o maior cargo da companhia americana no Brasil, que recentemente arrendou um espaço no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, e está atualmente avaliando seu potencial para a construção de um hangar.
Esse é só um dos avanços que acontecerá durante a gestão de Conrado, que ingressou como coordenadora de marketing na United Airlines em 2016 e, em um ano, foi promovida a gerente de marketing. O convite para ocupar o maior cargo de liderança no Brasil aconteceu em 2018 e desde então a executiva tem implementado inovações que já estavam em andamento como o atendimento via WhatsApp (que foi pioneiro no mercado brasileiro), a adaptação dos cardápios de bordo (incluindo pratos típicos brasileiros), e sob sua liderança a United Airlines se tornou a maior compradora de SAF (Combustível Sustentável de Aviação) se comprometendo com metas ambientais rigorosas, como a neutralidade de carbono até 2050.
Esses foram alguns dos avanços da companhia durante a gestão de Conrado, que começou a carreira na área de marketing marcada por muita determinação e vontade de viver um futuro diferente de seus pais.
Nascida na capital de São Paulo, Jacqueline é filha de uma dona de casa e de um metalúrgico, e desde cedo foi incentivada pelos pais a investir na educação como forma de abrir portas. “Sou da primeira geração da família a ingressar na universidade e brinco que nem todos os pais resolvem as suas frustrações de uma forma boa em seus filhos, mas os meus resolveram”.
As condições de vida na época não permitiram com que o pai, que tinha o sonho de ser engenheiro, e a mãe, que sonhava em trabalhar na área financeira, terminassem os estudos, mas a vontade de estudar e de construir uma carreira foi transmitida aos três filhos – inclusive para Jacqueline, que é a filha do meio.
“Os meus pais sempre falavam que eu e meus irmãos poderíamos ser o que quiséssemos e que devíamos ter independência financeira”, diz. “Não ter barreiras dentro de casa, me ajudou a criar ferramentas para que eu pudesse lidar com o mundo lá fora.”
O maior sonho de Conrado para a carreira era ser CMO, ou seja, continuar atuando na área de marketing no Brasil – mas o plano mudou quando foi convidada a ocupar o cargo de country manager, maior cargo na companhia no Brasil.
“Tão importante quanto ter um norte para a carreira, é estar aberta a oportunidades que possam vir ao longo do caminho. Vi que o novo cargo me daria uma visão muito mais completa do negócio e me ofereceria mais oportunidades”.
Atualmente, Conrado é a voz do Brasil para a companhia que tem sede em Chicago, nos Estados Unidos, mas por muito tempo ela, como profissional, não celebrava as suas conquistas.
"Eu não comemorei quando assumi esta cadeira, porque fiquei pensando nos desafios. Hoje, vejo como é importante celebrar nossas conquistas, afinal isso nos lembra de nossa capacidade", diz a country manager.
Esse reconhecimento, segundo a executiva, é essencial para fortalecer a autoconfiança e superar a síndrome de impostora, um desafio comum entre mulheres em posições de liderança.
Ao longo dos anos, a United intensificou os esforços para promover a equidade de gênero e a diversidade racial.
"No Brasil, 51% da liderança é composta por mulheres, incluindo posições técnicas, como a gerência do aeroporto do Rio de Janeiro. É uma área apaixonante e, para mim, promover oportunidades para todas as pessoas é um prazer”, afirma a executiva.
Para conseguir dar conta das tarefas do dia, Conrado encontrou no surfe um escape para promover o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. "Eu sempre incentivo meu time a encontrar atividades que lhes tragam prazer e renovem a mente. É crucial cuidar da saúde mental para enfrentarmos o ritmo acelerado do mundo de hoje."
Hoje a United Airlines conta no Brasil com mil funcionários com escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro.
A pandemia foi o desafio mundial que abalou diferentes setores, e o aéreo foi um dos mais atingidos entre 2020 e 2021. Em abril e maio de 2020, no auge da pandemia, a empresa teve uma redução drástica na malha internacional, operando apenas seis voos internacionais diários — um deles entre Brasil e Estados Unidos. Mesmo com a queda de receita e suspensão de novas contratações, a empresa manteve operações para apoiar repatriações e o transporte de cargas essenciais, como vacinas contra a Covid-19 e equipamentos médicos.
"Esse período foi uma lição sobre resiliência e inovação, tanto para mim quanto para a United”, diz Conrado.
Após a crise, a United Airlines aumentou sua oferta em 8% em relação a 2019 no Brasil, com mais assentos disponíveis em voos entre Brasil e Estados Unidos, acompanhando a alta demanda por viagens internacionais. Neste ano, já se falam sobre um novo hangar que será construído em Guarulhos. Conrado não abriu detalhes sobre o novo espaço, mas segundo o atual prefeito de Guarulhos, Gustavo Henric Costa, conhecido como Guti (PSD), o novo hangar deve gerar cerca de 1.300 empregos na cidade, sendo 800 durante as obras e mais 500 na operação. “O potencial de nosso aeroporto internacional é inegável e nossa cidade acaba sendo beneficiada com este tipo de investimento", diz o prefeito.
Os últimos resultados globais da companhia americana também são positivos. A United Airlines teve lucro líquido de 965 milhões de dólares no terceiro trimestre de 2024. No mesmo período, a receita da companhia aérea foi de 14,8 bilhões de dólares, 2,5% maior em comparação com o mesmo período de 2023.
Para Conrado, que passou pela pandemia e segue como country manager na United Airlines no Brasil, o autoconhecimento sobre o que faz de melhor pode fazer diferença em momentos de crise.
“Acredito que é muito importante saber o que fazemos com excelência, ou seja, o que fazemos acima da média. Isso é exatamente o combustível que vai nos levar a crescer na nossa carreira, no que queremos fazer e ser como pessoa e profissional”, afirma.
Nunca se falou tanto em autoconhecimento como agora e por isso programas de mentoria ganharam forças nos últimos anos e têm ajudado com o autoconhecimento e conexões estratégicas, que segundo Conrado, são importantes para qualquer profissional que busca crescer profissionalmente. "Ter uma rede de apoio ativa, com pessoas que realmente querem seu sucesso é fundamental”, afirma.
O medo tentou pousar a carreira de Conrado, mas ela decidiu apostar em um novo desafio com medo mesmo. Para ela, esse sentimento visto para muitos como algo ruim pode ser algo bom, desde que não impeça um profissional de fazer o que ele precisa.
“O medo tem um lado bom. Ele te ajuda a estar mais preparada, a ser mais cautelosa no sentido de entender como você vai impactar o negócio com o que você está fazendo.”
Conrado afirma que sentiu medo quando assumiu a cadeira de country manager, mas ele não a impediu de chegar aqui. “Em momentos de assumir novos cargos, olhamos muito para o que não temos e não para o que temos para contribuir, mas eu fui com medo mesmo”, diz a executiva. “Na real, ninguém está 100% preparado para nada, e a pandemia nos mostrou isso”, diz. “
O conhecimento contínuo, conhecido por lifelong learning, também é essencial para quem busca um voo mais alto, afirma Conrado que se tornou líder da companhia no Brasil aos 33 anos.
“Eu sempre fui muito interessada, não só pelo que eu estava fazendo em minha função ou pela minha área, mas eu tinha interesse em entender o negócio como um todo e qual era a minha contribuição nele. Acredito que isso fez com que eu chegasse no cargo de country manager no Brasil”.