Alunos da Wharton School, uma das mais respeitadas dos EUA: fama da universidade não pode ser único critério (Wharton School/Divulgação)
Talita Abrantes
Publicado em 24 de fevereiro de 2011 às 12h03.
São Paulo – Muitos brasileiros estão aproveitando os bons ventos da economia nacional para partir para um curso de MBA fora do país. No entanto, na hora de tirar esse plano do papel, ainda sobram muitas dúvidas sobre processo de admissão, estilo de ensino e, principalmente, diferenças culturais.
Para que você não caia nos erros do imaginário tupiniquim sobre esse tipo de programa, EXAME.com listou os seis mitos mais comuns sobre os cursos de MBA no exterior.
1. A marca da escola pesa mais no currículo
Um dos primeiros impulsos de todo brasileiro que decide rumar para um curso de MBA no exterior é restringir suas inscrições ao processo de seleção de uma dúzia de universidades. Geralmente, as que constam no topo dos principais rankings especializados – e, portanto, mais famosas.
A razão para isso é até lógica. De olho no mercado de trabalho brasileiro no futuro, os profissionais focam nas escolas mais conhecidas pelos recrutadores locais. No entanto, o ônus desse tipo de decisão pode ser alto.
A começar pelos tropeços para conseguir passar por todo o processo de admissão. Exatamente por figurar no topo dos rankings internacionais, instituições como Harvard, Stanford ou MIT são cobiçadas por pessoas do mundo todo. Em outras palavras, nessas escolas, a concorrência por uma vaga nos cursos de MBA é, quase sempre, mais alta.
Os poréns não param por aí. No dia-a-dia do curso, o que vale é o grau de afinidade entre o estilo da escola e o perfil e aspirações profissionais do aluno. Sem um saldo positivo nessa equação, o profissional pode não aproveitar o programa da maneira mais adequada.
“A grande vantagem competitiva de fazer um MBA fora do país é o contato com outras culturas”, diz Marcelo Ambrósio, sócio da MBA House. “O que importa é o quanto a instituição potencializa essa experiência internacional”.
2. Preciso de uma carta assinada pela presidente Dilma
Boa parte das escolas de negócios fora do Brasil exigem que os candidatos apresentem uma ou mais cartas de recomendação durante o processo de admissão. Para muitos, isso significa que essa é a chance de impressionar a banca com os nomes famosos da sua lista de relacionamentos. Certo? Errado.
Pedir para que a presidente da República assine uma carta de recomendação pode até deixar a banca de queixo caído, mas não é garantia de que seu nome será cotado para ocupar uma das vagas do curso de MBA.
De acordo com Ricardo Betti, sócio-diretor da MBA Empresarial, nessa hora, o ideal é seguir um raciocínio menos pretensioso: “A melhor carta de recomendação é aquela feita por alguém que conhece você, que sabe como é o seu trabalho”. Em outras palavras, seu superior direto.
Ou seja, pedir para que o presidente da empresa, que não lida com seu trabalho no dia a dia, não conta pontos positivos para a avaliação final do processo de admissão dos MBAs em escolas fora do Brasil.
3. Nota alta no GMAT é suficiente
O desempenho no Graduate Management Admission Test (GMAT) é componente obrigatório do dossiê exigido pelas escolas de negócios estrangeiras. O exame, composto por uma prova de matemática e outra de inglês, tem o papel de medir o nível de aptidão lógica e verbal do candidato a um curso de MBA.
“O GMAT funciona como uma espécie de indicador de futuro. Ela mostra o quanto o aluno tem chances de ser bem sucedido durante o curso”, diz Miriam Viniskofske, sócia da The Point Academic.
Apesar desses fatores, um bom desempenho no exame não é sinal certo de que a sua vaga no MBA é garantida. “A prova do GMAT é apenas um dado do processo. Uma nota ruim derruba seu nome na concorrência, mas uma nota boa não garante a aprovação”, diz Betti, da MBA Empresarial.
4. Só milionários têm chance
O custo anual dos cursos de MBA estrangeiros podem assustar muitos brasileiros por aí. Para se ter uma ideia, na Universidade de Harvard, esse valor pode chegar a 79.400 dólares, com valores de moradia e alimentação inclusos.
Diante desses números, a ideia de que apenas profissionais abastados teriam condições para encarar esse tipo de exigência financeira até faz sentido. No entanto, essa concepção não é verdadeira. “O candidato precisa apresentar um plano concreto e factível de como irá pagar o curso”, afirma Betti.
Há uma série de alternativas hoje disponíveis no mercado para cumprir essa exigência. Uma delas são as bolsas de estudo oferecidas por organizações sem fins lucrativos. No Brasil, duas entidades mantêm programas desse tipo: a Fundação Estudar, em São Paulo, e o Instituto Ling, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
Outra opção é pleitear uma bolsa de estudos junto às escolas de negócio em questão ou buscar uma linha de financiamento.
5. As notas que tirei na faculdade não valem tanto
Se você dedicou quase toda a sua trajetória profissional ao ambiente corporativo, provavelmente, já não se lembra mais do tipo de nota que tirava nos tempos de faculdade. No entanto, o seu grau de empenho durante o período da graduação será avaliado pela banca do processo de admissão das escolas de negócio estrangeiras.
Nesse sentido, a realidade brasileira é bastante diferente da experimentada em outros países. As empresas com operação no país, por exemplo, raramente exigem o histórico escolar durante o processo de seleção. O mesmo não acontece nos Estados Unidos, por exemplo. “Durante a faculdade, os americanos se preocupam em cultivar uma boa média de notas”, diz Daniel Corry, coordenador da unidade de Nova York da MBA House.
No entanto, de acordo com Vivianne Wright, sócia da MBA House, as notas do GMAT são exigidas exatamente para sinalizar o nível educacional do candidato. Se não fosse assim, segundo ela, seria impossível saber se o bom desempenho do aluno está ligado ou não à qualidade de ensino da universidade em que ele estudou.
6. Preciso ser poliglota
As notas nos exames de proficiência em língua estrangeira são outra exigência presente em quase todos os processos de admissão para cursos de MBA estrangeiros. De acordo com Vivianne, da MBA House, tanto a prova do GMAT quanto o TOELF (Test of English as a Foreign Language) requerem um nível de inglês mais acadêmico – habilidade que nem sempre é dominada por todas pessoas que conseguem se comunicar no idioma.
“No dia-a-dia dos cursos das melhores escolas, ter inglês fluente é obrigatório”, afirma Betti, da MBA empresarial. Isso porque, independente do estilo, os programas de MBA exigem uma participação ativa de todos os estudantes seja durante os estudos de caso ou trabalhos em grupo.
No caso de escolas que ficam em países cujo idioma oficial não seja o inglês, não é preciso bancar o poliglota. No entanto, segundo os especialistas, a instituição exigirá que o aluno estrangeiro faça um curso da língua local durante o período do curso.